Por Rodney Schmaltz
Publicado no The Huffington Post
Muitos anos atrás fui convidado para dar uma palestra para calouros sobre a natureza da psicologia. Como professor de psicologia social, eu tinha uma grande quantidade de material interessante que eu tinha certeza que os alunos achariam fascinante, de obediência cega à autoridade às técnicas de persuasão de vendedores no cotidiano. No entanto, para minha surpresa, no final da minha apresentação houveram apenas duas perguntas dos alunos: “Será que O Segredo realmente funciona?” e “Os médiuns podem realmente ler mentes?”. Para aqueles não familiarizados com O Segredo, é um filme e livro best-seller que promove a ideia de que podemos ter o que quisermos meramente pensando naquilo, tudo expresso em jargões New Age e em uma deturpação grosseira da física quântica. Quanto aos médiuns, ainda é preciso haver qualquer evidência experimental concreta de habilidade extrassensorial, mesmo havendo 1 milhão de dólares na jogada (mais sobre isso depois). Inicialmente pensei que os alunos haviam feito estas perguntas porque não tinham muito treinamento formal em ciência neste momento das suas carreiras acadêmicas, embora eu logo fosse perceber o contrário.
Estudantes universitários, de calouros a formandos, têm me feito perguntas semelhantes, bem como questionamentos sobre alienígenas , fantasmas e uma grande variedade de medicinas alternativas e tratamentos psicológicos New Age. Devido a inúmeras perguntas sobre esses assuntos, percebi a necessidade de ensinar o ceticismo científico e que utilizar exemplos de pseudociências – alegações que parecem ser científicas mas não são – pode ser um recurso valioso para ajudar os estudantes a se tornarem consumidores mais exigentes de alegações sobre o mundo real.
Todos nós somos bombardeados com pseudociência quando ligamos a televisão e vemos programas de caça fantasma, acessamos a internet e lemos alegações de que podemos ser curados ao baixar para nossos computadores um remédio (se você acha difícil de acreditar, confira aqui), ou vamos ao mercado de comidas saudáveis da região e encontramos propagandas de remédios homeopáticos que supostamente curam tudo, de cancer a medo de trovoada. As pessoas que aceitam essas alegações pseudocientíficas não são nem ingênuas e nem menos inteligentes. Em vez disso, muitas vezes não foi ensinado a elas a técnica para avaliar criticamente as informações. Embora a linha entre ciência e pseudociência não seja invariavelmente clara, Scott Lilienfeld e eu fornecemos algumas ferramentas para ajudar a distinguir entre os dois aqui.
O falecido astrônomo e escritor Carl Sagan se referiu ao ceticismo científico como a capacidade de abordar alegações com uma mente aberta, mas apenas aceitar tais alegações uma vez que elas tenham sobrevivido ao rigoroso escrutínio científico. Mas até mesmo os alunos que se destacam em seus cursos podem ser incapazes de separar informação boa de ruim, especialmente fora da sala de aula. Pesquisadores descobriram que, mesmo depois de passar por dois ou três cursos de ciências, a maioria dos estudantes apresentaram apenas pequenos declínios em crenças pseudocientíficas. Embora os alunos possam dominar os fatos e números aprendidos em suas aulas de ciência, muitos não aprenderam a apreciar o processo da ciência. Em particular, a maioria não entende o ponto-chave de que a ciência não é um corpo de conhecimento, mas uma abordagem do conhecimento que enfatiza sujeitar alegações a um cuidadoso escrutínio. Como consequência, muitos estudantes não possuem as ferramentas de pensamento para distinguir ciência de pseudociência.
Felizmente, há uma série de excelentes recursos disponíveis para quem está interessado em melhorar a capacidade para vir a ser um cético científico. Por exemplo , a James Randi Educational Foundation (JREF), fundada pelo mágico mundialmente famoso e cético proeminente James “The Amazing” Randi, é um ótimo ponto de partida. A JREF também apresenta o Desafio Paranormal de Um Milhão de Dólares, em que a organização irá pagar U$ 1 milhão para qualquer um que possa demonstrar atividades paranormais ou sobrenaturais sob condições experimentais controladas. Embora tenha havido centenas de participantes, ninguém ainda chegou perto de ganhar o prêmio. Programas de televisão, tais como Penn & Teller: Bullshit!, embora agressivo às vezes, lança uma luz sobre uma variedade de alegações pseudocientíficas, e céticos proeminentes como Phil Plait, Richard Wiseman e Michael Shermer têm escrito uma grande variedade de magníficos artigos que estão facilmente disponíveis em versão impressa e on-line. Tim Minchin, comediante e compositor, produziu várias músicas hilárias e perspicazes sobre a natureza da ciência e do ceticismo. Um bom ponto de partida é sua ode à máxima de Oberg, a noção de que devemos manter a mente aberta, mas não tão aberta que nossos cérebros caiam. Esses recursos promovem as habilidades do pensamento científico de uma forma atraente e divertida.
Nos meus cursos universitários uso uma série de estratégias para ajudar meus alunos a aprimorarem o seu ceticismo científico. O objetivo é criar céticos científicos, não cínicos. Por exemplo, ao invés de discutir a falta de evidência de fantasmas, eu peço aos alunos para irem caçar fantasmas – utilizando procedimentos metodológicos adequados. Neste exercício, os alunos logo começam a ver que algumas caçadas a fantasmas que eles assistem na televisão não parecem científicas. Desta e de outras maneiras eu desafio os alunos a questionarem todas as alegações extraordinárias. Isso não significa que os alunos devem descartar definitivamente uma afirmação extraordinária, mas que eles deveriam exigir evidências extraordinárias antes de aceitá-la. Como outro exemplo, eu entorto uma colher de metal na sala, supostamente com o poder minha mente, e peço aos estudantes para elaborarem hipóteses sobre como eu fiz isso. Raramente os alunos atribuem o entortamento da colher a habilidades psíquicas; em vez disso, dizem, muito corretamente, que a colher que eu usei foi adulterada antes da minha demonstração. O ponto dessa demonstração é incentivar os alunos a elaborar essas idéias quando são confrontados com qualquer alegação extraordinária, seja relacionada a ESP, curas médicas milagrosas, ou pessoas que afirmam falar com os mortos. (Como Michael Shermer nos lembra, falar com os mortos não é difícil; conseguir que os mortos falem de volta que é o problema). Sempre que os alunos são confrontados com uma alegação extraordinária, encorajo-os a pensar no entortamento da colher e fazer uma pergunta simples: Qual é a melhor explicação para esse fenômeno?
Estamos todos bem servidos para adquirir e praticar as habilidades de pensamento cético, não apenas para nos ajudar a distinguir a ciência da pseudociência, mas para nos tornarmos melhores consumidores de informação em todos os aspectos de nossas vidas.