Pular para o conteúdo

A vida em Vênus teria que ser um novo tipo de organismo, afirmam astrônomos

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Se a vida existe em Vênus, não é como qualquer organismo que já foi encontrado na Terra, afirmam cientistas em um novo estudo.

No final de 2020, a questão da habitabilidade potencial de Vênus entrou em foco, graças à detecção de fosfina na atmosfera do planeta, que alguns cientistas sugeriram ser evidência de uma bioassinatura, hipoteticamente falando.

Embora tenha havido muito debate entre os pesquisadores sobre este tópico específico, a descoberta reacendeu o interesse na ideia de que Vênus – um ambiente famoso por ser tóxico e infernal – pode ser capaz de sustentar vida.

Coincidentemente, a NASA está enviando duas novas missões para investigar Vênus – a primeira em décadas – o que pode nos dar um melhor entendimento sobre se este mundo inóspito pode ter sido habitável.

Essas descobertas futuras ainda estão a vários anos de distância, mas novas descobertas científicas publicadas esta semana sugerem que talvez não devamos ficar ansiosos por sinais de vida em Vênus tão cedo.

De acordo com uma análise conduzida pelo microbiologista John Hallsworth da Queen’s University de Belfast, a falta de disponibilidade de água nas nuvens de Vênus impede a vida de viver por lá – ou, pelo menos, a vida como a conhecemos – já que simplesmente não haveria água suficiente para os organismos prosperarem.

Calculando as medições da atividade aquosa – um parâmetro termodinâmico que é efetivamente equivalente à umidade relativa do ar em considerações atmosféricas – os pesquisadores descobriram que a atmosfera de Vênus é muito seca para que organismos semelhantes à Terra sobrevivam.

“A atividade aquosa atua como um determinante potente da funcionalidade das células microbianas, portanto também é um determinante chave da habitabilidade”, escreveram os pesquisadores em seu estudo.

A atividade aquosa é medida em uma escala de zero (o mínimo) a um (o máximo, semelhante a 100 por cento de umidade). Até onde os cientistas sabem, as funções biológicas nos organismos deixam de funcionar abaixo de um nível de atividade aquosa de 0,585 – com a resistente espécie de fungo xerófilo Aspergillus penicillioides demonstrando o limite mais baixo conhecido.

Infelizmente, as nuvens secas de Vênus – compostas principalmente por gotículas de ácido sulfúrico – nem chegam perto de 0,585 em termos de atividade aquosa, ficando em torno de ≤ 0,004, sugerem os pesquisadores.

Em outras palavras, a atmosfera de Vênus é mais de 100 vezes mais seca do que esse limite de vida hipotético, ou, como os pesquisadores colocaram, “duas ordens de magnitude abaixo do limite de 0,585 para extremófilos conhecidos”.

Pela mesma medida, a atmosfera de Marte também pode ser considerada muito seca para a vida prosperar, embora seu nível de atividade aquosa de ≤ 0,537 esteja apenas ligeiramente abaixo da faixa habitável em comparação com Vênus.

Em termos de atividade de água, as nuvens de Júpiter mostram, no entanto, níveis biologicamente permissivos de atividade aquosa, mas apenas entre temperaturas de -10 °C a 40 °C. No entanto, os pesquisadores observam que esta é apenas uma primeira etapa na avaliação da habitabilidade das nuvens, com outros componentes químicos nas nuvens também podendo afetá-la.

Da mesma forma, a atividade da água na atmosfera da Terra é adequada para a vida, mas apenas na baixa troposfera, com a alta estratosfera e a mesosfera sendo muito secas para serem habitáveis.

Para outros planetas do Sistema Solar – incluindo Saturno, Urano e Netuno – não há atualmente dados suficientes sobre sua consistência atmosférica para realizar o mesmo tipo de análise, embora isso possa mudar no futuro, especialmente quando o Telescópio Espacial James Webb (JWST) se tornar operacional.

Claro, só porque as atmosferas de Vênus e Marte são mais secas do que os limites conhecidos de habitabilidade para extremófilos na Terra, não significa que a vida nesses lugares seja inteiramente impossível.

Só que deve ser muito, muito diferente de qualquer organismo conhecido pela ciência.

“Com base no estudo atual”, explicam os pesquisadores, “devemos imaginar um tipo qualitativamente novo de organismo para invocar uma história plausível sobre a vida na atmosfera de Vênus, pelo menos para a vida como a conhecemos”.

As descobertas foram publicadas na Nature Astronomy.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.