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Esses dinossauros minúsculos provavelmente eram piores no voo do que as galinhas

Por Jacinta Bowler
Publicado na ScienceAlert

A descoberta de dois pequenos dinossauros com asas de morcego há alguns anos era o sonho de todo paleontólogo. Exatamente como o voo evoluiu nos pássaros é algo que ainda estamos tentando descobrir, e olhar para essa evolução inicial que é semelhante às asas de morcego nos dinossauros pode nos dar uma pista.

Mas uma equipe de pesquisadores acaba de mostrar que só porque você tem asas, isso não significa necessariamente que você seja realmente bom em voar.

Yi qi e Ambopteryx longibrachium são duas espécies de dinossauros terópodes que viveram há cerca de 160 milhões de anos, ambos com dedos incomumente alongados e uma membrana de pele esticada entre eles, semelhante à asa de um morcego.

Esta é uma asa totalmente diferente daquela com a qual os dinossauros terópodes evoluíram para o voo – os dinossauros que eventualmente se tornaram pássaros. E, ao contrário deles, depois de apenas alguns milhões de anos, Yi Ambopteryx se extinguiram, o que é o primeiro indício de que essas asas incomuns nem se comparavam com àquelas dos descendentes das aves.

No entanto, asas estranhas de criaturas extintas significam que é provável que vários tipos de asas (e, portanto formas de voo) evoluíram ao longo dos anos, e que as do Yi e do Ambopteryx não foram partes da estratégia vencedora.

Mas antes que você possa descartar Yi e Ambopteryx como falhas evolucionárias completas de voo, você teria que saber o quão bom (ou ruim, conforme o caso) as duas espécies eram no voo.

Em 2015, quando Yi foi encontrado, essa equipe de pesquisadores sugeriu que o tamanho de suas asas e outras características de voo poderiam significar que era uma criatura planadora – no entanto, é diferente de qualquer outro planador que conhecemos, e seu centro de massa pode ter feito até o ato de planar difícil. Só não tínhamos certeza.

Um novo estudo, realizado por pesquisadores nos Estados Unidos e na China, agora analisou o potencial de voo do Yi e do Ambopteryx com muito mais detalhes e chegou à conclusão de que eles realmente não eram bons em tirar seus pezinhos das árvores que em moravam.

“Usando imagens de fluorescência estimuladas por laser, reavaliamos sua anatomia e realizamos cálculos aerodinâmicos que cobrem o potencial de voo, outros comportamentos baseados em asas e capacidades de planagem”, escreve a equipe.

“Descobrimos que Yi e Ambopteryx eram provavelmente arbóreos, altamente improváveis ​​de terem qualquer forma de voo motorizado e tinham deficiências significativas na locomoção baseada no bater de asas e habilidades de planagem limitadas”.

A análise dos fósseis da equipe (Yi na foto abaixo) foi capaz de perceber pequenos detalhes em tecidos moles que você não pode ver com luz normal.

Fóssil de Yi qi. Crédito: Flickr.

Em seguida, a equipe modelou computacionalmente como os dinossauros podem ter voado, ajustando diversas características, como peso, envergadura e posicionamento dos músculos (todas as coisas que não podemos falar com base apenas em fósseis).

Os resultados foram… desanimadores.

“Eles realmente não podiam fazer voos sofisticados”, disse o autor principal, o biólogo Thomas Dececchi, da Universidade Mount Marty (EUA).

“Você tem que fazer suposições extremamente generosas sobre como eles podem bater as asas. Você basicamente tem que modelá-los a partir do maior morcego que conhecemos, torná-los o mais leve, fazê-los bater as asas tão rápido quanto um pássaro veloz e dar-lhes músculos mais altos do que provavelmente tinham para restringir essas limitações. Eles podiam planar, mas mesmo o planar deles não era grande coisa”.

Mapa do tecido mole de Yi qi. Créditos: Dececchi et al., iScience, 2020.

Então, de acordo com Dececchi e o modelo computacional de sua equipe, estamos olhando para uma capacidade de voo consideravelmente pior do que uma galinha, talvez pior do que o papagaio da Nova Zelândia que não voa, o kakapo, que também se limita principalmente a planar de árvores, mas pode, pelo menos, voar apenas para controlar a descida.

Mas embora seja um pouco triste para o Yi e o Ambopteryx, é uma boa notícia para nós – as descobertas fornecem ainda mais evidências de que os dinossauros desenvolveram o voo (ou, pelo menos, tentaram) várias vezes.

Como a equipe aponta, considerando todos os tipos de morcegos, petauros-do-açúcaresquilos voadores e outros mamíferos planadores ou voadores, talvez não seja uma surpresa.

“Propomos que este clado foi uma colonização independente do reino aéreo por terópodes não-avialanos. Se for verdade, isso representaria, pelo menos, dois, mas mais provavelmente três ou mais tentativas de voo (tanto propulsado quanto planado) por pequenos terópodes penaraptoranos durante o Mesozoico”, escreve a equipe em seu artigo.

“Dado o grande número de ocorrências independentes de voo planado dentro dos mamíferos do grupo coroa, isso talvez não seja surpreendente, mas cria uma imagem mais complexa do ecossistema aéreo”.

Parece que algumas coisas não mudam muito, mesmo em cem milhões de anos.

A pesquisa foi publicada na iScience.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.