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O físico indiano que “criou” um buraco negro

Por Ramamurti Shankar
Publicado na OpenMind

Graças à universalidade das leis e dos fenômenos naturais, qualquer cientista das ciências “duras” – naturais e físicas -, onde quer que esteja, pode chegar aos mesmos resultados deduzindo as mesmas leis e fenômenos que outro pesquisador em sua área, mesmo em outro lugar no globo. No entanto, algumas vezes, a autoridade e o preconceito acadêmico podem obscurecer as coisas por um tempo.

Um exemplo conhecido é o do astrofísico Subramanian Chandrasekhar (1910-1995). Nascido em Lahore (Índia), era filho de um governante indiano e de uma mulher de alto nível intelectual, que sempre apostou numa educação primorosa para os seus dez filhos. Em 1930, ele se formou em física. Apenas um mês após concluir a graduação, ele conseguiu uma bolsa para fazer o doutorado em Cambridge. Até o momento, tudo estava caminhando bem, mas quando ele começou sua investigação, as coisas mudaram.

Quando ainda era um jovem estudante de doutorado em Cambridge, Subramanian Chandrasekhar deduziu que certos tipos de estrelas chamadas anãs brancas não podiam exceder cerca de 1,44 massas solares (o limite de Chandrasekhar). Caso contrário, elas entrariam em colapso devido à atração da gravidade. O conceito do colapso de uma estrela além do limite de Chandrasekhar foi um precursor do conceito de buracos negros.

Quando ele apresentou seus resultados em 1935 à Royal Society, o astrônomo mais famoso da Grã-Bretanha, Arthur Eddington (1882–1944), objetou violentamente à ideia, alegando que Chandrasekhar havia feito mau uso da mecânica quântica e que o comportamento que ele havia proposto para uma estrela era simplesmente absurdo.

Subrahmanyan Chandrasekhar, em seus primeiros dias na Universidade de Chicago. Crédito: Stephen Llewellyn.

Muitos físicos sabiam que o argumento de Eddington estava incorreto, mas não saíram em defesa de Chandrasekhar – alguns pensaram que era óbvio, enquanto outros tiveram medo de contradizer Eddington. Chandrasekhar deixou a Inglaterra (onde todas as portas estavam fechadas por conta disso) e migrou para os EUA para se tornar um dos astrofísicos mais influentes e respeitados do mundo. Seus resultados acabaram sendo universalmente aceitos e ele ganhou o Prêmio Nobel em 1983, mais de 50 anos após sua grande descoberta.

No final, o tempo concedeu-lhe a razão e seu legado científico não foi apenas reconhecido com o Nobel, mas também a NASA lançou um telescópio espacial que leva seu nome: o Observatório de Raios-X Chandra. Foi lançado em 23 de julho de 1999, alguns anos após sua morte. Parece feito de propósito, mas também, coincidentemente, Chandra significa “lua” em sânscrito.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.