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Os tardígrados são os animais mais indestrutíveis da Terra? Há um concorrente acirrado

Por Eva Hamrud
Publicado na Metafact

Os humanos não sobreviveriam dois minutos no espaço, mas, em 2007, duas espécies de tardígrados foram liberadas no espaço e depois foram coletadas novamente – ainda vivas.

Tardígrados são um grupo de minúsculas espécies de invertebrados que vivem em todo o mundo – você, provavelmente, pode encontrar um em um pedaço de musgo em seu quintal ou em uma praça próxima de você. Na verdade, você pode encontrá-los em praticamente qualquer lugar – no topo de uma montanha, no fundo do mar ou mesmo em um vulcão!

O astrobiólogo Dr. Jon Stone, pesquisador da Universidade McMaster, Canadá, resume como eles podem sobreviver a uma variação de condições extremas, incluindo temperaturas tão frias quanto -180 °C por 14 dias ou calor em um forno a 151 °C por 30 minutos.

Eles também podem sobreviver “à radiação gama de 5000 Gy (que é o tipo de radiação que, no Universo Marvel, transformou David Banner no Incrível Hulk). Onde apenas de 5 a 10 Gy é suficiente para matar humanos”, diz o Dr. Stone.

Eles também podem sobreviver em um estado de congelamento por 30 anos e potencialmente até 100 anos, embora esse tempo ainda seja contestado, escreve o Dr. Stone.

Mas os tardígrados são os animais mais indestrutíveis da Terra? Perguntamos a oito biólogos que os estudam – 63% disseram “sim”,  o que significa que ainda há um debate sobre essa questão. Aqui está o que aprendemos com especialistas.

Por que os tardígrados são tão indestrutíveis?

Quando as condições são difíceis para sustentar vida, os tardígrados se enrolam em uma bola chamado tonel. Quando dentro do tonel, o tardígrado entra em uma espécie de estado de ‘pausa’, chamado de ‘criptobiose’.

Durante a criptobiose, os animais não se movem, crescem ou se reproduzem, mas estão protegidos de condições extremas. Existem vários tipos de criptobiose, dependendo das condições com as quais você está lidando.

O tipo mais bem estudado é chamado de ‘anidrobiose’, que protege contra o ressecamento das células na ausência de água.

Se as células secam, muitas coisas podem ser danificadas, como o DNA e as membranas. Quando alguns animais entram no estado de anidrobiose, suas células ficam cheias de um açúcar chamado trealose, que protege o conteúdo celular até que apareça água novamente.

A anidrobiose nos tardígrados foi descoberta em 1702, quando o cientista Anton von Leewenhoek ressecou e reviveu os tardígrados que encontrou nos telhados de casas. Tardígrados podem permanecer em criptobiose sem comida ou água por anos – por, pelo menos, 30 anos se congelados.

Tardígrados marinhos não são indestrutíveis

Existem mais de 1.400 espécies conhecidas de tardígrados e cada uma difere em sua capacidade de entrar em diferentes tipos de criptobiose. O biólogo Dr. William Miller, pesquisador da Universidade Baker, explica: “Os tardígrados terrestres em estado de criptobiose são muito resistentes à destruição… Mas os tardígrados marinhos e de água doce não entram em criptobiose e, portanto, são muito destrutíveis”.

Da mesma forma, apenas algumas espécies de tardígrados produzem trealose, a substância açucarada que protege as células durante a anidrobiose.

As espécies de tardígrados que não produzem trealose podem ter alguns outros truques para protegê-los de condições adversas, como proteínas especiais que se transformam em uma substância parecida com o vidro para proteger as células. Há muitas pesquisas interessantes a serem feitas para entender esse conjunto de ferramentas de sobrevivência, mas está claro que os tardígrados não podem ser todos agrupados em uma mesma lista de seres indestrutíveis.

Algumas coisas que podem destruir um tardígrado

Geralmente, os tardígrados são muito mais resistentes às mudanças do ambiente do que a maioria dos animais. Eles são frequentemente estudados em um contexto astrofísico – por exemplo, identificando se eles sobreviveriam se a Terra fosse atingida por um asteroide.

No entanto, isso não significa que eles são indestrutíveis contra tudo – como o especialista Dr. Dennis Persson afirma, “tardígrados são certamente um dos animais mais tolerantes ao estresse na Terra, mas são facilmente destruídos com a picada de uma agulha, ou ao serem devorados por outros animais, fungos e protistas”.

Embora os tardígrados sejam resilientes em alguns aspectos, eles são vulneráveis ​​a coisas que ameaçam a maioria dos animais, como predadores e infecções.

Tardígrados vs Nematoides

Para saber se os tardígrados são os animais mais indestrutíveis, precisamos saber sobre a concorrência nessa lista. O ecologista Dr. Diego Fontaneto explica que “outros animais podem sobreviver ao que consideramos condições extremas de vida”.

Entre eles, existem nematoides e rotíferos, que compartilham estratégias de sobrevivência, habitats e tamanho de corpo semelhantes aos tardígrados. Esses animais sobrevivem à dessecação e ao congelamento tanto quanto os tardígrados, senão melhores do que os tardígrados.

Outros animais que têm o truque da criptobiose na manga incluem os vermes nematódeos, alguns tipos de camarão e até algumas espécies de plantas e leveduras! Os nematoides foram particularmente bem estudados, e o paleobiólogo Dr. Graham Budd observa que “o recorde de sobrevivência em um estado de desidratação é do nematoide Tylenchus polyhypnus de 39 anos”.

E o vencedor da batalha tardígrado vs. nematoide ainda não foi verificada. “Em geral, como diferentes animais têm diferentes capacidades de sobrevivência em diferentes condições, é difícil escolher um tipo como o ‘mais resistente de todos'”, disse o Dr. Budd.

Moral da história: O tardígrado pode até ser o animal mais indestrutível, mas eles não são resistentes a qualquer tipo de dano e muitos especialistas dizem que os nematoides são desafiantes acirrados a este título. Apesar do debate, é certo que estamos apenas começando a aprender quais criaturas podem lidar com ambientes extremos e como elas fazem isso.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.