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As ruínas fantasmas de Chernobyl podem em breve ser consagradas como patrimônio mundial

Por Dmytro Gorshkov e Ania Tsoukanova
Publicado na ScienceAlert

A neve caia enquanto um grupo de visitantes equipados com um contador Geiger vagava pela cidade ucraniana fantasmagórica de Pripyat, congelada no tempo desde o pior acidente nuclear da história em 1986.

Mais de três décadas depois que o desastre nuclear de Chernobyl forçou milhares de pessoas a evacuarem da cidade, há um fluxo de visitantes no lugar que agora levou autoridades a solicitarem seu status oficial da UNESCO de patrimônio mundial.

“A zona de Chernobyl já é um sítio mundialmente famoso”, disse o guia turístico Maksym Polivko à Agence France-Presse recentemente durante uma excursão em um dia congelante.

“Mas hoje esta área não tem status oficial”, disse o homem de 38 anos sobre a zona de exclusão, onde a vida selvagem está ocupando blocos de torres, lojas e edifícios oficiais desertos da era soviética.

Isso poderia mudar sob a iniciativa do governo de incluir a área na lista do patrimônio da UNESCO ao lado de sítios como o Taj Mahal da Índia ou o Stonehenge na Inglaterra.

As autoridades esperam que o reconhecimento da agência de cultura da ONU impulsione o local como atração turística e, por sua vez, reforce os esforços para preservar os edifícios antigos nas proximidades.

A explosão no quarto reator da usina nuclear em abril de 1986 deixou partes da Ucrânia e da vizinha Bielorrússia seriamente contaminadas e levou à criação da zona de exclusão aproximadamente do tamanho de Luxemburgo.

As autoridades ucranianas dizem que pode não ser seguro para humanos viver na zona de exclusão pelos próximos 24.000 anos. Enquanto isso, tornou-se um paraíso para a vida selvagem, com alces e veados vagando pelas florestas próximas.

Dezenas de vilas e cidades povoadas por centenas de milhares de pessoas foram abandonadas após o desastre, mas mais de 100 idosos vivem na área, apesar da ameaça da radiação.

Em Pripyat, uma cidade fantasma a quilômetros de distância da usina de Chernobyl, quartos em misteriosos blocos residenciais estão cheios de pertences de antigos residentes.

A hora chegou

Polivko disse esperar que o status encoraje as autoridades a agirem de forma mais “responsável” para preservar a infraestrutura das ruínas da era soviética em torno da usina.

“Todos esses objetos aqui precisam de algum reparo”, disse ele.

Foi um sentimento promovido pelo ministro da Cultura ucraniano, Oleksandr Tkachenko, que descreveu o recente fluxo de turistas nacionais e estrangeiros como evidência da importância de Chernobyl “não apenas para os ucranianos, mas para toda a humanidade”.

Um número recorde de 124.000 turistas visitaram no ano passado, incluindo 100.000 estrangeiros após o lançamento da popular série de televisão Chernobyl em 2019.

Tkachenko disse que obter o status de UNESCO poderia promover a zona de exclusão como “um lugar de memória” que alertaria contra a repetição de um desastre nuclear.

“A área pode e deve ser aberta a visitantes, mas deve ser mais do que apenas um destino para exploradores aventureiros”, disse Tkachenko à Agence France-Presse.

O governo deve propor objetos específicos na zona como patrimônio antes de março, mas uma decisão final deve chegar até 2023.

Após a explosão em 1986, os outros três reatores em Chernobyl continuaram a gerar eletricidade até que a estação finalmente foi fechada em 2000. A Ucrânia marcará o 20º aniversário do fechamento em 15 de dezembro.

Tkachenko disse que o esforço para garantir o status da UNESCO foi uma nova prioridade depois que uma obra em uma cúpula protetora gigante sobre o quarto reator foi concluído em 2016.

Com o local agora seguro por cem anos, ele disse que espera que o status de patrimônio mundial aumente o número de visitantes para um milhão por ano.

É uma façanha que exigiria uma revisão da infraestrutura local e lotaria lojas de lembrancinhas na região que vende coisas como canecas e roupas adornadas com sinais de precipitação e perigo nuclear.

“E antes, todos estavam ocupados em acobertar”, disse Tkachenko sobre o momento da iniciativa para a promoção de patrimônio.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.