Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Quando se trata de cantar, os morcegos fazem a maioria das espécies ficar em segundo plano. Claro, suas músicas podem não estar na lista das 20 melhores de todos os tempos, mas seus gritos abrangem uma tremenda faixa de frequência de cerca de 7 oitavas de 1 a 120 kilohertz, subindo bem fora do alcance da audição humana.
Graças a um novo estudo da anatomia dos morcegos por pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca, agora temos uma ideia melhor sobre como eles os produzem e por quê.
Em frequências mais altas, os gritos de morcegos são usados para ecolocalização. Gritos de baixa frequência são como os morcegos falam uns com os outros.
Fascinantemente, para fazer seus rosnados mais graves, os morcegos usam estruturas em sua garganta análogas àquelas usadas por cantores de death metal e cantores difônicos tuvanos.
Elas são chamadas de pregas ventriculares, ou pregas vocais falsas, e os morcegos parecem usá-las para produzir sons entre 1 e 5 quilohertz, muitas vezes em situações antagônicas. Isso parece sugerir que esses gritos são, pelo menos às vezes, usados para lançar desafios ou avisos a outros morcegos.
“Identificamos pela primeira vez quais estruturas físicas dentro da laringe oscilam para fazer suas diferentes vocalizações”, disse o biólogo da Universidade do Sul da Dinamarca, Coen Elemans.
“Por exemplo, os morcegos podem fazer gritos de baixa frequência, usando suas chamadas ‘pregas vocais falsas’ – como os cantores humanos de death metal fazem.”
Em humanos, as pregas ventriculares ficam acima das pregas vocais, mas não estão diretamente envolvidas na produção de sons normais de fala ou canto. Acredita-se que elas ajudam a proteger as pregas vocais, a manter a pressão e possivelmente a moldar a voz. É apenas em formas especializadas de vocalização – como o canto – que essas pregas estão diretamente envolvidas na produção sonora.
A maioria dos mamíferos, incluindo humanos, tem um alcance vocal de cerca de 3 a 4 oitavas (embora haja exceções extremas). Para descobrir como os morcegos são capazes de produzir uma faixa de frequência comparativamente ampla, Elemans e sua equipe, liderada por Jonas Håkansson, da Universidade do Sul da Dinamarca, decidiram que precisavam realizar alguns experimentos.
Eles sacrificaram 8 espécimes adultos de morcegos-de-Daubenton ou morcego-de-água capturados na natureza (Myotis daubentonii) e extraíram seus aparelhos laríngeos. Em seguida, eles montaram 5 das laringes em uma configuração experimental projetada para reproduzir a dinâmica da vocalização e aplicaram um fluxo de ar para criar som. Tudo isso foi filmado a 250.000 quadros por segundo para capturar as menores nuances da produção sonora.
O aprendizado de máquina foi usado para reconstruir o movimento das membranas vocais que foram obscurecidas por outras estruturas laríngeas.
Eles descobriram que as cordas vocais vibravam em frequências entre 10 e 95 kilohertz. Este é um intervalo consistente com gritos de ecolocalização. Os gritos mais agudos são feitos usando uma membrana vocal com espessura de um micrômetro, uma estrutura no final da prega vocal que nossos ancestrais primatas provavelmente também tiveram, mas perderam no caminho para se tornarem humanos.
“Filmamos diretamente essas membranas vocais pela primeira vez”, explicou Håkansson.
“Para mostrar suas vibrações, precisávamos filmar em taxas extremamente altas, de até 250.000 quadros por segundo. Vemos muitas adaptações na laringe, que acreditamos serem responsáveis pela capacidade do morcego de fazer gritos de alta frequência muito rapidamente, de modo que eles pode pegar insetos enquanto voa.”
Porém, as frequências mais baixas, entre 1 e 3 quilohertz, vibraram as pregas ventriculares. Estas, a equipe concluiu, provavelmente estavam envolvidas nos rosnados mais baixos emitidos pelos morcegos.
Não está totalmente claro o que esses rosnados significam. Os pesquisadores pegaram mais nove morcegos e os gravaram vocalizando. Apenas três dos morcegos rosnaram: quando foram devolvidos ao poleiro após a pesagem ou quando foram acariciados por um humano. Isso pode ser uma pista sobre o propósito do rosnado, disseram os pesquisadores.
“Alguns parecem agressivos, alguns podem ser uma expressão de aborrecimento e alguns podem ter uma função muito diferente”, disse o biólogo Lasse Jakobsen, da Universidade do Sul da Dinamarca. Mas, acrescentou, “ainda não sabemos”.
Temos certeza de que os resultados de quaisquer estudos futuros sobre vocalizações de morcegos serão música para nossos ouvidos.
A pesquisa da equipe foi publicada na revista PLOS Biology.