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Pingentes de túmulos da Idade da Pedra revelaram ser feitos de um material macabro

Traduzido por Julio Batista
Original de Clare Watson para o ScienceAlert

Vários pingentes pequenos e finos descobertos em túmulos da Idade da Pedra em uma ilha de um lago russo há mais de 80 anos ganharam uma nova atenção depois que arqueólogos reanalisaram os achados usando técnicas de impressão digital química.

“Para nossa surpresa, a matéria-prima de alguns dos espécimes acabou sendo osso humano”, escreveram a arqueóloga Kristiina Mannermaa, da Universidade de Helsinque, na Finlândia, e seus colegas em seu paper publicado.

Mannermaa fazia parte de uma equipe responsável por outra investigação histórica sobre a cultura da Idade da Pedra, descobrindo os restos mortais de uma criança cujo túmulo elaborado – no que hoje é a Finlândia – estava coberto de penas e peles.

Este último relato de bens funerários antigos revela outra parte da vida da Idade da Pedra preservada na morte; sugere que as pessoas que viveram há milhares de anos viam suas vidas relativamente igualmente importantes com os animais ao seu redor.

Os pingentes de osso foram encontrados em Yuzhniy Oleniy Ostrov, uma ilha no Lago Onega, no noroeste da Rússia, que abriga o maior cemitério do norte da Europa desde o último período da Idade da Pedra, com 177 locais de sepultamentos registrados.

Os arqueólogos escavaram o cemitério pela primeira vez na década de 1930, mas somente com esta última análise os pesquisadores identificaram as origens dos fragmentos de ossos transformados em pingentes encontrados em seis sepulturas entre dentes ornamentais de alces, castores e até ursos marrons.

Por mais de oito décadas, os pesquisadores que estudavam sepultamentos na ilha de Yuzhniy Oleniy Ostrov negligenciaram os pingentes de osso porque eram muito modestos.

Com não muito mais do que um ou dois sulcos esculpidos na extremidade mais estreita dos pingentes de osso, os arqueólogos foram atraídos para dentes que eram mais fáceis de identificar de quais espécies eles vieram com base em características estruturais.

Dois pingentes feitos do mesmo fêmur humano, divididos em dois. (Créditos: Anna Malyutina/Museu de Antropologia e Etnografia Pedro, o Grande, Kunstkamera, Rússia)

Doze dos 37 pingentes enviados para reanálise foram feitos de osso humano – não animal (animal não-humano, no caso), com outros dois vistos como potencialmente humanos e seis de origem não identificável.

Usando espectrometria de massa, os pesquisadores analisaram vestígios de proteínas preservadas nos ornamentos sepultados para mostrar que um terço foi cortado de osso humano; o resto era feito de ossos de alce e bovino.

Datados de mais de 8.200 anos de idade, os pingentes de osso humano fazem parte de uma longa história dos primeiros humanos criando ornamentos de osso.

A evidência mais antiga de osso humano sendo usado para ornamentos é uma coleção de dentes perfurados encontrados na França, datados de cerca de 35.000 anos atrás, provavelmente deixados pelos aurignacianos que se mudaram pela Europa na época. Pingentes de dentes humanos de tempos mais recentes também foram encontrados espalhados pela Dinamarca, Alemanha, Turquia, Letônia e República Tcheca.

Uma ilustração de um homem adulto enterrado na ilha de Yuzhniy Oleniy Ostrov com pingentes de osso e dentes de alce. (Créditos: Tom Björklund/Universidade de Helsinque)

Embora os pingentes de osso de Yuzhniy Oleniy Ostrov estivessem mal preservados, fragmentados e desgastados nas bordas, fraturas espirais no osso sugerem que eles foram feitos de osso fresco, em vez daqueles de sepultamentos antigos.

Longe no México, restos de uma grosa musical feita de osso humano foram encontrados com marcas de corte nos ossos, indicando que foram retirados de cadáveres frescos, possivelmente vítimas de sacrifício. Nenhuma evidência de canibalismo ritual foi encontrada nos pingentes de osso de Yuzhniy Oleniy Ostrov, mas também não pode ser totalmente descartada.

Os pingentes de osso humano também não foram embelezados de forma alguma; eles eram grosseiramente ordenados e indistinguíveis daqueles feitos de ossos de animais até que esta última análise revelou suas verdadeiras origens.

Um zoom nos pingentes de osso humano com pequenos sulcos. (Créditos: Mannermaa et al., J. Archaeol. Sci. Rep. 2022)

O fato do osso humano ser tratado como uma matéria-prima como qualquer outra pode indicar que animais e humanos estavam muito interligados na visão de mundo do povo da Idade da Pedra, sugeriu Mannermaa.

Se o tipo de osso usado para fazer pingentes não era de grande importância, então talvez as pessoas que os esculpiam vissem pouca diferença entre humanos e animais.

“Usar ossos de animais e humanos juntos no mesmo ornamento ou roupa pode ter simbolizado a capacidade dos humanos de se transformarem em animais em suas mentes, além de acreditarem que os animais eram capazes de assumir a forma humana”, disse Mannermaa .

“Sabemos que essa indefinição de formas e limites fez e ainda faz parte da visão de mundo dos povos indígenas”.

A pesquisa foi publicada no Journal of Archaeological Science: Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.