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A água na Lua é mais comum do que pensávamos, revelam estudos

Por Linda Geddes
Publicado no The Guardian

Os cientistas reuniram algumas das evidências mais convincentes da existência de água na Lua – e as fontes de água podem ser relativamente acessíveis. A descoberta tem implicações para futuras missões à Lua e de exploração no espaço sideral profundo.

Sem uma atmosfera significativa isolando-a dos raios solares, presumia-se que a superfície da Lua era totalmente seca – até a década de 1990, quando uma espaçonave em órbita encontrou indícios de gelo em crateras grandes e inacessíveis perto dos polos lunares.

Então, em 2009, espectrômetros de imagem a bordo da espaçonave Chandrayaan-1 da Índia registraram assinaturas consistentes com a água na luz refletida na superfície da Lua. Mesmo assim, as limitações técnicas faziam com que fosse impossível saber se realmente era H2O (água) ou moléculas de hidroxila (consistindo em um átomo de oxigênio e um átomo de hidrogênio) em minerais.

Agora, Casey Honniball do Centro de Voos Espaciais ASA-Goddard da NASA em Maryland, EUA, e sua equipe detectaram uma assinatura química que é inequivocamente H2O, medindo os comprimentos de onda da luz solar refletida na superfície da Lua. Os dados foram coletados pelo Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy (SOFIA), um Boeing 747 modificado que carrega um telescópio refletor de 2,7 metros.

A água foi descoberta em altas latitudes em direção ao polo sul da Lua em uma abundância de 0,1 para 0,4 metros por quilômetros. “Isso é bastante”, disse Mahesh Anand, professor de ciência planetária e exploração da Open University em Milton Keynes. “É quase a mesma quantidade que se dissolve na lava que flui das dorsais meso-oceânicas da Terra, que poderia ser colhida para produzir água líquida nas condições de temperatura e pressão adequadas”.

A existência de água tem implicações para futuras missões lunares, porque pode ser tratada e usada para beber; separada em hidrogênio e oxigênio para uso como propelente de foguete; e o oxigênio pode ser usado para respirar. “A água é uma mercadoria muito cara no espaço”, disse Anand.

No entanto, colhê-la em crateras escuras de paredes íngremes, onde a temperatura raramente sobe acima de -230°C – que é onde se supõe que fica a maior parte da água congelada – seria um empreendimento perigoso.

“Se descobrir que há muita água nessas áreas não permanentemente em sombras, então essa é uma área potencialmente muito grande e acessível porque está sob a luz do Sol”, disse Ian Crawford, professor de ciência planetária e astrobiologia em Birkbeck, Universidade de Londres.

No entanto, as perguntas permanecem. Uma é a forma em que a água existe. Uma possibilidade é que ela se dissolva no “vidro” lunar, criado quando meteoritos atingem a superfície da Lua. Alternativamente, pequenos cristais de gelo podem ser distribuídos entre os grãos do solo lunar. Este último seria muito mais fácil de extrair, disse Anand.

Outra é a profundidade dessa fonte de água recém-confirmada. Se fosse restrita aos poucos mícrons ou milímetros superiores da superfície, teria efeito prático mínimo – embora ainda ajudasse a responder interessantes questões científicas sobre como ela chegou lá, disse o professor Crawford.

A única maneira real de descobrir é ir à Lua e começar a perfurar. Isso pode não estar muito longe. A missão Artemis de NASA planeja enviar um astronauta masculino e feminino à Lua até 2024. Cientistas britânicos também estão desenvolvendo uma broca robótica para coletar amostras de solo lunar de profundidades de até um metro, como parte de uma missão russa programada para 2025.

Mas onde eles deveriam cavar? Áreas permanentemente em sombras ainda seriam a melhor aposta, porque a água estaria mais protegida dos raios do Sol ali. Outro artigo na Nature Astronomy sugere que essas áreas podem ser mais numerosas e acessíveis do que se acreditava anteriormente.

Usando imagens do Lunar Reconnaissance Orbiter, Paul Hayne, da Universidade do Colorado em Boulder, e seus colegas mapearam a distribuição de crateras menores e áreas de solo acidentado e calcularam que aproximadamente 40.000 km2 da superfície lunar tem a capacidade de reter água. Embora isso ainda represente apenas 0,15% da superfície lunar, sua existência também pode reduzir o risco de conflito entre as nações lunares.

Representação artística da NASA mostra a localização da cratera lunar Clavius, onde SOFIA detectou gelo de água na superfície lunar. Crédito: NASA.

“Com bilhões de reservatórios de água potenciais espalhados pelas regiões polares, o foco deve ser mudado para se distanciar das numerosas grandes crateras conhecidas rumo a infinidade de locais de aterrissagem potenciais que nosso estudo revela”, disse o professor Hayne.

No início de outubro, oito países assinaram os Acordos de Artemis, um conjunto de acordos internacionais elaborados pelos EUA que regem a futura exploração da Lua e de seus recursos.

“Os acordos reúnem as normas de comportamento existentes que estabelecemos, como o reconhecimento de que a exploração da Lua deve ser para fins pacíficos, que deve haver transparência nas operações e compartilhamento de dados, e assim por diante”, disse Christopher Newman, professor de lei e política espacial na Universidade de Northumbria, em Newcastle (Reino Unido). Outros signatários são esperados, mas a Rússia está hesitante e a China está impedida de assinar por causa de disputas comerciais em andamento com os EUA.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.