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Desculpa, ufólogos: há explicações racionais para vídeos de OVNIs de pilotos militares dos EUA

Por Matthew Rozsa
Publicado no Salon

O Pentágono anunciou na quinta-feira que está criando uma força-tarefa para investigar avistamentos de OVNIs. Embora a noção de que os militares estão investigando OVNIs soe como a redenção final de um teórico da conspiração ocultista, as ações dos militares estão longe de ser absurdas. Isso porque seus próprios soldados de confiança encontraram OVNIs enquanto pilotavam aeronaves militares.

As filmagens do Pentágono a partir desses avistamentos, que foram tornadas públicas, mostram objetos passando rapidamente pelo céu, conforme registrado por pilotos militares. Embora esses objetos se encaixem na definição técnica de um OVNI – significando um objeto voador não identificado – eles podem não aderir ao entendimento popular de “OVNI” como sinônimo de uma nave extraterrestre. Isso porque não há exatamente nenhuma evidência de que esses objetos sejam de origem extraterrestre, ou que eles desafiem quaisquer leis existentes da física que possam sugerir seu desenvolvimento por uma espécie mais avançada cientificamente.

Os vídeos divulgados pelo Pentágono.

“Para entender os vídeos, tudo o que você precisa fazer é perguntar a qualquer piloto de caça familiarizado com o sistema de câmera térmica FLIR”, disse Brian Dunning, um cético científico profissional e apresentador de podcasts, ao Salon por e-mail. “O que parece um objeto em grande velocidade fazendo manobras selvagens, na verdade, se trata de apenas uma ilusão de óptica comum combinada com os efeitos do estabilizador gimbal e do filtro de brilho da FLIR”. As câmeras FLIR, abreviatura de forward-looking infrared cameras (câmeras infravermelhas voltadas para a frente), são capazes de ver superficialmente pelo espectro infravermelho, o que significa que as fontes de calor se iluminam nas imagens da câmera FLIR.

Dunning focou em um vídeo lançado que parece mostrar uma nave em forma de asa de morcego, observando que “o objeto que você está vendo é um único ponto de calor de um avião não identificado, provavelmente um jato comercial distante, voando para longe do F- 18. A câmera está na parte lateral do F-18 que está passando por nuvens próximas, fazendo o objeto parecer estar se movendo em relação às nuvens”.

Ele acrescentou: “Seu formato de asa de morcego é como o filtro de brilho da FLIR sempre representa pontos brilhantes singulares (há muitos exemplos disso no YouTube) e sempre que o objeto parece girar, este é simplesmente o estabilizador gimbal da FLIRs girando para manter o alvo à vista enquanto o F-18 faz manobras. Os outros vídeos também têm explicações ordinárias semelhantes”.

Timothy Caulfield, professor de direito na Universidade de Alberta, Canadá, que também apresenta uma série de TV que desmascara pseudociências (intitulada A User’s Guide to Cheating Death – em português: “Guia do usuário para enganar a morte”), explicou ao Salon que há uma série de explicações potencialmente inócuas – muitas delas envolvendo militares ou outros experimentos científicos altamente secretos – que são ignoradas devido ao sensacionalismo.

“Eu entendo por que as pessoas estão fascinadas por este tópico. É emocionante, é intrigante, é misterioso”, disse Caulfield. “Mas a ideia de que essas coisas são OVNIs e avistamentos alienígenas, e que há material alienígena deixado em nosso planeta, é cientificamente implausível e altamente improvável. É uma história da Navalha de Occam. Acho que provavelmente há uma explicação mais direta, mas as pessoas não querem viver com a profunda incerteza. As pessoas querem respostas”.

Ele chamou atenção especial para como os pilotos que avistaram esses OVNIs podem ter inadvertidamente atiçado as chamas dos teóricos da conspiração.

“Quando as pessoas assistem a esse tipo de vídeo e as reação dos pilotos, por exemplo, acho que isso muitas vezes é usado para dar mais credibilidade [aos argumentos conspiratórios] com esses pilotos especialistas, geralmente militares, comentando sobre o comportamento de deslocamento dos objetos voadores”, explicou Caulfield. “Não sou físico, não sou engenheiro. Posso entender a razão que as pessoas estão intrigadas. Elas não sabem o que é esse objeto e ele está se movendo de uma maneira que parece impossível devido à nossa tecnologia atual”.

Alexander Wendt, um professor de relações internacionais na Universidade Estadual de Ohio, EUA, que se tornou um proeminente ufólogo amador, apontou para as reações dos pilotos militares como um sinal de que esses novos OVNIs deveriam ser levados a sério.

“Desafio qualquer um a fazer melhor do que a Marinha para explicar o que está nesses vídeos. Se a Marinha não conseguiu fazer isso …”, disse Wendt ao Salon, antes de acrescentar que “eles tinham todos os motivos para querer isso fora de seu prato”.

Como Wendt apontou, “Acho que o que é único nesses vídeos da Marinha é que toda a questão surgiu dos pilotos… Acho que os pilotos inquietos no vídeo são realmente importantes. Esses caras são os especialistas no que está no céu. Eles têm milhares de horas de experiência voando lá. Você vê algumas das entrevistas com esses pilotos e eles acham que algo está acontecendo, e foram eles que empurraram todo esse assunto para o primeiro plano. “

Outro professor da Universidade Estadual de Ohio, o cientista político Thomas Wood, esclarecem para o Salon por que as pessoas abraçam as teorias da conspiração de OVNIs.

“Se você olhar os dados da opinião pública sobre isso, é realmente incrível”, explicou Wood. (Uma pesquisa da Gallup no ano passado descobriu que 33 por cento dos americanos acreditam que alguns avistamentos de OVNIs foram causados ​​ela visitação alienígena; uma pesquisa do YouGov no mês passado descobriu que 56 por cento dos americanos acreditam que o governo do país esconderia evidências de OVNIs do público.) “O fascinação pública por OVNIs é uma das teorias da conspiração que mais dura ​​na imaginação do público americano. A maioria das teorias da conspiração pode se tornar popular e depois cair no esquecimento rapidamente – por exemplo, a de que o Barack Obama nasceu no Quênia, ou de que o governo americano planejou o ataque terrorista de 11 de setembro. A teoria da conspiração dos OVNIs é uma daquelas que simplesmente ficou por aí”.

Dunning foi bastante cínico sobre as razões para qual as pessoas acreditarem em OVNIs.

“Duas palavras: sensacionalismo vende”, Dunning escreveu em um e-mail para Salon. “Ninguém se empolga com os artefatos do filtro de brilho da FLIR; mas todos se empolgam com a perspectiva do Pentágono escondendo a ‘verdade sobre os alienígenas'”.

Ele acrescentou: “Os seres humanos são condicionados para o pensamento anedótico. Nossos cérebros gravitam em torno do simples e do desejável, e longe do complicado e enfadonho. As pessoas no ramo das vendas televisivas estão bem cientes disso, e é por isso que vemos OVNIs, fantasmas, médiuns e curas milagrosas que dominam a cultura pop”.

Muitas pessoas famosas afirmam ter avistado OVNIs ou alienígenas, dos cantores Elvis Presley e Tom DeLonge do Blink-182 ao ex-presidente estadunidense Jimmy Carter. Eles foram capazes de construir carreiras de sucesso, apesar do estigma associado a tal experiência, embora muitos outros crentes em OVNIs e alienígenas não tenham tido o mesmo sucesso.

No início deste ano, a série de TV “Unsolved Mysteries” dedicou um episódio a um grupo de pessoas de uma pequena cidade no oeste de Massachusetts que afirmou ter encontrado um OVNI em 1969. Eles descreveram a experiência de serem socialmente rejeitados, cruelmente intimidados e, em um caso, até mesmo perseguidos até se virem obrigados a mudarem de lá. Faz sentido o motivo de eles não procuraram a polícia ou a imprensa local na época para falarem dessa história. Muitos outros relatos de avistamentos e encontros com OVNIs seguem o mesmo padrão – aqueles que se apresentam de forma pública sofrem por causa disso. Como disse uma das pessoas no episódio, a cidade mudou de “Norman Rockwell para Salvador Dali”, à medida que a opinião pública e os cidadãos de fora se voltaram contra as supostas testemunhas.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.