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Exorcismo: fato ou ficção?

O exorcismo é frequentemente retratado em filmes como algo dramático e sobrenatural, mas na realidade trata-se de uma prática perigosa e sem fundamento. Embora muitas pessoas ainda acreditem que seja uma forma de expulsar demônios, a ciência demonstra que os efeitos observados são unicamente psicológicos, associados à autossugestão e ao efeito placebo. Pessoas convencidas de que estão possuídas geralmente sofrem de transtornos mentais e, em alguns casos, são levadas a crer que apenas um ritual religioso poderá proporcionar alívio.

Um exemplo trágico foi o Caso de Cornici, na Romênia. Maricica Irina Cornici, freira de 23 anos com histórico de esquizofrenia, alegava ouvir a voz do diabo acusando-a de pecadora. Em 2005, o padre Daniel Corogeanu, com a ajuda de quatro freiras, amarrou-a a uma cruz, tampou sua boca com uma toalha e a deixou por três dias sem comida e água. O ritual, segundo eles, pretendia expulsar os demônios. Cornici foi encontrada morta em 15 de junho, e a autópsia revelou asfixia e desidratação. O caso ganhou grande repercussão na mídia romena, e os envolvidos foram condenados por homicídio. A própria Igreja Ortodoxa admitiu que o padre havia sido ordenado sem concluir os estudos e condenou a morte da jovem.

Nos Estados Unidos também existem casos fatais. Em 22 de agosto de 2003, um menino autista de oito anos, em Milwaukee, foi amarrado e imobilizado por membros de uma igreja durante um culto de oração cujo objetivo era expulsar “espíritos malignos”. A autópsia revelou extensos hematomas no pescoço e concluiu que a criança morreu por asfixia. Em apenas dez anos, pelo menos quatro mortes foram associadas a exorcismos no país, duas delas envolvendo crianças. Há ainda episódios como o da texana Andrea Yates, que em 2001 afogou três de seus filhos acreditando estar expulsando o demônio de si mesma. Mais recentemente, um casal sul-africano foi preso por manter a filha de quinze meses em jejum, amarrada e enclausurada, convencidos de que ela estava possuída.

O pesquisador Michael Cuneo, em seu livro de 2001 American Exorcism: Expelling Demons in the Land of Plenty (em português, Exorcismo Americano: Expulsando Demônios na Terra da Abundância), relata ter assistido a cinquenta exorcismos sem encontrar nada de sobrenatural. Não houve cabeças girando, levitação ou poltergeists, apenas pessoas em sofrimento, algumas xingando, cuspindo ou vomitando. Para a ciência, os casos interpretados como possessão são, de fato, manifestações de transtornos de saúde mental.

Nos filmes, exorcismos podem parecer fascinantes, mas na vida real podem ser fatais. A ironia trágica é que, em muitos casos, o mal não está em um suposto demônio, mas nas mãos daqueles que acreditam nele.


Artigo adaptado do original, publicado por Benjamin Radford, na Live Science, com o título Voice of Reason: Exorcisms, Fictional and Fatal.

Benjamin Radford é escritor investigativo e crítico de cinema. Seu artigo sobre a verdadeira história por trás de The Exorcist (em português, O Exorcista) pode ser encontrado aqui.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking, Full Stack Java Developer e Inteligência Artificial, Machine Learning e Data Science. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.