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Cientistas sequenciaram o DNA de mamute com mais de um milhão de anos

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Em um feito no limite de nossas capacidades científicas, uma equipe internacional de geneticistas recuperou e sequenciou o DNA mais antigo até hoje.

Dos dentes de três mamutes antigos que vagaram pela Sibéria entre 700.000 e 1,2 milhão de anos atrás, os pesquisadores extraíram DNA extremamente degradado e os juntaram para revelar uma linhagem genética de mamute até então desconhecida.

Anteriormente, a amostra de DNA recuperada mais antiga era de um osso de cavalo encontrado no pergelissolo de Yukon, datando de 560.000 a 780.000 anos atrás.

“Este DNA é incrivelmente antigo”, disse o geneticista evolucionista Love Dalén, do Centro de Paleogenética da Suécia. “As amostras são mil vezes mais antigas do que os vestígios de Viking e até são anteriores à existência de humanos e Neandertais”.

Cerca de um milhão de anos atrás, mesmo os mamutes-lanudos (Mammuthus primigenius) ainda não existiam. As feras bastante conhecidas e amadas não começaram a emergir até cerca de 800.000 anos atrás, vivendo em climas congelados da Terra até que finalmente fossem extintas cerca de 4.000 anos atrás.

Por ser relativamente recente, no tempo geológico, e porque eles preferiam habitats frios (que preservam melhor os restos mortais), sabemos um pouco sobre essas criaturas antigas.

Mamutes-lanudos coexistiram com mamutes-columbianos (M. columbi), que habitaram a América do Norte e foram extintos há cerca de 11.500 anos.

Seus predecessores, os mamutes dos quais os mamutes-lanudos evoluíram, são menos conhecidos. Sabemos que os mamutes-lanudos descendem dos mamutes-da-estepe (M. trogontherii), que perambulavam pela maior parte da Eurásia até cerca de 200.000 anos atrás. Também pensamos que os mamutes-columbianos descendiam dos mamutes-da-estepe que haviam cruzado para a América do Norte há cerca de 1,5 milhão de anos.

Na tentativa de aprender mais sobre esse ancestral, os cientistas analisaram a genealogia gigantesca de cima para baixo.

Os três dentes de mamute dos quais extraíram o DNA foram escavados décadas atrás e foram cuidadosamente mantidos em uma coleção de museu. O mais novo, com 700.000 anos, pertencia a um mamute-lanudo – um dos primeiros conhecidos. Esperava-se que os dois mais velhos, com mais de 1 milhão de anos, pertencessem ao mamute-da-estepe.

Por meio de restauração meticulosa e esforços comparativos, os pesquisadores conseguiram juntar e sequenciar o DNA que havia sido preservado dentro do esmalte duro dos dentes dos animais. O segundo mais antigo dos três espécimes, encontrado em Adycha, confirmou isso: era muito próximo do mamute-da-estepe em morfologia e DNA.

O espécime mais antigo, encontrado em Krestovka e datado de cerca de 1,6 milhão de anos atrás, foi mais surpreendente. Ele acabou pertencendo a uma linhagem genética previamente desconhecida de mamute que divergiu de um ancestral comum há mais de 2 milhões de anos.

“Isso foi uma surpresa para nós”, disse o geneticista Tom van der Valk, da Universidade de Uppsala, na Suécia.

“Todos os estudos anteriores indicaram que havia apenas uma espécie de mamute na Sibéria naquela época, chamada de mamute-da-estepe. Mas nossas análises de DNA mostram agora que havia duas linhagens genéticas diferentes, que aqui chamamos de mamute de Adycha e o mamute de Krestovka. Não podemos dizer com certeza ainda, mas achamos que eles podem representar duas espécies diferentes”.

Fica ainda mais interessante. Ao comparar o DNA desses mamutes antigos com aqueles que vieram depois, os pesquisadores descobriram que poderia ter sido o mamute de Krestovka que cruzou a Ponte Terrestre de Bering para a América do Norte há 1,5 milhão de anos, não o mamute-da-estepe.

O DNA do mamute-columbiano tem uma mistura do DNA de Krestovka e do mamute-lanudo, sugerindo que os dois se reproduziram quando os mamutes-lanudos migraram para a América do Norte, produzindo um híbrido.

“Esta é uma descoberta importante”, disse a paleogeneticista Patrícia Pečnerová, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. “Parece que o mamute-columbiano, uma das espécies mais icônicas da era do gelo da América do Norte, evoluiu por meio de uma hibridização que ocorreu há aproximadamente 420 mil anos”.

O mamute de Adycha, embora mais em linha com as expectativas, também tinha alguns segredos a revelar. Comparando seu genoma ao de mamutes-lanudos de 700.000 a alguns milhares de anos atrás, a equipe procurou entender como o mamute-lanudo se adaptou a um ambiente ártico congelado.

Os traços associados a essa adaptação – genes associados à termorregulação, crescimento do pelo, ritmo circadiano e depósitos de gordura branca e marrom – já estavam presentes no genoma do mamute de Adycha, bem antes do surgimento do mamute-lanudo. Mas os animais também continuaram a evoluir; o gene envolvido na detecção de temperatura, por exemplo, tinha mais variantes em mamutes-lanudos posteriores.

As técnicas da equipe não funcionarão para todos os restos mortais. A temperatura fria do pergelissolo retarda a degradação do DNA, portanto, restos de idade semelhante de outros locais provavelmente estariam muito degradados; e, dentro do pergelissolo, há um limite para o quanto esse DNA pode ser recuperado.

“Uma das grandes questões agora é até onde podemos voltar no tempo. Ainda não atingimos o limite”, disse o arqueólogo molecular Anders Götherström, do Centro de Paleogenética.

“Um palpite seria que poderíamos recuperar DNA de 2 milhões de anos e possivelmente ir até 2,6 milhões. Antes disso, não havia pergelissolo onde o DNA antigo seria preservado”.

Muitas criaturas preservadas foram escavadas do pergelissolo da Terra. A pesquisa demonstra quais descobertas notáveis ​​podem estar escondidas em ossos antes considerados muito antigos para serem estudados.

A pesquisa foi publicada na Nature.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.