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A estrela Betelgeuse pode estar coberta de poeira, não prestes a explodir

Por Lisa Grossman
Publicado na Science News Magazine

Betelgeuse, uma das estrelas mais brilhantes do céu, escureceu repentinamente no final de 2019, surpreendendo os astrônomos e provocando especulações de que a estrela estava prestes a explodir.

Mas até o final de fevereiro, Betelgeuse começou a brilhar novamente, desmentindo os rumores de sua morte. Agora, um estudo sugere que o escurecimento foi causado por uma nuvem de poeira lançada recentemente pela estrela.

“Acho que algumas pessoas queriam que esse evento fosse visto como uma estrela agonizando no leito de morte, e isso não parece ser verdade”, disse a astrofísica Emily Levesque, da Universidade de Washington, em Seattle.

Betelgeuse, que faz parte de um tipo de estrela massiva e idosa conhecida como supergigante vermelha, fica a cerca de 700 anos-luz da Terra e se destaca no rebordo da constelação de Órion. Os astrônomos sabem há décadas que, em breve, a estrela ficará sem combustível e explodirá em uma brilhante supernova.

Então, quando a estrela começou a escurecer em outubro de 2019, os astrônomos rapidamente perceberam a mudança. Em 23 de dezembro, ela passou da sexta ou sétima estrela mais brilhante do céu para a 21ª. “Isso não significa necessariamente que uma explosão seja iminente, mas vale a pena assistir a qualquer comportamento estranho de uma supergigante vermelha”, disse Levesque.

“Quando as pessoas pensam em estrelas visíveis em nosso céu que podem explodir em breve, Betelgeuse está perto do topo da lista”, diz ela. “Então, quando as pessoas disseram que esta estrela estava fazendo algo estranho, isso chamou a atenção das pessoas”.

Levesque e o astrônomo Philip Massey, do Observatório Lowell em Flagstaff, Arizona (Estados Unidos), decidiram investigar possibilidades de que uma supernova iminente pudesse explicar o escurecimento. Outras possibilidades incluem a superfície da estrela esfriando repentinamente, quando bolhas de plasma sobem e afundam em sua camada externa, ou uma nuvem de poeira sendo recentemente lançada da estrela, obscurecendo temporariamente sua luz e fazendo Betelgeuse parecer mais escura do que é realmente.

A dupla observou a estrela em 14 de fevereiro – quando estava quase no ponto mais escuro – procurando sinais de moléculas de óxido de titânio nas camadas externas da estrela, uma pista para sua temperatura. Comparando essas observações com as semelhantes que Levesque fez em 2004, a temperatura caiu cerca de 25 graus Celsius.

Essas imagens, produzidas pelo instrumento SPHERE no Very Large Telescope no Chile, mostram Betelgeuse antes (esquerda) e depois (direita) de seu dramático episódio de escurecimento. Crédito: ESO.

“Para nossa surpresa, Betelgeuse não parecia tão diferente”, diz Levesque. “A temperatura não podia podia explicar o fato da Betelgeuse ter ficado tão escura nos últimos meses”.

Isso fez com que fosse analisada a possibilidade de uma nuvem de poeira, relatam os cientistas em um estudo que será publicado no Astrophysical Journal Letters. “É parcialmente um processo de eliminação”, diz Levesque. Supergigantes vermelhas como Betelgeuse são conhecidas por lançar nuvens de gás que se condensam em poeira. E a estrela escureceu uniformemente sobre todos os comprimentos de onda medidos por Levesque, o que apoia a ideia de que a poeira da estrela está por trás da história. Por outro lado, a poeira que fica nos espaços entre as estrelas bloqueia certos comprimentos de onda da luz mais do que outros.

O estudo “é o primeiro passo para uma melhor compreensão do que está acontecendo com Betelgeuse”, diz o astrofísico Miguel Montargès, da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, que não participou da pesquisa.

Montargès e colegas observaram Betelgeuse no Very Large Telescope do Chile. O brilho da estrela parecia notavelmente mais fraco em dezembro de 2019 do que quando o telescópio a observou em janeiro de 2019, antes do início do escurecimento. Mas o escurecimento parecia ocorrer apenas no hemisfério sul da estrela, não uniformemente na Betelgeuse, de acordo com uma imagem divulgada pela equipe em 14 de fevereiro. Isso pode ser explicado por uma nuvem de poeira assimétrica, embora a situação possa ser mais complicada. Montargès planeja observar Betelgeuse novamente na semana de 16 de março e publicar os resultados ainda este ano.

Se o escurecimento for devido à poeira, isso dará aos astrônomos a oportunidade de assistir uma estrela próxima perdendo massa em tempo real. “Tem uma citação famosa, de que somos poeira de estrelas”, diz Montargès, parafraseando uma frase do astrofísico Carl Sagan. “Talvez os átomos que estamos vendo um dia façam parte de um planeta, e talvez seres sencientes. É por isso que é realmente emocionante”.

Outros astrônomos estão esperando mais informações. “O modelo da poeira é provável, mas também não podemos descartar mudanças na própria estrela”, disse o astrônomo Edward Guinan, da Universidade Villanova, da Pensilvânia (Estados Unidos), que também observa Betelgeuse desde o outono. A Betelgeuse naturalmente escurece e clareia em um ciclo de 420 dias e, embora o escurecimento não seja tão extremo, ainda pode não ser nada fora do comum. “Acho que um veredito ainda não foi dado”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.