Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
Há algum tempo sabemos que a Terra está sob uma chuva constante de poeira espacial e que é abundante. Dado seu tamanho microscópico, entretanto, é muito difícil obter uma estimativa precisa da quantidade.
Esses micrometeoritos não são maiores do que uma fração de milímetro, espalhados como cinzas espaciais pela passagem de cometas e asteroides.
Após duas décadas de coleta do material na Antártica, uma equipe internacional de cientistas agora tem um número: cerca de 5.200 toneladas de micrometeoritos menores que 700 micrômetros (0,7 milímetros), a cada ano.
Isso, eles disseram, torna os micrometeoritos a maior fonte de material extraterrestre entregue à superfície da Terra.
Na verdade, é uma grande conquista. A atmosfera da Terra está cheia de poeira, de todos os tipos. Um estudo do ano passado descobriu que cerca de 17 milhões de toneladas métricas de poeira grossa estão voando pela atmosfera nesse exato momento.
Para minimizar essa poeira de ‘fundo’, a equipe se voltou para a Antártica na base Concordia em Dome C. A poeira terrestre está praticamente ausente lá, e a taxa de acúmulo de neve é baixa, o que significa que a neve que já está lá pode ser derretida para obter a taxa de queda de micrometeoritos na região.
Em seis expedições ao longo de 20 anos, os pesquisadores fizeram exatamente isso. Eles identificaram um total de 1.280 micrometeoritos não derretidos e 808 esférulas cósmicas (rocha espacial derretida) abaixo de 350 microgramas de massa, o que lhes permitiu calcular a taxa em que essas partículas chovem na superfície.
De acordo com seus cálculos, extrapolados para o globo inteiro e supondo que a chuva esteja uniformemente distribuída, cerca de 1.600 toneladas de micrometeoritos e 3.600 toneladas de esférulas cósmicas chegam à superfície todos os anos. Isso é um total de 5.200 toneladas anuais.
A próxima parte da pesquisa foi uma análise da poeira para determinar sua origem, com base na densidade dos grãos. Densidade mais baixa e porosidade mais alta sugerem uma origem cometária, e densidade mais alta e porosidade mais baixa sugerem origem meteorítica.
A partir disso, a equipe extrapolou que cerca de 80 por cento da poeira cósmica que atinge a superfície da Terra é ejetada dos cometas conforme eles passam em suas viagens orbitais – um número consistente com as estimativas anteriores da classificação cometária para a poeira espacial na Terra.
Os modelos da equipe, no entanto, também mostraram que a massa total da poeira cósmica introduzida antes da entrada na atmosfera é de cerca de 15.000 toneladas. A razão para essa discrepância não é clara, mas existem algumas opções prováveis.
Uma é que uma proporção significativa da poeira escapa à nossa capacidade de detectá-la. Outra é que parte da poeira é removida antes da entrada na atmosfera. Uma terceira pode ser que haja significativamente menos poeira no espaço ao redor da Terra do que pensamos.
Descobrir qual dessas opções é a verdadeira, disseram os pesquisadores, poderia nos ajudar a restringir melhor o papel da poeira cósmica no transporte de moléculas de água e carbono para a Terra, nos primeiros dias do Sistema Solar – por sua vez, fornecer peças do quebra-cabeça que é a emergência da própria vida.
A pesquisa da equipe foi publicada na revista Earth and Planetary Science Letters.