Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
Um tardígrado fossilizado encontrado em âmbar dominicano constitui um ramo raro da árvore genealógica desses bichinhos estranhamente indestrutíveis.
O espécime remonta ao Mioceno, cerca de 16 milhões de anos atrás, e é apenas o terceiro tardígrado preservado em âmbar a ser totalmente descrito e nomeado. Os cientistas dizem que essa escassez é porque eles são tão pequenos e seus corpos não produzem minerais que sobrevivem aos séculos… e não porque eles simplesmente não morrem, mas quem pode dizer, realmente?
De qualquer forma, o pequenino bicho, representando uma nova espécie, pode nos ajudar a preencher a história evolutiva dos tardígrados, um filo que de alguma forma conseguiu sobreviver a todas as extinções em massa que conhecemos. Seus descobridores o chamaram de Paradoryphoribius chronocaribbeus e o identificaram como membro da moderna superfamília dos tardígrados, Isohypsibioidea.
“A descoberta de um tardígrado fóssil é realmente um evento que ocorre uma vez em uma geração”, disse o biólogo Phil Barden, do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, nos EUA.
“O que é tão notável é que os tardígrados são uma linhagem ancestral onipresente que viu de tudo na Terra, desde a queda dos dinossauros até o alvorecer da colonização terrestre das plantas.
“Ainda assim, eles são como uma linhagem fantasma quase sem registro fóssil para paleontólogos. Encontrar qualquer vestígio fóssil de tardígrado é um momento emocionante em que podemos ver empiricamente sua progressão ao longo da história da Terra”.
Tardígrados são sobreviventes notáveis. Quando as condições ficam ruins, eles podem secar, reconfigurar seus corpos e entrar em animação suspensa – chamada de criptobiose – por anos.
Você pode jogar virtualmente qualquer coisa contra eles: temperaturas congelantes, oxigênio zero, altas pressões, vácuo do espaço, radiação cósmica, fervê-los e, até mesmo, dispará-los a partir de uma arma. No entanto, sua história evolutiva está envolta em mistério.
O minúsculo tardígrado preservado encontrado no âmbar dominicano é microscópico, medindo pouco mais de meio milímetro de comprimento. Isso era muito pequeno para os pesquisadores verem com um microscópio de dissecação normal, então eles se voltaram para a microscopia confocal.
A composição quitinosa da cutícula de um tardígrado é facilmente excitada pelos lasers usados na microscopia confocal, o que significa que apresenta fluorescência.
O resultado, dizem os pesquisadores, é a melhor imagem de um fóssil de tardígrado até hoje. Nas imagens, eles conseguiam ver claramente as pequenas garras do tardígrado e seu aparato bucal, ou intestino anterior. Isso revelou que eles estavam olhando para algo desconhecido.
“Embora externamente parecesse um tardígrado moderno, com microscopia confocal a laser pudemos ver que ele tinha essa organização de intestino anterior única que nos garantiu sugerir um novo gênero dentro deste grupo existente de superfamílias de tardígrado”, disse o tardigradologista Marc Mapalo, da Universidade de Harvard, nos EUA.
“Paradoryphoribius é o único gênero que possui esse arranjo digestivo de caráter único e específico na superfamília Isohypsibioidea”.
Isso também significa que os cientistas podem explorar melhor as mudanças evolutivas que os tardígrados sofreram ao longo de milhões de anos.
Paradoryphoribius representa o único fóssil tardígrado da era atual, o Cenozoico. Os outros dois são mais antigos: Milnesium swolenskyi, descrito em 2000, é de cerca de 90 milhões de anos atrás, e Beorn leggi, descrito em 1964, é de cerca de 72 milhões de anos atrás, ambos no Mesozoico.
Dada a escassez de fósseis, a descoberta de pelo menos um nos dá uma riqueza de informações com as quais podemos fazer comparações. Mesmo apenas datando o âmbar, a equipe conseguiu estabelecer uma idade mínima para Isohypsibioidea.
“Se você olhar para a morfologia externa dos tardígrados, pode assumir que não há mudanças ocorridas dentro do corpo dos tardígrados”, disse Mapalo.
“No entanto, usando microscopia confocal a laser para visualizar a morfologia interna, vimos características que não são observadas nas espécies existentes, mas são observadas nos fósseis.
“Isso nos ajuda a entender quais mudanças no corpo ocorreram ao longo de milhões de anos. Além disso, isso sugere que mesmo que os tardígrados possam ser os mesmos externamente, algumas mudanças estão ocorrendo internamente”.
A descoberta também confirma que o âmbar pode servir como um recurso inexplorado para fósseis de tardígrado. Como os animais tendem a habitar ambientes úmidos, onde árvores podem ser encontradas, e como suas pequenas estruturas não são facilmente fossilizadas (ou simplesmente vivem para sempre, né, quem sabe), o âmbar parece a melhor aposta.
No entanto, por serem tão pequenos, é possível que fósseis de tardígrado em outros depósitos de âmbar tenham passado despercebidos.
Os pesquisadores esperam que sua descoberta possa inspirar outros a olharem mais de perto as amostras de âmbar, na esperança de aprender mais sobre este filo enigmático e resistente de animais.
“Estamos apenas na ponta do iceberg quando se trata de compreender as comunidades de tardígrados vivos, especialmente em lugares como o Caribe, onde não foram pesquisadas”, disse Barden.
“Este estudo fornece um lembrete de que, por menos que possamos ter em relação aos fósseis de tardígrado, também sabemos muito pouco sobre as espécies vivas em nosso planeta hoje”.
A pesquisa foi publicada em Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.