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A origem misteriosa da adaga de rocha espacial do rei Tutancâmon ficou mais clara

Você já deve conhecer a lenda da adaga espacial do rei Tutancâmon – uma arma de ferro forjada da rocha de meteoritos e sepultada com o antigo faraó egípcio.

Agora, um novo estudo revelou mais detalhes sobre este artefato que está entre os mais fascinantes e misteriosos.

Uma análise química completa, envolvendo fotografia de alta resolução e raios-X, revelou o tipo de meteorito do qual a adaga provavelmente foi forjada, bem como o processo usado para fazê-la.

Além disso, parece que o objeto não foi feito no Egito, mas foi apresentado como um presente ao rei Tut ou a um de seus ancestrais.

Talvez o mais significativo seja a descoberta do chamado padrão Widmanstätten na adaga, evidenciando os longos cristais de níquel-ferro encontrados em meteoritos de ferro octaedrita, o tipo mais comum de meteoritos de ferro.

“Para entender a fabricação e a origem da adaga, realizamos uma análise química bidimensional não destrutiva e sem contato no local para a adaga”, disse a cientista planetária Tomoko Arai, do Instituto de Tecnologia de Chiba, no Japão, ao Gizmodo. “Percebemos uma textura tracejada presente em alguns lugares dos dois lados [da adaga], sugerindo a estrutura do padrão Widmanstätten, típica de [um] meteorito de ferro octaedrita. Esse foi o nosso momento de ‘UAU!'”.

Para que esse padrão fosse mantido, uma técnica de forjamento de temperatura relativamente baixa foi provavelmente usada para moldar a arma. Os pesquisadores acham que a adaga foi fabricada em temperaturas abaixo de 950 graus Celsius – se fossem muito mais altas do que isso, o padrão teria desaparecido.

Esta história de origem para o objeto é apoiada pelas manchas pretas sobre a lâmina e dentro de uma rachadura na superfície da lâmina. Essas áreas ricas em enxofre são provavelmente causadas pelo aquecimento da troilite, um mineral de sulfeto de ferro encontrado em meteoritos de ferro.

Quanto à composição química do cabo, a análise revela que as pedras decorativas provavelmente foram fixadas com gesso de cal, processo que não foi comumente adotado no Egito até muito mais tarde na história. Isso significa que a adaga provavelmente veio de outro lugar.

“[O] cabo de ouro sugere a origem estrangeira [da adaga], possivelmente de Mitani, na Anatólia, como sugerido por uma das cartas encontradas em Amarna dizendo que uma adaga de ferro com cabo de ouro foi presenteada pelo rei de Mitani a Amenófis III, o avô de Tutancâmon”, escrevem os pesquisadores em seu estudo.

Essa ideia de que a adaga veio de fora do Egito já foi sugerida antes, mas agora temos mais provas. Mais estudos devem ser capazes de estabelecer se esta é realmente uma herança de família transmitida através das gerações.

Antes da Idade do Ferro e suas tecnologias associadas serem desenvolvidas, a maioria dos artefatos de ferro provavelmente foram forjados a partir de fragmentos de meteoritos que caíram do espaço. Este não teria sido um processo simples e provavelmente envolveu muitas tentativas e erros.

Tsutomu Saito, professor de ciência das propriedades culturais do Museu Nacional de História Japonesa no Japão, não fez parte do estudo atual, mas trabalhou em pesquisas anteriores sobre forjamento de ferro que antecede a Idade do Ferro.

“[O estudo] fornece evidências de que os povos antigos chegaram nas condições que previmos cientificamente”, disse Saito ao Asahi Shimbun, sugerindo que os forjadores da época usavam tanto o instinto quanto a experiência para encontrar as temperaturas certas para fabricar seus produtos. “Esta é uma descoberta importante que mostra o ponto de partida da busca da humanidade para desenvolver a tecnologia de fabricação de ferro”.

A pesquisa foi publicada em Meteoritics & Planetary Science.

O artigo foi publicado originalmente por David Nield na ScienceAlert.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.