Por Tessa Koumondouros
Publicado na ScienceAlert
Com penas bizarramente ornamentadas e danças exóticas, as aves-do-paraíso da Nova Guiné são exemplos vivos perfeitos de como a seleção sexual pode fazer com que a evolução dos animais seja algo… bem hilário.
Agora temos evidências de que tal extravagância impraticável era uma coisa que existia muito antes dos pássaros modernos evoluírem.
Um dinossauro do tamanho de uma galinha – com uma densa juba de espessas estruturas semelhantes a penugem descendo por suas costas – também pode ter dançado com seus filamentos decorativos extravagantes na tentativa de seduzir um companheiro há 110 milhões de anos na Gonduana.
Raios-X de um fóssil em um fragmento de calcário da Formação Crato onde hoje é o nordeste do Brasil revelaram estranhas características ornamentais de corpo mole, diferentes de qualquer outra vista em dinossauros. Além de uma espessa juba de filamentos descendo por suas costas e membros, este monstrinho agora fossilizado também era adornado com fitas estranhas, longas e rígidas que saiam de seus lados.
“Dada a sua extravagância, podemos imaginar que o dinossauro pode ter se entregado a danças elaboradas para exibir suas estruturas de forma exibicionista”, disse o paleobiólogo da Universidade de Portsmouth (Reino Unido), David Martill.
Além da atração do parceiro, os filamentos – compostos de queratina assim como as penas e nossos cabelos – também poderiam ter sido usados para comunicação, para rivalizar com outros machos ou para assustar inimigos.
“A simplicidade das estruturas impede a interpretação de que representam penas complexas”, escreveu a equipe – liderada por Robert Smyth, da Universidade de Portsmouth – em seu estudo.
Embora a equipe internacional de pesquisadores não tenha conseguido descobrir exatamente onde os filamentos alongados surgiram, porque as pontas mais próximas do corpo não foram bem preservadas, eles estimam que essas estruturas incomuns se projetavam em torno de 140 a 150 mm dos ombros do dinossauro.
Eles chamaram a espécie de Ubirajara jubatus, e é o primeiro dinossauro encontrado na Gonduana com evidências de precursores de penas.
Esta também é a primeira vez que uma estrutura de tegumento ornamentado (o sistema corporal que inclui pele, cabelo, cascos, etc.) foi identificada em dinossauros não-aviários. Os filamentos em forma de fita eram posicionados de maneira que não interferiam nos movimentos do animal – o que faria sentido, visto que esses dinossauros são considerados predadores oportunistas de pequenos vertebrados e, por isso, precisam se manter ágeis para sobreviver.
A equipe também identificou folículos potenciais dos quais a penugem do corpo poderia ter saído, sugerindo que, como os pássaros modernos, esses dinossauros podiam elevar e mover a posição de suas estruturas semelhantes a pelos.
“Em pássaros existentes, a mobilidade das penas facilita diversas funções, incluindo racionalização, termorregulação e sinalização social, que também teriam conferido vantagens adaptativas para os terópodes não aviários”, explicou a equipe.
O espécime, abrigado no Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha (para o desânimo de alguns paleontólogos brasileiros), estava incompleto, pois acredita-se que partes tenham se perdido quando pedreiros partiram o fragmento de calcário. Mas havia o suficiente para a equipe observar características do esqueleto do Ubirajara, como um sacro incompletamente fundido – os ossos da coluna que se conectam à pélvis – que sugere que o dinossauro era um jovem.
O único outro terópode conhecido (dinossauros de ossos ocos que incluem pássaros modernos) a ter esses filamentos modificados em ou perto de seus membros superiores, é a ave-do-paraíso, ainda viva, Semioptera wallacii.
“Essas penas modificadas são estruturas exibicionistas óbvias, sem nenhuma outra função aparente, e são fundamentais para o sucesso reprodutivo do macho”, escreveram os autores sobre os pássaros.
Sinosauropteryx foi o primeiro dinossauro não-aviário encontrado com filamentos em 1996 e mudou a forma como pensamos sobre os dinossauros, e Ubirajara agora contribui para a nossa compreensão da evolução das penas. Se até mesmo os filamentos mais simples pudessem ser efetivamente modificados em um recurso exibicionista, é improvável que o desenvolvimento de estruturas exibicionistas complexas seja o que impulsionou a evolução das penas, aponta a equipe.
“Ubirajara nos mostra que essa tendência de se exibir não é uma característica exclusivamente aviária, mas algo que os pássaros herdaram de seus ancestrais dinossauros”, concluiu Smyth.
Seu estudo foi publicado na Cretaceous Research.