Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
O objeto mais distante conhecido no Sistema Solar foi agora confirmado. FarFarOut – sim, fãs de Shrek, o nome em português seria TãoTãoDistante –, um grande pedaço de rocha encontrado em 2018 a uma distância colossal de cerca de 132 unidades astronômicas do Sol, foi estudado e caracterizado, e agora sabemos muito mais sobre ele e sua órbita.
Tem cerca de 400 quilômetros de diâmetro, o que está na extremidade inferior da escala de planeta anão, e as observações iniciais sugerem que tem uma distância orbital média de 101 unidades astronômicas – isso é 101 vezes a distância entre a Terra e o Sol.
Como Plutão tem uma distância orbital média de cerca de 39 unidades astronômicas, FarFarOut está, bem, muito, muito distante. Recebeu a designação provisória 2018 AG37, e seu nome próprio, de acordo com as diretrizes da União Astronômica Internacional, ainda está pendente.
Essa órbita, no entanto, não é um círculo uniforme em torno do Sol, mas uma forma oval bastante assimétrica. Após observação cuidadosa, os cientistas calcularam sua órbita; FarFarOut oscila até 175 unidades astronômicas, e chega perto de 27 unidades astronômicas, dentro da órbita de Netuno.
Isso significa que o objeto pode nos ajudar a entender melhor os planetas do Sistema Solar exterior.
“O FarFarOut provavelmente foi lançado no Sistema Solar exterior por ter ficado muito perto de Netuno no passado distante”, disse o astrônomo Chad Trujillo, da Universidade do Norte do Arizona (EUA). “FarFarOut provavelmente interagirá com Netuno novamente no futuro, uma vez que suas órbitas ainda se cruzam”.
O apelido do objeto evoluiu a partir da descoberta de um objeto distante anterior em 2018.
O planeta anão Farout – MuitoDistante, em português – tem uma distância orbital média de 124 unidades astronômicas e foi nomeado após uma fala do astrônomo Scott Sheppard, do Instituto Carnegie. Quando ele e sua equipe descobriram um objeto ainda mais distante, o nome que seria dado parecia óbvio.
FarFarOut ainda é muito misterioso, no entanto. Por estar tão longe, está extremamente difuso e só foi observado nove vezes ao longo de dois anos. A equipe inferiu seu tamanho com base no brilho, mas não sabemos muitas coisas sobre ele; pode ser um objeto irregular muito grande do Cinturão de Kuiper ou pode atender aos critérios para ser classificado como planeta anão.
Os astrônomos também não estão totalmente certos de seu tempo de órbita. Eles acham que poderia ser de 800 anos (o de Plutão é 248), mas há espaço de manobra suficiente para levar mais do que o dobro desse tempo, ou possivelmente se mover em um ritmo muito mais rápido.
Portanto, muito mais observações terão que ser feitas para entendê-lo melhor.
“FarFarOut leva um milênio para dar a volta ao Sol uma vez”, disse o astrônomo David Tholen, da Universidade do Havaí em Mānoa. “Por causa disso, ele se move muito lentamente pelo céu, exigindo vários anos de observações para determinar com precisão sua trajetória”.
Sheppard, Tholen e Trujillo estão trabalhando no estudo do Sistema Solar exterior na esperança de obter um vislumbre do Planeta Nove, um objeto hipotético que se acredita ser responsável pelo estranho movimento de aglomerados de objetos nas regiões externas além de Plutão.
Existem outras explicações para essas órbitas, mas o trabalho está tendo um excelente benefício colateral. A equipe descobriu vários objetos que não conhecíamos. Tem o Farout e o FarFarOut, é claro. Mas há também um planeta anão apelidado de Duende, descoberto a uma distância de 80 unidades astronômicas.
Há até um objeto, chamado 2014 FE72, cuja órbita o leva para além de 3.000 unidades astronômicas, o único objeto conhecido de seu tipo com uma órbita inteiramente externa a de Netuno. (Atualmente está muito mais perto depois de sua aproximação com o Sol em 1965).
Não é apenas o Sistema Solar exterior. Os pesquisadores descobriram 12 luas até então desconhecidas em órbita ao redor de Júpiter e 20 luas orbitando Saturno.
Portanto, se existe um Planeta Nove por aí, essas provavelmente serão as pessoas que o encontrarão. Mas no processo, eles estão revelando muita coisa sobre o Sistema Solar exterior.
“A descoberta do FarFarOut mostra nossa capacidade cada vez maior de mapear o Sistema Solar exterior e observar cada vez mais longe nas fronteiras do nosso Sistema Solar”, disse Sheppard.
“Somente com os avanços nos últimos anos de grandes câmeras digitais em telescópios muito grandes foi possível descobrir com eficiência objetos muito distantes como FarFarOut. Mesmo que alguns desses objetos distantes sejam muito grandes – do tamanho de planetas anões – eles estão muito difusos por causa de suas distâncias extremas do Sol. FarFarOut é apenas a ponta do iceberg de objetos no Sistema Solar muito distante”.