Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert
Os montanhistas que tropeçaram pela primeira vez em uma múmia completamente congelada dentro de uma ravina alpina europeia em 1991 devem ter recebido um grande choque.
Desde então, a vítima de assassinato de cerca de 5.200 anos, Ötzi, o Homem de Gelo, continuou surpreendendo as pessoas – incluindo os arqueólogos que agora o estudam.
Acredita-se que a múmia neolítica tenha sido preservada por um evento estranho que é improvável de ocorrer novamente – ele teria sido liofilizado e envolto em uma geleira logo após ter sido morto com um ferimento nas costas infligido por uma flecha.
Mas após uma nova análise, o arqueólogo Lars Pilø, do Departamento de Patrimônio Cultural do Conselho do Condado de Innlandet, na Noruega, e seus colegas agora acreditam no contrário.
Ötzi é a múmia humana natural mais antiga da Europa. Ele tem sido intensamente pesquisado nos 30 anos desde sua descoberta. Agora sabemos o que ele usava, que tinha tatuagens, qual foi sua última refeição e até mesmo como seria a voz dele.
Mas se Ötzi tivesse sido continuamente congelado após sua morte, preso em uma espécie de cápsula do tempo como se pensava originalmente, ele teria sido melhor preservado, argumentam Pilø e equipe em um novo estudo.
Em vez disso, apenas sua metade inferior ainda está em perfeitas condições, enquanto a pele na parte de trás do pescoço se desprendeu para expor o osso craniano, e sua vestimenta de pele animal se fragmentou em várias partes deixando as costas nuas.
Além disso, um artefato encontrado com a múmia congelada foi originalmente pensado ter sido danificado durante o conflito antes da morte de seu dono, mas Pilø e seus colegas concluíram que o dano é consistente com algo que poderia ocorrer após o depósito dos materiais, especialmente se o gelo circundante derreteu e recongelou repetidamente.
Esquis antigos, flechas e equipamentos de caça não relacionados a este achado também mostram quebras e desgaste semelhantes aos artefatos encontrados com Ötzi, sugerindo que eles geralmente ocorrem durante quedas de derretimento do gelo ou pelas forças criadas pelo gelo deslizante.
“Esta evidência sugere fortemente que a parte superior do corpo foi exposta em várias ocasiões antes da descoberta de 1991”, escreveram os pesquisadores.
Pilø e colegas explicam que, como os pertences do homem foram encontrados espalhados a até 6 metros de distância, Ötzi pode não ter morrido onde foi encontrado mais tarde. O homem provavelmente encontrou seu fim acima da ravina, enterrado pela neve da primavera, apenas para mais tarde ser arrastado para a ravina pela água do degelo.
“Durante os verões quentes, Ötzi e seus artefatos provavelmente foram expostos periodicamente nos 1.500 anos após sua morte”, escreveram Pilø e sua equipe em seu paper.
Nas últimas décadas, o conhecimento sobre essas descobertas no gelo aumentou substancialmente, permitindo que os pesquisadores vejam as circunstâncias de Ötzi de uma nova maneira.
“Uma série de circunstâncias especiais não é necessária para a preservação desse tipo de descoberta, e locais relevantes agora são afetados por eventos de derretimento pesado”, concluiu a equipe, o que significa que esse tipo de mumificação pode ser uma ocorrência mais comum do que se pensava anteriormente.
O derretimento das geleiras induzido pelas mudanças climáticas também já expôs os restos de pessoas enterradas há décadas, artefatos e animais antigos incrivelmente bem preservados, como ursos e rinocerontes-lanudos.
Quem sabe o que mais está por baixo da superfície, esperando o degelo.
Esta pesquisa foi publicada no The Holocene.