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Depois do asteroide destruir os dinossauros, os micróbios do oceano ajudaram a ressuscitar a vida na Terra

Por Katherine Kornei
Publicado na Science

Nunca subestime os micróbios do mar. O impacto de um asteroide que matou a maioria dos dinossauros há 66 milhões de anos também criou condições para que os micróbios oceânicos florescessem, de acordo com um novo estudo. Em cristais de rocha microscópicos, os pesquisadores encontraram evidências de que enormes florações de algas e bactérias fotossintéticas cobriram os oceanos em todo o mundo, fornecendo alimento para criaturas marinhas maiores logo após o cataclismo.

Em 2016, pesquisadores que trabalham no Golfo do México perfuraram a cratera Chicxulub, a cicatriz deixada pelo impacto do asteroide, enterrada no fundo do mar. Eles descobriram que os sedimentos depositados imediatamente após o impacto eram ricos em micrito, um mineral de carbonato de cálcio. O carbonato de cálcio, comum no calcário, é um precipitado nos oceanos do mundo: corais e plâncton constroem seus esqueletos a partir dele, micróbios como bactérias o produzem e ele pode até mesmo se formar diretamente da água do mar.

A descoberta foi um momento de déjà vu para Timothy Bralower, um geólogo marinho da Universidade Estadual da Pensilvânia, no campus University Park (EUA). Em 2001, Bralower e seus colegas detectaram micritos em rochas do oeste do Oceano Pacífico que datavam da época do impacto. “Quando vimos essa camada de micrito na cratera, falamos ‘bingo'”, diz Bralower. “Já vimos isso antes”.

Na verdade, as rochas coletadas em 31 locais ao redor do mundo contêm uma camada de micrito de 66 milhões de anos, como percebeu Bralower ao examinar sua extensa coleção de amostras de rochas colocadas sobre lâminas de microscópio. “Vemos isso em todos os oceanos”, diz ele.

Para entender como o micrito se formou, Bralower e seus colegas ampliaram os minerais usando microscópios eletrônicos. Eles descobriram que seus cristais eram frequentemente compostos de microcristais ainda menores em forma de romboedro de seis lados ou de escalenoedro com mais de oito lados. Pesquisadores anteriores não viram essas estruturas porque não estavam ampliando o suficiente, segundo Bralower. “As pessoas já olharam para ela antes, mas não com ampliação suficiente”.

Os microcristais são notavelmente semelhantes ao carbonato de cálcio produzido pelas bactérias modernas e, portanto, a maior parte do micrito é provavelmente de origem biológica, relatam Bralower e seus colegas em Earth and Planetary Science Letters. A forma de vida que criou esse micrito provavelmente fazia parte de uma “comunidade microbiana sobrevivente” que surgiu após o impacto, sugerem os pesquisadores.

Além de exterminar muita vida na terra, o impacto também dizimou os ecossistemas oceânicos. As rochas vaporizadas levaram a um acúmulo de ácido sulfúrico que choveu nos oceanos junto com metais tóxicos como chumbo e mercúrio. Mais de 90% do fitoplâncton marinho foi extinto, mostraram os pesquisadores.

No entanto, essa destruição também abriu caminho para os recém-chegados, diz Julio Sepúlveda, biogeoquímico da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA), que não esteve envolvido na pesquisa. “Se você eliminar um grupo importante de um ecossistema, terá um nicho ecológico vazio”.

Esses recém-chegados, outras algas e bactérias fotossintéticas, estavam “prontos para dominar o mundo”, diz Bralower. Como eles proliferaram em florações em todo o oceano, eles teriam agido como uma fonte de alimento para animais em níveis mais altos da cadeia alimentar, como o krill e o camarão, sugeriram Bralower e seus colegas. E eles deixaram evidências de sua existência na forma de micrito.

Vale a pena cavar mais fundo no passado para procurar por florações semelhantes após outras extinções em massa, sugerem os pesquisadores. Observar a extinção do Permiano há 252 milhões de anos, uma mentira que matou mais de 90% das espécies do planeta, seria um bom lugar para começar, diz Bralower. “Aposto que se você olhar para o final do Permiano, você encontrará essas estruturas lá também”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.