Por Matthew R. Bennett e Sally C. Reynolds
Publicado no The Conversation
Pegadas fossilizadas e, mais raramente, marcas de mãos, podem ser encontradas em todo o mundo; foram deixadas enquanto as pessoas cuidavam de seus afazeres diários, preservadas por estranhos processos geológicos. Em uma nova pesquisa, nossa equipe internacional descobriu antigas pegadas e marcas de mãos feitas por crianças no planalto tibetano.
A equipe argumenta que esses vestígios representam o exemplo mais antigo de arte parietal. Arte parietal são pinturas, desenhos e gravuras em superfícies rochosas – o tipo de coisa que você encontraria em uma caverna, embora os vestígios tibetanos não estejam em uma caverna.
O calcário no qual as marcas foram impressas data de cerca de 169.000 a 226.000 a.C. Isso tornaria o local o mais antigo exemplo atualmente conhecido desse tipo de arte no mundo.
Forneceria a evidência mais antiga de humanos e outros membros do gênero Homo (hominídeos) no alto planalto tibetano. Essa descoberta também contribui para a pesquisa que identifica as crianças como alguns dos primeiros artistas.
As marcas de mãos são comumente encontradas em cavernas pré-históricas. Normalmente, a mão é usada como um estêncil, com o pigmento espalhado ao redor da borda da mão. As cavernas em Celebes, Indonésia, ou em El Castillo, na Espanha, têm alguns bons exemplos e são os mais antigos conhecidos até hoje.
Em Quesang, no alto do planalto tibetano, nossa equipe liderada por David Zhang, da Universidade de Guangzhou, encontrou pegadas e marcas de mãos preservadas em travertino de uma fonte termal. O travertino é um calcário de água doce, frequentemente usado como ladrilhos de banheiro e, neste caso, depositado a partir de águas quentes alimentadas por calor geotérmico.
Uma boa analogia para entender isso é o calcário que se acumula na sua chaleira. Quando mole, o travertino fica impresso, mas depois endurece como uma rocha.
Cinco impressões de mãos e cinco pegadas parecem ter sido cuidadosamente colocadas, provavelmente por duas crianças a julgar pelo tamanho dos rastros. As impressões não foram deixadas durante a caminhada normal e parecem ter sido colocadas deliberadamente.
A criança que fez as pegadas tinha provavelmente cerca de sete anos e a outra, que fez as impressões das mãos, um pouco mais velha, aos 12 anos. As estimativas de idade são baseadas no tamanho das marcas com referência às curvas de crescimento modernas, como as produzidas pela Organização Mundial de Saúde.
As crianças estavam brincando casualmente na lama enquanto outros membros do grupo pegavam as águas da fonte termal? Não sabemos, mas a equipe argumenta que o que eles deixaram é uma obra de arte, ou graffiti pré-histórico se preferir.
A equipe datou o travertino usando um método radiométrico baseado no decaimento do urânio encontrado no calcário. A idade é surpreendente, com o depósito datando de cerca de 169.000 a 226.000 anos atrás.
Isso remonta ao Pleistoceno médio (meados da Idade do Gelo) e fornece evidências da ocupação dos humanos primitivos (ou de seus ancestrais diretos) no planalto tibetano.
Isso é incrível quando você pensa na grande altitude envolvida; Quesang tem uma altitude de mais de 4.200 metros e teria sido um lugar frio mesmo durante um período interglacial. A idade também torna este o exemplo mais antigo de arte parietal do mundo.
As crianças eram membros de nossa própria espécie, Homo sapiens, ou membros de outra espécie humana arcaica extinta? Não há nada nos vestígios para resolver essa questão.
Eles podem ter sido um grupo enigmático de humanos arcaicos conhecidos como Denisovanos, devido a outras descobertas recentes de esqueletos dessa espécie no planalto.
Devemos considerar este mural de gravuras como arte? Bem, isso depende da definição de cada um, mas as marcas foram feitas deliberadamente e têm uma composição clara. O que quer que esses traços humildes representem, eles evocam claramente imagens de crianças em grandes altitudes, desfrutando de um momento de brincadeira criativa.