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A estrutura da explicação racional, por John Searle

A explicação racional apresenta uma lógica distinta das explicações causais ordinárias. De maneira geral, explicações causais habituais podem ser apresentadas assim: “um acontecimento A causou um acontecimento B”, em função de contextos específicos, de forma característica, essas explicações são consideradas adequadas, pois supomos que, em um mesmo contexto, o acontecimento A era suficiente do ponto de vista causal para produzir o acontecimento B.

Porém, a estrutura lógica estabelecida para explicação do comportamento humano é diferente, não tendo a forma “A causou B”, mas como se segue: “Fulano S realizou um ato A baseado em uma razão R”. Sendo assim, esse tipo de explicação não pretende apontar para as condições causalmente suficientes para o ato A, mas identificar a razão pela qual o agente estava baseado.

Podemos apontar para o fato de que essas explicações, assim como qualquer explicação, suscitam novos questionamentos, por exemplo, por que algumas razões são efetivas e outras não? Se realizei um ato A, baseado em uma razão R, por que eu desejava isso? Por que essa razão era mais imperativa que outras? Entre outras.

É evidente que podemos sempre postergar a exigência de explicação, mas assim acontece com qualquer explicação, afinal, em algum momento as explicações devem se interromper e não há nada de inadequado em dizer que realizei A com base em R, demonstrar que minha resposta pode provocar outras questões não torna uma resposta inadequada.

Sendo assim, parece que especificar os contextos pelos quais as ações humanas ocorrem, não é condição suficiente para que explicações sobre os atos humanos se tornem inteligíveis, pois, mesmo descrevendo as variáveis ambientais ligadas a ocorrência de determinado comportamento, não estaremos dispostos a aceitar que sejam causalmente suficientes para produzi-lo, é necessário que postulemos a existência de um eu não redutível, um agente racional, que age com base em razões sobre os contextos em que está inserido.

Referência

SEARLE, John R.. Liberdade e Neurobiologia: Reflexões sobre o livre-arbítrio, a linguagem e o poder político. São Paulo: Unesp, 2007.

Armando de Lima

Armando de Lima

Sou acadêmico do curso de Psicologia e monitor da disciplina de Psicologia Comportamental, do laboratório de Psicologia Experimental, da Universidade do Vale do Itajaí, SC.