Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert
Um pássaro super raro com plumagem masculina e feminina fez cientistas na Pensilvânia (EUA) agradecerem pelo dia de sorte.
Analisando a simetria corporal do animal, um lado exibe uma “áxila da asa” amarela e o outro lado exibe uma asa rosa, e os pesquisadores dizem que esse pássaro canoro de aparência espetacular e um candidato para os livros dos recordes.
Embora não possamos ter certeza sem um exame de sangue ou uma autópsia, a equipe diz que este pardal-do-norte de peito rosa (Pheucticus ludovicianus) é provavelmente o produto de uma anomalia genética conhecida como ginandromorfia bilateral, que já vimos em pássaros antes.
Ao contrário do hermafroditismo verdadeiro, que se refere a ter tecidos reprodutivos masculinos e femininos, os ginandromorfos exibem características sexuais contrastantes em cada lado do corpo.
Nesse caso, enquanto um lado do pardal-do-norte de peito rosa parece geneticamente feminino, o outro lado mostra todas as características de uma ave geneticamente macho.
Até a parte de trás de suas asas e cauda mostram diferenças sexuais cruciais, com o lado esquerdo exibindo um tom mais marrom e o lado direito um tom mais preto.
Se o pássaro for parecido com outros ginandromorfos que encontramos, essa divisão esquerda-direita pode ser interna também, incluindo seu cérebro e seus órgãos reprodutivos.
“Toda a equipe reunida ficou muito animada em ver tal raridade de perto e estamos no auge desta experiência única na vida”, disse a gerente do programa Annie Lindsay.
“Um deles descreveu que era como ‘ver um unicórnio’ e outro descreveu a adrenalina de ver algo tão notável”.
Desde 1962, os ornitólogos do Centro de Pesquisa Aviária Powdermill têm reunido cerca de 13.000 pássaros por ano na Reserva Natural Powdermill.
Seu banco de dados completo, que inclui registros de centenas de milhares de pássaros, contém menos de 10 ginandromorfos bilaterais.
A última vez que a reserva natural registrou um desses pássaros metade machos e metade fêmeas, era na verdade outro pardal-do-norte de peito rosa em 2005, com uma asa inferior rosa e uma amarela.
Este estranho fenômeno também foi relatado entre répteis, borboletas e crustáceos, e ainda não temos certeza de como funciona.
No início, foi sugerido que os ginandromorfos eram formados a partir da fusão de dois embriões em desenvolvimento, fertilizados separadamente, mas agora os cientistas têm outra sugestão.
Quando as aves fêmeas produzem um ovo, a célula deve descartar metade de seus cromossomos em uma bolsa chamada ‘corpo polar’. Se o ovo mantém este corpo de DNA, entretanto, ele pode formar seu próprio núcleo.
Se dois espermatozoides fertilizarem um óvulo com dois núcleos em vez de um, e esses núcleos começarem a se dividir separadamente, cada lado do corpo do organismo poderia teoricamente ter seu próprio sexo, com um lado expressando cromossomos femininos e o outro cromossomos masculinos.
“Uma pergunta conhecida nos círculos científicos é se esse pássaro tem a capacidade de procriar”, escreveram pesquisadores do Centro de Pesquisa Aviária Powdermill em um comunicado de imprensa.
“Uma vez que geralmente apenas o ovário esquerdo é funcional nas aves, e o lado esquerdo desta ave é o lado feminino, esta ave teoricamente poderia produzir filhotes se acasalar com sucesso com um macho”.
Outras aves girandromorfas com partes femininas no lado direito são geralmente inférteis.
No entanto, mesmo com um ovário potencialmente funcional, este adorável pássaro pode não ser capaz de acasalar. Dado que pardais-do-norte são pássaros canoros, e os machos usam sua música para atrair as fêmeas, não está claro se esse pássaro será capaz de atrair um parceiro se seu canto confundir os outros pássaros.
Em 2019, um pássaro cardeal metade mulher e metade homem fez os cientistas discutirem se haviam redes neurais masculinas suficientes para esse pássaro cantar ou até sentir motivação para fazer isso.
Alguns tentilhões-zebra ginandromórficos são capazes de cantar uma canção masculina quando estão perto de uma fêmea, mas isso não significa que é verdade para todos os girandromorfos.
Em 2017, foi relatado que um guincho-oriental ginandromórfico (Pipilo erythrophthalmus) cantava e alimentava seus filhotes, o que sugere que a descendência é possível em alguns casos.
Como esses pássaros vão crescer em termos de aparência ou para cantar é outra questão completamente diferente.