Por Mario Bunge
Publicado em Filosofia para Médicos
Submeto à consideração dos leitores a tese de que todos os princípios filosóficos enunciados abaixo são adotados por alguns, talvez a maioria, dos pesquisadores em psicologia científica. Mesmo que apenas alguns desses princípios figurem na investigação psicológica, seria o suficiente para provar a tese de que a psicologia contém princípios filosóficos, tanto de quem nega.
- Muitos eventos (em tradução literal, estados), em particular, eventos mentais (em tradução literal, psicológicos), são cognoscíveis, mesmo que apenas parcialmente, imperfeitamente e gradualmente.
- Um animal (incluindo um ser humano) pode conhecer um objeto concreto somente se ambos puderem se conectar mediante sinais de que o primeiro poderá ser detectado e decodificado («interpretado»).
- A experiência comum (ou intuição) é necessária, mas insuficiente para entender os sistemas complexos, tais como os seres humanos e a sociedade humana: por isso, devemos também fazer uso da observação, da experimentação e da teoria.
- A observação e a experimentação deverão ser guiados pela teoria, e por sua vez, isso deverá ser testado de acordo com os dados observacionais ou experimentais.
- Nas ciências, a descrição é necessária, mas insuficiente: também devemos tentar explicar, afim de entender. Devemos realizar também predições, tanto para contrastar as nossas hipóteses como para planejar as nossas ações.
- Explicar um processo mental de forma profunda e verificável é expor o(s) seu(s) mecanismo(s) neurofisiológico(s).
- As hipóteses imprecisas programáticas, de forma que «a variável e depende da variável x», assim como as correlações estatísticas, não são resultados finais da investigação. Na melhor das hipóteses, elas são pontos de partida para projetos de investigação e para orientar a uma busca por leis.
- A psicologia é uma ciência, não é um ramo da literatura, e é ao mesmo tempo tanto biológica como sociológica (ou seja, é uma ciência socio-natural).
- As fronteiras entre os diversos capítulos da psicologia são um tanto artificiais (ou arbitrários) e variáveis. Isso ocorre porque cada um desses capítulos estuda funções específicas de uma parte de um único sistema nervoso.
- É desonesto inventar dados, propor deliberadamente conjecturas inverificáveis, publicar textos incompreensíveis e utilizar psicoterapias ou tratamentos psiquiátricos que não foram validados experimentalmente.
Não dispus de lugar algum para defender ou atacar estes princípios, uma tarefa que foi realizada em outros lugares. A única coisa que importa no momento é que essas proposições e negações são filosófico-científicas, porque (a) contêm conceitos filosóficos e científicos; (b) pertencem à filosofia (ou meta-teoria) da psicologia; e, (c) são adotadas (ou explicitamente rejeitadas) por pesquisadores em psicologia.