Traduzido por Julio Batista
Original de Peter Dockrill para o ScienceAlert
Os robôs não podem nos vencer. Ainda. Mas um programa de inteligência artificial (IA) desenvolvido por cientistas da IBM é tão bom em debater contra humanos que pode ser apenas uma questão de tempo até que não possamos competir.
O Project Debater, um sistema de debate autônomo que está em desenvolvimento há vários anos, é capaz de argumentar contra os humanos de uma forma significativa, tomando posições em um debate sobre um tópico escolhido e defendendo por que seu ponto de vista é o correto.
A IA, descrita em um novo estudo publicado na Nature, ainda não está no ponto de poder superar a lógica argumentativa humana, mas uma demonstração pública de suas habilidades em 2019 mostrou o quão longe sua forma artificial de raciocínio chegou.
Em um debate de demonstração contra o especialista em debates Harish Natarajan, o Project Debater revelou que foi capaz de formar um argumento sobre um tópico complexo (se a pré-escola deveria ser subsidiada para as famílias) e apresentar pontos em apoio ao argumento.
No processamento de linguagem natural, a capacidade de fazer isso envolve o que é chamado de mineração de argumento, em que uma IA analisa uma grande quantidade de informações díspares, procurando vincular seções relevantes.
No caso do Project Debater, a IA foi alimentada por um arquivo de cerca de 400 milhões de notícias, a partir das quais agora ela pode redigir declarações iniciais, refutações e resumos finais sobre uma gama de aproximadamente 100 tópicos de debate.
Embora o sistema ainda precise de refinamento – e ainda não está no ponto em que pode se igualar a um especialista humano em debates – a maioria dos observadores que classificam as transcrições dos argumentos do Project Debater deram uma pontuação alta, classificando o desempenho da IA como decente nos debates.
Isso é uma conquista e tanto, considerando que os desafios tecnológicos da mineração de argumentos para esse tipo de propósito eram considerados quase impossíveis mesmo para a IA de última geração apenas uma década atrás.
“Desde então, uma combinação de avanços técnicos em IA e a crescente maturidade na engenharia de tecnologia de argumento, juntamente com a intensa demanda comercial, levou a uma rápida expansão da área”, explica o pesquisador de tecnologia de argumento Chris Reed, da Universidade de Dundee no Reino Unido, que não estava envolvido no estudo, em um comentário sobre a pesquisa.
“Mais de 50 laboratórios em todo o mundo estão trabalhando nessa questão, incluindo equipes em todas as grandes corporações de software.”
Claro, nos últimos anos vimos IAs ultrapassar as capacidades humanas muitas vezes no mundo dos jogos, mas a mineração de argumentos é, em muitos aspectos, um esforço mais complexo, dadas as enormes quantidades de informações que precisam ser analisadas e, em seguida, ligadas em conjunto.
“O debate representa uma atividade cognitiva primária da mente humana, exigindo a aplicação simultânea de um amplo arsenal de compreensão da linguagem e capacidades de geração de linguagem, muitas das quais foram apenas parcialmente estudadas de uma perspectiva computacional (como tarefas separadas), e certamente não em uma maneira holística”, explicam os pesquisadores, liderados pelo pesquisador principal Noam Slonim em seu estudo.
“Portanto, um sistema de debate autônomo parece estar além do alcance dos esforços da pesquisa linguística anterior.”
Embora o Project Debater represente um avanço significativo, o campo de pesquisa ainda não chegou ao ponto das IAs poderem realizar esse feito de raciocínio melhor do que os humanos.
A equipe diz que o debate ainda está fora da ‘zona de conforto’ dos sistemas de IA, e que novos paradigmas precisarão ser desenvolvidos antes de vermos as máquinas superando a habilidade argumentativa inerente das pessoas em tópicos complexos e ambíguos.
Os resultados são relatados na Nature.