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Cultura científica e políticas científicas

Por Miguel Ángel Quintanilla

O que significa ser cientificamente educado? A maioria de nós responderia que uma pessoa é cientificamente mais educada na medida em que sua cultura, isto é, seu conhecimento, regras de comportamento, atitudes e valores, são muito semelhantes, ou mesmo formam parte da cultura que um cientista profissional deve ter para ser conhecido como tal. Na aparência, a questão não pode ser mais simples. Há dois tipos de pessoas: educadas e não educadas. E entre as educadas, por sua vez, há dois tipos também: as que compartilham e as que não compartilham uma parte importante da cultura profissional dos cientistas (incluindo, entre eles, os professores e professoras de ciências e os profissionais que desempenham trabalhos com base no conhecimento científico, como na medicina, na engenharia, na arquitetura, etc.).

A questão é por que essas distinções sutis entre tipos de culturas e relações entre culturas profissionais e cultura cidadã têm algum interesse para o público em geral?

Muito anos atrás (em 1972), a National Science Foundation começou a analisar nos Estados Unidos a extensão da cultura científica entre os cidadãos, com base no pressuposto anterior de que o nível de apoio dos cidadão à políticas voltadas ao avanço da ciência e a tecnologia no país dependia do nível de cultura científica dos próprios cidadãos.

Ao longo dos anos, esse interesse em conhecer o estado da cultura científica dos cidadãos foi mantido e se espalhou por todo o mundo. Na Europa, através dos eurobarómetros. Na Espanha, principalmente através das pesquisas da Fundação Espanhola de Ciência e Tecnologia (FECYT), que são realizadas a cada dois anos.

Como resultado de toda essa atividade, alguns dados impressionantes apareceram. O primeiro que devemos enfatizar é que o próprio conceito de cultura científica tem sido mais problemático e confuso do que se suponha. Quando esses estudos começaram, assumiu-se que “cultura científica” era sinônimo de “alfabetização científica”: um cidadão era mais educado cientificamente na medida em que compartilhava mais conhecimentos de cientistas profissionais. (Certamente porque foi assumido que o nível de conhecimento científico estava inseparavelmente ligado ao nível de atitude positiva em relação à ciência.)

Na prática, porém, observa-se que a cultura científica possui, pelo menos, dois componentes independentes: alfabetização científica, ou seja, o nível de conhecimento que as pessoas compartilham com cientistas profissionais e a atitude valorativa, positiva ou negativa, de confiança ou desconfiança, que adotam os cidadãos em relação ao conhecimento e às atividades científicas. E o que tem sido sistematicamente confirmado há anos é que, de maneira bastante generalizada, os níveis de apoio a decisões políticas que afetam a ciência (financiamento da pesquisa básica, por exemplo) dependem mais desse componente de atitude positiva em relação à ciência do que do nível de alfabetização científica estritamente dito.

As novas políticas da ciência exigirão maior envolvimento dos cidadãos. Isso significa que eles terão que melhorar o nível de sua cultura científica. Mas se os dados que temos continuarem sendo confirmados, medidas políticas específicas deverão ser adotadas, orientadas não apenas à difusão do conhecimento científico na população, mas também ao crescimento da confiança na ciência, à promoção de atitude positivas em relação à ciência, ou seja, o crescimento da cultura científica em um sentido amplo.

Esta é, pelo menos, a linha na qual trabalha um grupo de pesquisadores – filósofos, sociólogos, economistas, comunicadores, politólogos e historiadores – no Instituto de Estudos da Ciência e da Tecnologia (ECYT) da Universidade de Salamanca.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.