Por Mike McRae
Publicado na ScienceAlert
Um tubarão com dentes do tamanho da sua mão teria que ser enorme mesmo. Mas quando os dentes são tudo que você precisa, você precisa pensar fora da caixa para descobrir como era o resto do monstro extinto.
Acontece que o terror pelágico conhecido como Megalodonte poderia ter se parecido um pouco mais caricatural do que Hollywood nos faz acreditar. Certamente era enorme – mas em relação ao seu comprimento impressionante, também poderia ter um focinho fofo e nadadeiras grandes e esvoaçantes.
Para ter uma noção melhor das proporções precisas do gigante extinto, os paleontologistas da University de Bristol e da Universidade de Swansea, no Reino Unido, se voltaram para os padrões de crescimento de seus parentes vivos mais próximos.
Você logo de cara pensa que isso significava coletar dados sobre tubarões brancos (Carcharodon carcharias). Afinal, esses predadores modernos são um ponto de comparação conveniente para um tubarão gigante que cruzou nossos oceanos por cerca de 20 milhões de anos, antes de morrer há apenas alguns milhões de anos.
A taxonomia ja é complicada o suficiente quando você tem corpos inteiros para trabalhar. Mas a cartilagem que forma os esqueletos de tubarão não permanece por muito tempo após sua morte, o que significa que os paleontologistas ficam com apenas dentes para basear suas estimativas.
E o posicionamento exato do galho do Megalodonte na árvore genealógica do tubarão é um pouco confuso. Originalmente, no final do século 19, o Megalodonte também foi classificado no gênero Carcharodon, ligado diretamente aos grandes tubarões brancos da família Lamnidae.
Isso levou a representações do tubarão como um tubarão branco, apenas alguns metros mais longo, atingindo de 15 a 18 metros do nariz à cauda.
Nem todo mundo estava convencido de que esta é uma comparação justa. Alguns acham que o formato dos dentes do animal indica que foi o fim da linhagem para a extinta família Otodontidae, que no caso faz parte do gênero Carcharocles, ou talvez Otodus.
Esta é a linhagem em que a equipe de paleontologistas baseou sua última avaliação, uma suposição que implica que o Megalodonte tinha uma linhagem um pouco mais complicada.
“O megalodonte não é um ancestral direto do tubarão-branco, mas está igualmente relacionado a outros tubarões macropredatórios como o tubarão-mako, o tubarão-salmão e o tubarão-sardo, além do tubarão-branco”, disse Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea.
“Reunimos medições detalhadas de todos os cinco para fazer uma possível descrição sobre o Megalodonte”.
Essas previsões foram baseadas em uma mistura de análises matemáticas escolhidas para resolver a questão de como características anatômicas como barbatanas, cabeça e cauda aumentam conforme o tubarão se expande em comprimento.
O que era fundamental para seus cálculos era a questão de como as proporções de tubarões semelhantes ao Megaladonte podiam ter se ajustado à medida que envelheciam.
Bebês humanos, por exemplo, não são exatamente adultos em miniatura. Um recém-nascido de 1,6 metro de altura não será contratado para ser gerente de banco, por mais sofisticado que pareça seu terno.
Os tubarões, por outro lado, poderiam tecnicamente se passar por adultos.
“Ficamos surpresos e aliviados ao descobrir que, na verdade, os bebês de todos esses tubarões predadores modernos começam como pequenos adultos e não mudam na proporção à medida que ficam maiores”, disse o paleontologista Mike Benton, do Universidade de Bristol.
Isso significa que eles podem pegar as curvas de crescimento de tubarões que se acredita serem parentes do Megalodonte e aplicá-las ao seu primo extinto, confortável que suas próprias nadadeiras, cabeça e cauda se expandam de maneira semelhante até seu tamanho final estimado.
Podemos agora imaginar um Otodus megalodon adulto de 16 metros de comprimento com uma cabeça que tinha quase um terço do tamanho de seu corpo inteiro, cerca de 4,65 metros, uma nadadeira caudal de cerca de 3,85 metros e uma barbatana dorsal de 1,62 metros.
Se você quiser alguma perspectiva, isso seria como estacionar três carros colado um na frente do outro e ficar em cima do carro do meio. O primeiro carro teria o comprimento da cabeça do tubarão e a altura em cima do carro seria a altura de sua nadadeira dorsal.
Para o autor principal Jack Cooper, um pesquisador que havia acabado de concluir sua pós-graduação em paleontologia na Universidade de Bristol, foi uma imagem empolgante de descrever.
“O Megalodonte foi na verdade o mesmo animal que me inspirou a seguir a paleontologia em primeiro lugar com apenas seis anos de idade, então eu estava muito realizado para ter a chance de estudá-lo”, diz Cooper.
“Esse era o projeto dos meus sonhos. Mas estudar o animal inteiro é difícil, considerando que tudo o que realmente temos são muitos dentes isolados”.
Se esta nova maneira de imaginar uma besta pré-histórica clássica é mais assustadora ou um pouco mais adorável, nós deixaremos com você.
Esta pesquisa foi publicada na Scientific Reports.