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DNA de garoto da Antiguidade altera compreensão sobre o surgimento dos primeiros humanos

Homo sapiens pode ter surgido como uma espécie geneticamente distinta há 350 mil anos.

Por Bruce Bower
Publicado na
Science News

Um garoto que viveu onde hoje é a África do Sul a cerca de 2.000 anos forneceu grande ajuda à ciência através de seu genoma. Analisando o código genético desse jovem de um passado remoto, cientistas estimaram que humanos surgiram como uma espécie distinta mais cedo do que normalmente tem sido pensado, entre 350 mil e 260 mil anos atrás.

O truque foi recuperar uma versão completa do DNA do garoto da Antiguidade através de seu esqueleto, para compará-lo com o DNA de pessoas de hoje em dia e de Neandertais e Denisovanos da Idade da Pedra. Migrações de cultivadores da África Ocidental ao leste do continente a cerca de 2.000 anos, e depois ao sul da África, a cerca de 1.500 anos, transformaram a genética africana – e obscureceram os padrões da antiga ascendência – mais do que se sabia antes, os pesquisadores relataram isso em um artigo online da revista Science, publicado no dia 28 de setembro.

O DNA desse garoto da Antiguidade não foi afetado por essas migrações. Como resultado, ele fornece a melhor referência que se tem até agora para se estimar quando a espécie Homo sapiens surgiu na África, concluíram a geneticista evolutiva Carina Schlebusch, da Universidade de Uppsala, na Suécia, e seus colegas.

Em concordância com essa estimativa, baseada na genética, da época da origem humana, um outro grupo propôs que fósseis de cerca de 300 mil anos de idade achados no noroeste africano são de H. sapiens (SN: 7/8/17, p. 6). Alguns pesquisadores suspeitam que um crânio vindo do sítio arqueológico de Florisbad, na África do Sul, datado de aproximadamente 260.000 anos atrás, se caracteriza como o de um H. Sapiens. Mas cientistas frequentemente marcam a origem de nossa espécie em cerca de 200 mil anos atrás (SN: 2/26/05, p. 141).  Há um amplo consenso de que diversos fósseis dessa época são de H. Sapiens.

Debates sobre a marcação do momento das origens humanas vão continuar, apesar da nova evidência dada pelos vestígios desse garoto, cujo os restos vieram de escavações anteriores perto da cidade de Ballito Bay, diz o geneticista evolutivo e coautor do estudo, Mattias Jakobsson, da Universidade de Uppsala. “Nós não sabemos se fósseis de Homo sapiens mais recentes ou se o indivíduo de Florisbad têm conexão genética com o garoto de Ballito Bay”, disse ele.

Portanto, a marcação de tais datas precisa do momento do surgimento da humanidade, mas as épocas exatas das separações entre populações humanas posteriores e anteriores continuam obscuras.

DIVISÕES ANTIGAS -No diagrama, que é baseado em um novo estudo sobre o DNA, o Homo sapiens se origina como uma espécie geneticamente distinta entre 350 mil e 260 mil anos atrás. Populações africanas se separaram em duas direções e depois se subdividiram ainda mais a cerca de 200 mil anos. Populações não-africanas, no canto inferior esquerdo, apareceram a pouco menos de 100 mil anos. Créditos: C. Schlebusch et al/Science 2017.

No entanto, a evolução humana primitiva se desenrolou e o cruzamento e a miscigenação entre diferentes populações tiveram um grande impacto genético. “Evidências de DNA de fósseis mais recentes, incluindo esses estudados pelo grupo de Schlebusch, indicam cada vez mais que humanos da Idade da Pedra migraram de uma parte da África para outra e cruzaram entre si ao longo do caminho (SN: 10/20/12, p. 9)”, diz o geneticista evolutivo Pontus Skoglund, da Havard Medical School. No dia 21 de setembro, Cell, ele e seus colegas relataram que o DNA de 16 africanos, cujos restos têm entre 8.100 e 400 anos de idade, revelam uma ancestralidade comum entre povos caçadores-coletores do leste africano ao sul da África antes que cultivadores do oeste africano tivessem chegado há 2.000 anos.

Essa coleção de genes em comum compreende uma grande e variada parte do DNA do povo atual de Khoisan, no sul da África, descobriu o grupo de Skoglund. Estudos anteriores descobriram que os Khoisan – que abrangem desde o povo caçador-coletor San até grupos agrícolas Khoikoi – demonstram mais diversidade genética do que qualquer outra população humana.

A equipe de Schlebusch estima que a divisão genética entre os Khoisan e demais africanos aconteceu há cerca de 260 mil anos, pouco depois da origem da humanidade e próximo à época do indivíduo de Florisbad. O povo de Khoisan então se dividiu em duas populações geneticamente distintas há cerca de 200 mil anos atrás, os pesquisadores calculam.

Comparações entre o DNA de populações africanas modernas com o código genético de pessoas de outros lugares indica que em torno de 9 a 30 por cento do DNA de Khoisan provém de uma população do leste africano que já se miscigenou com o povo da Eurásia. Esses africanos do leste são provavelmente os cultivadores viajantes que começaram sua jornada no oeste africano e alcançaram o sul africano a cerca de 1.500 anos, os pesquisadores propõem.

Referências

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Tomás Aguirre

Tomás Aguirre

Estudante de ensino médio na cidade de São Paulo, fascinado pela expansão dos limites do conhecimento humano e interessado por áreas diversas como física, matemática, filosofia e economia.