Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Múltiplas linhas de evidência sugerem que Marte nem sempre foi o depósito seco de poeira que é hoje.
Na verdade, o planeta vermelho já foi tão úmido e lamacento que um megatsunami foi desencadeado, atingindo a paisagem como um desastre aquático. O que causou essa devastação? De acordo com uma nova pesquisa, o impacto de um asteroide gigante, comparável ao impacto de Chicxulub na Terra há 66 milhões de anos – aquele que matou os dinossauros.
Pesquisadores liderados pelo cientista planetário Alexis Rodriguez, do Instituto de Ciências Planetárias, no Arizona, EUA, localizaram uma enorme cratera de impacto que, segundo eles, é a origem mais provável da onda misteriosa.
Eles a batizaram de Pohl e o localizaram dentro de uma área devastada por erosão catastrófica por inundação, que foi identificada pela primeira vez na década de 1970, no que poderia ser a borda de um antigo oceano.
Quando a sonda Viking 1 da NASA pousou em Marte em 1976, perto de um grande sistema de canais de inundação chamado Maja Valles, encontrou algo estranho: não as características esperadas de uma paisagem transformada por uma megainundação, mas uma planície repleta de pedras.
Uma equipe de cientistas liderada por Rodriguez determinou em um paper de 2016 que isso foi o resultado de ondas de tsunami, ressurgindo extensivamente na costa de um antigo oceano marciano.
Naquela época, eles levantaram a hipótese de que dois tsunamis foram desencadeados por eventos de impacto separados, 3,4 e 3 bilhões de anos atrás. Simulações numéricas levaram os cientistas à cratera Lomonsov como a fonte do tsunami posterior.
No entanto, a origem do tsunami anterior permaneceu indefinida. As planícies do norte, nas quais se acredita que um oceano marciano tenha se espalhado, são cheias de crateras e elas são difíceis de interpretar. Rodriguez e sua equipe vasculharam minuciosamente os mapas da superfície de Marte, procurando por crateras de impacto que poderiam estar ligadas a enormes tsunamis.
Eles chegaram até Pohl, localizado a cerca de 900 quilômetros a nordeste do local de pouso da Viking 1, uma cratera de 110 quilômetros de diâmetro, situada a cerca de 120 metros abaixo do que os cientistas acreditam ser o nível do mar, em uma região chamada de Chryse Planitia.
Com base nas rochas ao redor da cratera que haviam sido datadas anteriormente em cerca de 3,4 bilhões de anos atrás, os pesquisadores pensaram que Pohl também pode ter se formado nessa época. E sua posição perto de superfícies erodidas por inundações e depósitos hipotéticos de megatsunami sugerem que a cratera se formou durante um impacto oceânico.
Para confirmar suas suspeitas, os pesquisadores realizaram simulações de impacto, ajustando os parâmetros do objeto de impacto e a superfície em que ele colidiu. Eles encontraram dois cenários adequados ao local observado.
Primeiro, um asteroide de 9 quilômetros encontrando forte resistência do solo, resultando em uma explosão de 13 milhões de megatons. O outro cenário era um asteroide de 3 quilômetros de diâmetro encontrando uma fraca resistência do solo, liberando 0,5 milhão de megatons de energia TNT.
Nas simulações, ambos os cenários resultaram em uma cratera de 110 quilômetros de diâmetro, desencadeando um megatsunami que viajou até 1.500 quilômetros do local do impacto – cobrindo facilmente a região ao redor de Maja Valles.
As simulações também combinaram com a paisagem repleta de pedregulhos, pois o material ejetado do impacto foi carregado e depositado pelo tsunami, que no caso do asteroide de 3 quilômetros, atingiu uma altura de 250 metros.
“Nossos eventos simulados de megatsunami gerados por impacto correspondem com as margens mapeadas do depósito de megatsunami mais antigo e preveem frentes atingindo o local de pouso do Viking 1”, escreveram os pesquisadores.
“A localização da região ao longo de um lóbulo voltado para terras altas alinhadas a fissuras erosivas suporta uma origem de megatsunami”.
O local é análogo ao impacto de Chicxulub, disseram os pesquisadores.
Ambos ocorreram em um ambiente marinho raso, criaram uma cavidade temporária de tamanho semelhante no solo e (de acordo com as simulações) geraram um tsunami de mais de 200 metros de altura.
“Nossas descobertas”, eles escreveram, “corroboram com a ideia de que as rochas e os sais do solo no local de pouso sejam de origem oceânica, convidando à reconsideração científica das informações coletadas das primeiras medições in situ em Marte”.
A pesquisa foi publicada na revista Scientific Reports.