Minhas considerações sobre a matéria de capa da Galileu número 259 (aqui), de fevereiro/2013: “Dossiê: Medicina Integrativa – A Nova Alternativa”.
No começo da matéria, são abordadas algumas tendências adotadas por governos na tentativa de subsidiar as pesquisas com Medicina Alternativa, agora chamada de Complementar ou Integrativa. Só mais um nome bonito para o que se conhece como terapia holística (holismo, o corpo como um todo). A visão holística também faz parte da Saúde, na qual há integração entre os sistemas do organismo, aliada a uma certa humanização e diferenciação no atendimento destinado aos usuários.
Alegam que o governo norte-americano subsidia a pesquisa das terapias complementares com cerca de 120 milhões de dólares. Também alegam que o número de inserções sobre o tema na base de dados da Pubmed subiu em 33% no período de cinco anos. Dois outros argumentos utilizados são, ao se trazer para a realidade brasileira, que o SUS sustenta o uso e a prescrição das terapias, além de dizer que o Hospital Albert Einstein oferece uma pós-graduação voltada para o tema.
Veja o que a Organização Mundial de Saúde (2004) tem a dizer sobre as Terapias Alternativas, em seu guideline [em inglês]: aqui.
Comentarei no geral, com base na minha percepção enquanto acadêmico de uma graduação das Ciências da Saúde, a Enfermagem. No texto, são referidas dez terapias.
De início, já temos a acupuntura. Baseada no mapeamento dos meridianos e na introdução de finas agulhas em cada um deles, de acordo com o acometimento. É oriunda da Medicina tradicional chinesa e praticada como antigamente até hoje. Os meridianos são pontos específicos e localizados em várias partes do corpo, compondo um mapa com centenas de meridianos distintos. Já tive contato com a acupuntura ao fazer visita no setor de Dermatologia do hospital universitário da minha instituição, a UFES. Não acho algo tão vantajoso, mas conversei com pacientes que relataram melhora em seus males, inclusive com regressão de sinais físicos (redução de edema facial e melhora na coloração da pele). Uma enfermeira responsável pelo setor também realiza acupuntura, pois sofre de espondilite anquilosante, um tipo de inflamação das articulações sem causa definida.
Ao longo do texto, vi várias referências feitas ao efeito placebo e a suposta existência deste nas terapias mencionadas. Há até o depoimento de um epidemiologista, dizendo que a acupuntura age no centro de controle da dor, a nocicepção, liberando endorfinas. Ainda faltam evidências em alguns males, como enxaqueca crônica, alguns cânceres e doenças cardíacas agudas.
Link: Artigo da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (2011), a FEBRASGO, sobre o efeito placebo: “Qual o valor do placebo em pesquisas clínicas?“
A segunda terapia me parece ser bastante promissora: a musicoterapia. Tive contato com um musicoterapeuta quando fiz visita a um ambulatório de Saúde Mental Infantil. Existe a graduação de Musicoterapia, ativa em várias faculdades do Brasil. A música, sendo uma manifestação ondulatória, interfere diretamente no nosso organismo. Ao menos é o que considero quando falo de ondas. Os pesquisadores alegam que a musicoterapia promove vasodilatação, elimina estresses e tensões, além de ser indicada para melhorar a memória, o humor e resolver transtornos/desordens de natureza psiquiátrica (nem todos, exclui transtornos que produzem excitação ou alucinação). Seu uso é contraindicado para portadores de epilepsia musicogênica, um tipo de quadro convulsivo induzido pela música. Assim como também existe a convulsão induzida por luminosidade, quadro clínico conhecido como epilepsia fotossensível.
Artigo do Instituto do Cérebro de Brasília (2008), conceituando a epilepsia: aqui.
Na sequência, a mal falada homeopatia. Como já é difundido no senso comum, a homeopatia se baseia em princípios como a sucussão, a “memória da água”, a diluição e o fracionamento a doses infinitesimais. Não consigo dar valor a uma terapia que alega a existência de propriedades da água ainda desconhecidas. Eu ainda não li nenhum artigo completamente conclusivo. Nada está declarado, seja pela Bioquímica, pela Química Orgânica, pela Farmacologia.
Ainda que muitos considerem uma terapia complementar, eu creio que a fitoterapia, a quarta da lista, seja mais do que isso. Como comentei anteriormente, dou crédito às plantas. A Farmácia contemporânea é baseada na fitoterapia, vigente da Pré-História aos indígenas, das tribos africanas até a Antiguidade Clássica. Ferver folhas, infundir e fazer chás, amassar, triturar, picar e mastigar plantas. Tudo depende da dose, que deve ser respeitada, além do preparo correto e dentro das normas sanitárias adequadas. A maioria dos fármacos, inclusive venenos, disponíveis nas prateleiras, foram descobertos através de princípios da Farmacognosia (o conhecimento sobre a origem e a matéria-prima dos fármacos é uma das Ciências Farmacêuticas, juntamente com a Farmacologia, a Farmacocinética, a Farmacodinâmica, a Farmacotécnica, dentre outras).
Link: Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (2009), pelo Ministério da Saúde.
Aromaterapia funciona? Eu não sei como, mas talvez como calmante. O uso de óleos e incensos como terapia me parece algo fútil.
E a hipnose? Bem, não acho que ela cura. Mas penso que sirva como método investigativo da mente. O próprio Freud incorporava a hipnose em suas sessões, alegando que conseguia invadir o subconsciente do indivíduo, descobrindo causas de traumas e de neuroses. Alegam que funciona como anestésico, eu não creio nisso.
A técnica de respiração, sétima da lista, é interessante. Eu mesmo já participei de sessões de terapia em grupo para tabagismo (faço parte de um ambulatório para dependência de tabaco aqui na Universidade). Atua como relaxante, como a maioria das terapias alternativas. Fazendo movimentos, é possível exercitar os músculos abdominais, o diafragma e até aumentar a capacidade de expansão dos pulmões.
Meditação, como vemos na tradição oriental, é uma técnica de relaxamento. Aqui é mencionada como uma nova aliada da Medicina, promovendo bem-estar e tranquilidade a quem a pratica. É uma forte ferramenta, sem dúvida. Empregá-la como catarse para as tensões cotidianas pode ser realmente efetivo. É uma ação direta sobre a mente e o corpo. Se o humor e o vigor mental melhoram, o corpo tende a responder positivamente, seja na imunidade ou no condicionamento físico. Apesar disso, não cura o câncer ou reverte transtornos psiquiátricos graves, até o momento.
Massagem e Quiropraxia, apesar de serem relaxantes, não resolvem lesões crônicas. Aliviam a tensão muscular, as dores localizadas e grande parte dos desconfortos físicos a curto prazo.
Ainda são citadas outras sete terapias, mas me atentarei apenas a três delas:
1. Reiki
Pra mim, é balela. “Canalizar a energia do cosmos” não me parece algo realmente efetivo. Ainda conseguem usar de argumentos da Física, dizendo que energia e matéria são a mesma coisa, que nós somos parte do cosmos, blá. Não dou muito crédito, a própria matéria aponta que não existem evidências sobre como e até que ponto funciona.
2. Ioga
Mais uma técnica de relaxamento, que também melhora o condicionamento físico. A flexibilidade é uma aliada perfeita para a redução de desconfortos localizados. Aqui, a Ioga é apontada mais como preventiva do que curativa. É dito que não é possível estabelecer caráter de placebo, porque “não há como ensinar uma ioga falsa”.
3. Tai Chi Chuan
É um misto de de arte marcial com coreografia. Não sei até que ponto vão os estudos clínicos referentes a relaxamento, mas parece funcionar. Até os idosos no Japão são adeptos, se espalha fácil também.
Por fim, posso ver que há uma ambivalência. Muita coisa ainda precisa ser testada e melhor avaliada, no intuito de se descobrir evidências conclusivas. Mas, em geral, algumas (poucas) terapias funcionam. Nos resta esperar que a verdadeira Ciência encontre respostas.