“Uma imagem vale mais que mil palavras”.
Esse é um ditado extremamente popular, inclusive nas redações de veículos de comunicação. Mas será que tal pensamento é realmente verdadeiro? Bem, creio que é um conceito perigoso. Afinal, uma imagem, assim como um texto, sempre está passível a sofrer interferências por conta de conceitos editoriais e interesses de diversas ordens. Incluso políticos.
O registro fotográfico presente nesse post, da agência de notícias Associated Press (AP), foi efetuado em março de 2003, no sul do Iraque. À época, o país fora invadido por tropas de uma aliança formada por Estados Unidos, Grã-Bretanha e outras nações, a dita Coalizão. O motivo (ou pretexto) era a busca por armas de destruição em massa no país então comandado por Saddam Hussein.
A foto original, por assim dizer, fica ao centro. Mostra um dos 200 soldados iraquianos rendidos pela 15ª Unidade Expedicionária da Marinha Norte-Americana durante uma ofensiva, em 21 de março de 2003. O iraquiano recebe água de um soldado da Coalizão, à direita na foto central, e é apoiado por outro militar, à esquerda.
Também à esquerda, há um terceiro soldado norte-americano. Ele não aparece na foto – apenas sua arma. Perceba que a mesma parece apontada ao iraquiano. Algo até compreensível, afinal, embora o soldado local parecesse bastante debilitado, sabe-se lá se ele não poderia, por exemplo, sacar uma arma e atirar nos “U.S. Marines”.
Por conta desse cenário, surgiu um contraste. Veículos de comunicação norte-americanos poderiam “recortar” essa imagem, usando apenas o lado direito, para exaltar o lado humano de seus compatriotas combatentes; do mesmo modo, um veículo de comunicação local poderia escolher o lado esquerdo para gerar somente a sensação de que, mesmo ferido, o soldado iraquiano seguia exclusivamente sob a mira de uma arma de um norte-americano.
Como afirmava o escritor e jornalista inglês George Orwell: ”Em uma época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”.