Por Tessa Koumoundouros
Publicado na ScienceAlert
Nossos amigos felinos certamente nos impressionam com sua inteligência – eles podem buscar coisas para nós, abrir portas, percorrer por obstáculos aparentemente impossíveis e até mesmo entender instruções básicas (quando lhes apetecer, pelo menos).
Em outras ocasiões, eles podem ser hilários e bobinhos.
Qualquer amante de gatos está familiarizado com suas peculiaridades, como a alegria aparentemente interminável de derrubar as coisas da mesa e uma predileção inata por sentar em espaços fechados. Esse última pode ser aplicada mesmo que o espaço seja apenas um contorno bidimensional de um quadrado no chão.
Em um maravilhoso estudo científico realizado durante a pandemia de COVID-19, pesquisadores usaram o desejo dos gatos de se sentar em espaços fechados para testar como suas pequenas mentes percebem uma ilusão visual. O estudo foi carinhosamente rotulado de “Se couber, eu sento” (If I fits, I sits, no original).
A ilusão em questão era o quadrado de Kanizsa: quatro formas semelhantes ao pacman orientadas para parecer que estão formando quatro cantos de um quadrado, induzindo o observador a perceber um quadrado que não está realmente lá.
Essas ilusões acontecem quando nossos cérebros ajustam informações visuais em torno de vieses, provavelmente para preencher informações ausentes. Elas são muito úteis para distinguir formas que parecem predadores das que parecem comida em um cenário de floresta obscurecido pela folhagem.
A etologista cognitiva Gabriella Smith da City University de Nova York (EUA) e seus colegas recrutaram humanos para preparar objetos de chão para seus amigos felinos escolherem – um quadrado com fita adesiva, uma ilusão visual de um quadrado e os mesmos componentes da ilusão visual, mas não arranjado para produzir um quadrado (estudo de controle).
Os donos dos gatos foram solicitados a filmar a resposta dos gatos sob condições razoavelmente controladas para evitar influenciar as escolhas dos animais (isso envolvia o uso de óculos escuros também). Embora mais de 500 gatos de estimação tenham sido originalmente inscritos, o conjunto de dados final foi reduzido para 30 cientistas cidadãos que conseguiram concluir todos os testes necessários.
“Os gatos neste estudo permaneceram ou sentaram no [quadrado de] Kanizsa e nos quadrados ilusórios com mais frequência do que o controle do [quadrado de] Kanizsa, revelando suscetibilidade a contornos ilusórios e apoiando nossa hipótese de que os gatos tratam um quadrado ilusório como tratam um quadrado real”, eles descobriram.
Claro, nem todos os gatos querem ser previsíveis assim:
Os pesquisadores observam que os resultados do estudo foram limitados pelo pequeno tamanho da amostra final, mas seu trabalho se soma à pesquisa anterior que descobriu que os gatos respondem a ilusões visuais de contornos; além disso, é a primeira vez que isso foi testado em gatos em um ambiente familiar para eles.
Esse poderia ser um detalhe importante, porque os gatos geralmente detestam estar em novos ambientes – como um laboratório – então eles são mais propensos a exibir seus comportamentos naturais em casa.
Entender como os animais percebem ilusões visuais como essa pode nos ajudar a comparar sua visão com diferentes espécies, sem exigir uma linguagem que eles não possuem.
Quanto ao por quê do enigma dos peludos em querer sentar onde eles cabem, isso ainda precisa ser totalmente investigado cientificamente. Smith e a equipe sugerem o uso de quadrados de Kanizsa tridimensionais para explorar isso mais a fundo.
Estudos têm mostrado que sentar em caixas pode diminuir o estresse em gatos de abrigo, então não seria muito complicado sugerir que os gatos se sentem mais confortáveis quando estão em locais fechados.
“A visão deles é projetada para distância e velocidade, como para observar um rato correr pelo campo. De perto, eles são virtualmente cegos de 20 a 30 centímetros de distância do focinho”, disse a comportamentalista felina Ingrid Johnson ao Treehugger no ano passado.
“Eu imagino que eles provavelmente se sintam como se estivessem ‘dentro’ de alguma coisa… como se estivessem em uma bandeja de papelão para comida enlatada. Embora rasa, ainda reconfortante, oferece parâmetros ou pelo menos a percepção dos arredores”.
“Esta caixa virtual pode fornecer uma sensação equivocada de segurança e conforto psicossomático”, escreveu o etologista da Universidade Tufts (EUA) Nicholas Dodman para o The Conversation depois que o meme #catbox bombou em 2017.
E não são apenas os gatinhos que gostam de caixas – os gatões também gostam.
Talvez o mais importante, as lições desse novo estudo usando a ciência cidadã abrem o caminho para maiores investigações sobre os mistérios da mente felina.
“As pesquisas de cognição dos gatos certamente está em falta em comparação com a dos cães domésticos e, embora a razão para isso não seja clara, o uso da ciência cidadã como uma precursora para as investigações em laboratório da cognição felina pode ajudar muito a superar essa divisão”, escreveu a equipe.
Esta pesquisa foi publicada na Applied Animal Behavior Science.