Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Os vazamentos de metano do meio ambiente e da atividade humana são um sério problema de emissão gases de efeito estufa. O metano é muitas vezes mais eficaz do que o dióxido de carbono na retenção do calor, e os cientistas agora dizem que a Lua desempenha um papel fundamental na quantidade de gás liberada.
Tudo se resume às marés e ao efeito de tração que a atração gravitacional da Lua exerce sobre elas – um fenômeno que podemos quantificar. Ao colocar um instrumento piezômetro no Oceano Ártico por quatro dias e noites, os pesquisadores foram capazes de medir as mudanças de temperatura e pressão ao longo do tempo.
O que eles descobriram foi que a presença de gás metano próximo ao fundo do mar sobe e desce com as marés, o que é um importante fator contribuinte quando se trata de liberação de metano, e que impacta as mudanças climáticas que estamos testemunhando agora e no futuro.
“Percebemos que as acumulações de gás, que estão nos sedimentos a um metro do fundo do mar, são vulneráveis até mesmo a pequenas mudanças de pressão na coluna de água”, disse a geofísica marinha Andreia Plaza-Faverola, pesquisadora da Universidade de Tromsø e da Universidade Ártica da Noruega.
“A maré baixa significa menos pressão hidrostática e maior intensidade de liberação de metano. A maré alta é igual a alta pressão e menor intensidade de liberação”.
Esses vazamentos de metano no Oceano Ártico ocorrem há milhares de anos, causados por fatores como atividade sísmica e vulcânica, mas há muito mais para aprender sobre os mecanismos que causam esse vazamento e que afetam essa taxa.
É aí que entram a Lua e as marés. Os pesquisadores dizem que as marés podem ser usadas como uma forma de prever a quantidade de gás liberada do Oceano Ártico de dia para dia, mesmo com variações na altura das marés de menos de 1 metro.
Uma das conclusões é que a liberação de gás do fundo do mar é mais disseminada do que mostram os dados de pesquisas de sonar convencionais, e podemos ter subestimado a quantidade de gás que o Ártico está vazando no momento, mesmo que não seja totalmente liberado de uma vez.
“Os sistemas terrestres estão interconectados de maneiras que ainda estamos decifrando, e nosso estudo revela uma dessas interconexões no Ártico”, disse Plaza-Faverola.
“A Lua causa forças de maré, as marés geram mudanças de pressão e correntes de fundo que, por sua vez, moldam o fundo do mar e impactam as emissões submarinas de metano”.
O estudo também levanta a possibilidade de que a subida do nível do mar possa neutralizar a liberação de metano dos oceanos, já que a maior pressão da água mantém o gás preso por mais tempo. É apenas um de uma infinidade de fatores que os cientistas precisam avaliar.
Em seguida, os pesquisadores querem capturar mais dados em um período de tempo mais longo para ver como as mudanças nas marés estão afetando a liberação de metano na região como um todo: de locais de águas profundas como este, a áreas de águas rasas onde o efeito das variações das marés na liberação de gás é provavelmente ainda maior.
Embora as mudanças das marés tenham sido associadas às emissões de metano no passado, o local geográfico deste estudo e as oscilações observadas mesmo por pequenas diferenças na pressão tornam-no um novo ponto de informação crucial para a modelagem de mudanças climáticas futuras.
“É a primeira vez que essa observação é feita no Oceano Ártico”, disse o geólogo marinho Jochen Knies.
“Isso significa que pequenas mudanças de pressão podem liberar quantidades significativas de metano. Isso é algo incrível e o maior impacto do estudo”.
A pesquisa foi publicada na Nature Communications.