Por Catherine Matacic
Publicado na Science
Os italianos são alguns dos falantes mais rápidos do planeta, tagarelando até nove sílabas por segundo. Muitos alemães, por outro lado, são enunciadores lentos, proferindo de cinco a seis sílabas por segundo. No entanto, a qualquer minuto, italianos e alemães transmitem aproximadamente a mesma quantidade de informações, de acordo com um novo estudo. Na verdade, não importa quão rápido ou devagar as línguas são faladas, elas tendem a transmitir informações aproximadamente na mesma taxa: 39 bits por segundo, cerca de duas vezes a velocidade do código Morse.
“É um estudo bastante robusto”, diz Bart de Boer, um linguista evolucionista que estuda a produção da fala na Universidade Livre de Bruxelas, mas não esteve envolvido no trabalho. Os amantes da linguagem há muito tempo suspeitam que as linguagens carregadas de informações – aquelas que contêm mais informações sobre o tempo verbal, o gênero e sobre o próprio falante em menores unidades, por exemplo – são proferidas de maneira lentas para compensar sua densidade de informação, diz ele, enquanto linguagens leves de informação, como o italiano, pode “galopar” em um ritmo muito mais rápido. Mas, até agora, ninguém tinha os dados para provar isso.
Os cientistas começaram com textos escritos em 17 idiomas, incluindo inglês, italiano, japonês e vietnamita. Eles calcularam a densidade de informações de cada idioma em bits – a mesma unidade que descreve a rapidez com que seu celular, laptop ou modem de computador transmite informações. Eles descobriram que o japonês, que tem apenas 643 sílabas, tinha uma densidade de informação de cerca de 5 bits por sílaba, enquanto o inglês, com suas 6.949 sílabas, tinha uma densidade de pouco mais de 7 bits por sílaba. O vietnamita, com seu sistema complexo de seis tons (cada um dos quais pode diferenciar ainda mais uma sílaba), liderou as paradas com 8 bits por sílaba.
Em seguida, os pesquisadores passaram 3 anos recrutando e gravando 10 falantes – cinco homens e cinco mulheres – de 14 dos 17 idiomas estudados (eles usaram gravações anteriores para os outros três idiomas). Cada participante leu em voz alta 15 passagens idênticas que haviam sido traduzidas para sua língua materna. Depois de observar quanto tempo os falantes levaram para realizar suas leituras, os pesquisadores calcularam uma taxa média de fala por idioma, medida em sílabas/segundo.
Algumas línguas eram claramente mais rápidas do que outras: nenhuma surpresa nisso. Mas quando os pesquisadores foram para a etapa final – multiplicando essa taxa pela taxa de bits para descobrir quanta informação se movia por segundo – eles ficaram chocados com a consistência de seus resultados. Não importa o quão rápido ou lento, simples ou complexo, cada idioma girou em torno de uma taxa média de 39,15 bits por segundo, como relatado na Science Advances. Em comparação, o primeiro modem de computador do mundo (lançado em 1959) tinha uma taxa de transferência de 110 bits por segundo, e a conexão doméstica média com a Internet hoje tem uma taxa de transferência de 100 megabits por segundo (ou 100 milhões de bits).
“Às vezes, fatos ou padrões interessantes ficam escondidos à vista de todos”, diz o coautor do estudo François Pellegrino, um linguista evolucionista do Laboratório Dynamique Du Langage, patrocinado pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica (Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS), na Universidade de Lyon, França. Como a ciência da linguagem se concentrou tanto em coisas como a complexidade gramatical, diz ele, essa taxa de transferência de informações foi deixada de lado. A “conclusão cristalina”, acrescenta, é que, embora as linguagens difiram amplamente em suas estratégias de codificação, nenhuma linguagem é mais eficiente do que a outra na entrega de informações.
Mas o “porquê” é completamente uma outra questão. Pellegrino e seus colegas suspeitam que a resposta tem tudo a ver com os limites impostos por nossa frágil biologia – quanta informação nosso cérebro pode absorver – ou produzir – a qualquer momento. A pesquisa neurocientífica sustenta essa ideia, com um artigo recente sugerindo um limite máximo para o processamento auditivo de 9 sílabas por segundo em inglês dos EUA.
De Boer concorda que nosso cérebro é o obstáculo. Mas, ele diz, em vez de sermos limitados pela rapidez com que podemos processar informações como ouvintes, provavelmente somos limitados pela rapidez com que podemos reunir nossos pensamentos. Isso porque, diz ele, a pessoa média consegue ouvir gravações de áudio aceleradas em cerca de 120% – e ainda não tem problemas de compreensão. “Realmente parece que o obstáculo está em colocar as ideias juntas”.