Por Jacinta Bowler
Publicado na ScienceAlert
É reconfortante imaginar que com os telescópios espaciais e terrestres apontados para o cosmos, seríamos capazes de detectar qualquer asteroide com tamanho perigoso vindo em nossa direção a um quilômetro e meio de distância, com tempo de sobra para pintá-los de branco (sim, isso poderia ajudar a desviar eles da nossa direção) ou explodi-los.
Porém, para cada asteroide que observamos vindo em nossa direção, há uma boa quantidade que não enxergamos até que eles passem bem próximos de nós.
E mesmo para aqueles que conhecemos com bastante antecedência, ainda pode ser difícil determinar a probabilidade de uma colisão na Terra.
O asteroide 99942 Apófis é um desses asteroides, cuja órbita pode passar perto demais da Terra.
Descoberto em 2004, a bolota rochosa de 370 metros de comprimento está na lista Sentry da NASA – uma lista de asteroides que devemos ficar de olho. Embora os cientistas tenham eliminado qualquer chance do asteroide atingir a Terra durante seu próximo sobrevoo em 2029, eles não têm tanta certeza de que ele não vai atingi-lá em 2068, quando vier por aqui novamente.
Embora o risco do Apófis atingir a Terra em 2068 seja algo em torno de 1 em 150.000, um asteroide desse tamanho causaria uma explosão maior do que uma bomba atômica, por isso é melhor verificar os números.
E uma apresentação na conferência virtual da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Americana de Astronomia (AAS) provavelmente não vai fazer você dormir melhor à noite.
No mês passado, o astrônomo David Tholen, pesquisador da Universidade do Havaí (EUA), apresentou uma pesquisa dele e de seu colega Davide Farnocchia sobre a observação do asteroide por três noites em janeiro e uma noite em março.
Eles foram capazes de obter informações incrivelmente precisas sobre o asteroide e detectar a aceleração de Yarkovsky – o que significa que o asteroide irradia um calor mais forte em seu hemisfério voltado para o Sol do que seu lado sombreado, o que causa um impulso assimétrico, mudando ligeiramente sua órbita.
Quando você trabalha essa aceleração no modelo do asteroide, “isso basicamente significa que o cenário de impacto de 2068 ainda está em jogo”, explica Tholen em sua apresentação.
“Precisamos rastrear esse asteroide com muito cuidado – e, obviamente, a aproximação de 2029 é crucial para isso”.
A aproximação de abril de 2029 será bastante próxima (mais próxima do que alguns de nossos satélites de comunicação) e fornece aos cientistas uma oportunidade muito importante de estudar o Apófis em detalhes excepcionalmente grandes.
E com menos de nove anos pela frente, o Instituto Lunar e Planetário realizou uma oficina virtual no início deste mês para tentar fazer a bola rolar.
“O conhecimento é a primeira linha de defesa planetária, e o encontro do Apófis em 2029 é uma oportunidade única a cada mil anos”, afirma o Instituto Lunar e Planetário.
“Temos menos de uma década para planejar missões na Terra e, possivelmente, in situ, cujas medições podem fornecer conhecimento detalhado sem precedentes sobre a natureza física do Apófis como exemplo de modelo de asteroides potencialmente perigosos”.
Se tivermos sorte, podemos conseguir uma missão ao estilo Bennu para Apófis para explorar o asteroide com uma espaçonave, descobrindo informações das quais telescópios não seriam capazes de obtê-las com precisão.
Esse asteroide “apresenta uma excelente oportunidade para demonstrar uma capacidade de reconhecimento de resposta rápida da órbita da Terra”, explicou Brent Barbee, engenheiro aeroespacial da Universidade de Maryland (EUA), na conferência.
Embora George Dvorsky, jornalista científico do Gizmodo, descreva algumas das possibilidades, ainda precisamos definir que tipo de tapete científico de boas-vindas daremos ao Apófis.
Quer se trate de uma nova nave espacial, uma nova missão para OSIRIS-Rex ou observações puramente terrestres, estamos prestes a aprender muito sobre nosso vizinho desconfortavelmente próximo – e esperamos poder confirmar de uma vez por todas se Apófis vai atingir nossa casa em 2068. Então, poderemos decidir o que fazer a seguir.