Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
O evento de extinção do Triássico-Jurássico que encerrou o período Triássico e iniciou o Jurássico há cerca de 200 milhões de anos foi uma das maiores extinções em massa da história do nosso planeta.
No total, estima-se que cerca de 25-34 por cento dos gêneros marinhos tenham sido extintos durante o evento, e muitos grupos terrestres tenham sido eliminados, abrindo caminho para que dinossauros e pterossauros dominassem a Terra pelos próximos 135 milhões de anos ou mais.
Porém, novas pesquisas sugerem que esse evento de extinção ocorreu mais tarde do que se pensava anteriormente e lança uma nova perspectiva sobre os fatores contribuintes.
A hipótese mais amplamente aceita do evento Triássico-Jurássico culpa enormes erupções vulcânicas pela perda de vidas que aconteceram no planeta, embora outras ideias – como colisões de asteroides e mudanças climáticas mais graduais – também tenham sido apresentadas.
Para se ter uma ideia melhor do que aconteceu, o novo estudo analisou biomarcadores fósseis moleculares de rochas do Canal de Bristol, na costa da Inglaterra, que na época fazia parte do supercontinente Pangeia.
As amostras mostraram evidências de antigos tapetes microbianos – comunidades complexas de microrganismos que preservam indicadores das condições atmosféricas da época.
As mudanças no ecossistema nessa parte específica do Reino Unido e nas bacias hidrográficas da Europa central têm sido usadas há muito tempo como um indicador do que aconteceu, com uma queda repentina no carbono orgânico-13, considerada um sinal inicial das mudanças atmosféricas que levaram a esse evento.
No entanto, descobriu-se que esse não era um indicador direto do evento do Triássico-Jurássico, dizem os cientistas – mas, em vez disso, as mudanças vieram de alterações no nível do mar e da dessalinização da água, que criaram as condições perfeitas para esses tapetes microbianos prosperarem.
Essas mudanças colocaram a composição orgânica do oceano em uma fase de transição, mas os pesquisadores mostram que foi dezenas de milhares de anos depois, durante o final do Rhaetiano, que o evento de extinção começou para valer.
“Por meio de nossa análise da assinatura química desses tapetes microbianos, além da pesquisa sobre a alteração no nível do mar e o resfriamento da coluna d’água, descobrimos que a extinção em massa do final do Triássico ocorreu mais tarde do que se pensava”, afirma o geoquímico Calum Peter Fox, pesquisador da Universidade Curtin na Austrália.
No entanto, a diminuição no nível do mar que a equipe detectou pode ter sido um sinal dos movimentos tectônicos iniciais da Terra que levariam a essas erupções futuras e ao eventual desmembramento da Pangeia.
Isso está de acordo com as descobertas de outro estudo que mostrou que a atividade magmática estava ocorrendo nessa região 100.000 anos antes da primeira erupção conhecida associada ao evento de extinção.
Ver uma retrospectiva de tantos milhões de anos é um processo difícil e desafiador, mas os registros fósseis que permanecem na Terra nos fornecem um registro inestimável de como eram as condições atmosféricas quando essas extinções em massa aconteceram.
Como acontece com a maioria dos trabalhos que examinam a história da vida e do clima em nosso planeta, as descobertas desse último estudo também podem ser usadas para basear nossa compreensão de como o clima está mudando hoje.
“Nossa pesquisa recente mostra que tapetes microbianos desempenharam funções importantes em vários eventos de extinção em massa, bem como um papel na preservação da vida restante, incluindo tecidos moles de organismos mortos em circunstâncias excepcionais”, disse o geoquímico Kliti Grice, pesquisador da Universidade Curtin.
“Saber mais sobre os níveis de dióxido de carbono presentes durante o evento de extinção em massa no final do Triássico nos fornece detalhes importantes que podem ajudar a proteger nosso meio ambiente e a saúde de nossos ecossistemas para as gerações futuras”.
A pesquisa foi publicada no PNAS.