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O famoso telescópio de Arecibo está à beira de um colapso e será desmontado

Por Daniel Clery
Publicado na Science

A longa e produtiva vida útil do telescópio de Arecibo chegou ao fim. A Fundação Nacional da Ciência (NSF) dos EUA anunciou que desativará o icônico radiotelescópio em Porto Rico, após duas rupturas de cabos nos últimos meses que quase levaram a estrutura ao colapso. O observatório de 57 anos, sobrevivente de vários furacões e terremotos, está agora em um estado tão frágil que tentar novos reparos colocaria funcionários e trabalhadores em perigo. “Essa decisão não foi fácil de tomar”, disse Sean Jones, diretor assistente de ciências físicas e matemáticas da NSF, em uma entrevista coletiva. “Nós entendemos o quanto Arecibo significa para a comunidade [de pesquisa] e para o Porto Rico”.

Ralph Gaume, diretor da divisão de astronomia da NSF, disse na conferência de imprensa que a agência quer preservar outros instrumentos no local, assim como o espaço para visitante e o centro de divulgação. Mas eles estarão sob ameaça se a estrutura do telescópio entrar em colapso. Isso faria com que a plataforma de instrumentos de 900 toneladas, suspensa a 137 metros acima da antena de 305 metros de largura, desabasse. Cabos se desprendendo podem danificar outros prédios no local, assim como as três torres de suporte se elas caírem também. “Há um sério risco de um colapso inesperado e descontrolado”, disse Gaume. “Um descomissionamento controlado nos dá a oportunidade de preservar ativos valiosos que o observatório possui”.

Nas próximas semanas, as empresas de engenharia desenvolverão um plano de desmontagem controlada. Pode envolver o desprendimento da plataforma de seus cabos de forma explosiva, deixando-o cair.

O telescópio de Arecibo tem sido amplamente usado por astrofísicos, bem como por cientistas atmosféricos e planetários, desde o início dos anos 1960. Por muitos anos, foi o principal instrumento envolvido na busca de mensagens de civilizações extraterrestres, e seu aspecto marcante lhe valeu um papel coadjuvante em filmes.

O observatório foi atingido por vários desastres naturais ao longo dos anos, mais recentemente pelo furacão Maria em 2017 e um terremoto em dezembro de 2019. Não se sabe se essas tensões contribuíram para as falhas nos cabos, a primeira das quais ocorreu em 10 de agosto. Um cabo auxiliar, instalado na década de 1990 quando 300 toneladas de novos instrumentos foram acrescentados à plataforma suspensa, soltou-se de seu soquete em uma das extremidades, danificando alguns instrumentos e rachando a superfície da antena abaixo.

Créditos: Observatório de Arecibo / Universidade da Flórida Central.

Os engenheiros que investigavam o problema pediram um cabo de reposição e outros para dar suporte. Durante seus estudos, eles notaram que um dos 12 cabos de suspensão principais – um conectado à mesma torre do cabo auxiliar com falha – tinha uma dúzia de fios rompidos em seu exterior. Como esses cabos de 9 centímetros de espessura são feitos de 160 fios, eles acharam que havia capacidade suficiente para suportar a carga extra.

No entanto, em 7 de novembro, o cabo se rompeu. A Universidade da Flórida Central (UCF), que lidera o consórcio que administra as instalações da NSF, já tinha três empresas de engenharia no local avaliando o primeiro rompimento. Eles rapidamente começaram a analisar a segurança de toda a estrutura. A NSF enviou outra empresa e o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA. Dos cinco, três disseram que o único caminho a seguir seria um descomissionamento controlado. Se um cabo principal estava operando abaixo de sua capacidade projetada, “agora todos os cabos estão sob a suspeita de se romperem”, disse Ashley Zauderer, diretora do programa da NSF para o Observatório de Arecibo. Se um dos três cabos principais restantes conectados à torre danificada também falhasse, os engenheiros concluíram, a plataforma entraria em colapso.

Nos últimos anos, a NSF tem buscado reduzir seu compromisso com o Observatório de Arecibo e, ao assumir sua gestão, a UCF tem arcado com mais encargos financeiros. Mas Gaume afirmou que: “Essa decisão nada tem a ver com o mérito científico do Observatório de Arecibo. É tudo uma questão de segurança. A instalação ainda tem recursos poderosos e exclusivos dos quais os pesquisadores confiam”, disse ele. “Estou confiante na resiliência da comunidade astrofísica”, acrescentou ele, e a NSF está trabalhando com algumas de suas outras instalações para retomar alguns dos estudos que foram interrompidos.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.