Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Às vezes, só damos valor as coisas quando perdemos. A Valviloculus pleristaminis é um exemplo perfeito.
Os cientistas recentemente identificaram esta flor misteriosa e extinta. Muito tempo atrás ela floresceu no período Cretáceo – uma relíquia floral de uma época perdida, preservada em âmbar e congelando o tempo de quando os dinossauros ainda vagavam pela Terra.
“Esta não é bem uma flor de Natal, mas é uma beleza, especialmente considerando que fez parte de uma floresta que existiu 100 milhões de anos atrás”, disse o professor emérito George Poinar Jr. da Universidade do Estado de Oregon (EUA).
Poinar Jr. é uma autoridade no estudo das propriedades de “congelar o tempo” do âmbar.
O entomologista octogenário é amplamente considerado o cientista que popularizou o estudo do fenômeno de insetos e nematoides pré-históricos presos em resina de árvore ao longo de escalas de tempo geológicas – ideias que influenciaram a fantasia da cultura pop de Jurassic Park.
Esse enfoque de uma vida inteira começou há décadas, mas a produção acadêmica de Poinar Jr. ainda é prodigiosa. Nos últimos anos, ele descreveu carrapatos antigos e ingurgitados, descobriu novas ordens de vida de insetos, traçou as origens da malária e encontrou um punhado de flores perdidas.
V. pleristaminis, que representa um novo gênero e uma nova espécie de flor, está entre os mais novos espécimes neste buquê em constante expansão.
“A flor masculina é minúscula, com cerca de 2 milímetros de diâmetro, mas tem cerca de 50 estames dispostos em espiral, com anteras apontadas para o céu”, explica Poinar.
“Apesar de ser tão pequena, os detalhes que restaram são incríveis. Nosso espécime provavelmente fazia parte de um cacho da planta que continha muitas flores semelhantes, algumas possivelmente femininas”.
O espécime em questão foi obtido nas minas de âmbar em Mianmar, tendo sido preservado em depósitos sedimentares marinhos que datam de meados do Cretáceo, há aproximadamente 99 milhões de anos.
Segundo os pesquisadores, V. pleristaminis, um exemplo de angiosperma (planta com flor), provavelmente pertence à ordem Laurales, tendo, principalmente, alguma semelhança com as famílias Monimiaceae e Atherospermataceae.
Mas esta flor estranha e extinta não oferece apenas pistas sobre a história da evolução floral.
De acordo com Poinar Jr., V. pleristaminis e outros fósseis de angiospermas ambarinos birmaneses semelhantes também podem ajudar a resolver um mistério notável sobre o antigo supercontinente Gonduana, do qual essas plantas surgiram.
Especificamente, V. pleristaminis teria florescido em uma parte da Gonduana chamada Bloco da Birmânia Ocidental, que se separou do resto do supercontinente em algum ponto desconhecido da história.
Mas é uma questão em debate, com algumas hipóteses geológicas colocando a data de separação já em 500 milhões de anos atrás.
A pesquisa de Poinar Jr., no entanto, sugere que o Bloco da Birmânia Ocidental não poderia ter sido transportado da Gonduana para a Ásia antes do início do Cretáceo, dado que as angiospermas só evoluíram e se diversificaram cerca de 100 milhões de anos atrás.
É provável que o debate não acabe tão cedo, mas V. pleristaminis e suas conterrâneas revestidas de âmbar fornecem uma nova linha de pensamento sobre o assunto – um segredo emergente esperando para ser contado por quase 100 milhões de anos.
“A datação da migração tectônica [do Bloco da Birmânia Ocidental] da Gonduana ainda não está firmemente estabelecida, mas a idade de 100 milhões de anos do âmbar, incluso os fósseis de plantas e animais relacionados ao Hemisfério Sul, pode contribuir para uma eventual solução para este problema”, escrevem os pesquisadores.
As descobertas foram publicadas no Journal of the Botanical Research Institute of Texas.