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Englert e Higgs laureados pelo Nobel de Física de 2013

Publicado na Nature

François Englert e Peter Higgs ganham o Nobel 50 anos depois do início da busca pelo bóson.

Milhares de cientistas estiveram envolvidos na busca pelo bóson de Higgs, a maior descoberta da geração atual na física de partículas. Mas para o comitê do Prêmio Nobel de Física, dois nomes foram mais importantes. Em um anúncio feito hoje (8 de outubro) em Estocolmo, Peter Higgs da Universidade de Edimburgo, Reino Unido, e François Englert da Universidade Livre de Bruxelas foram nomeados ganhadores do Nobel pelo desenvolvimento da teoria que é agora comumente chamada de mecanismo de Higgs: o processo pelo qual um campo permeando o espaço dá massa a outras partículas fundamentais, e que implica na existência do bóson de Higgs. Sobre a escolha do comitê, “Sinceramente, eu teria feito a mesma escolha”, diz John Ellis, físico teórico do CERN, o laboratório de física de partículas europeu em Genebra, na Suíça.

A existência do bóson foi anunciada em meio a aplausos no CERN no dia 4 de julho do ano passado, depois de ter sido produzido a partir de colisões de altas energias no acelerador LHC que custou 3 bilhões de euros (US$ 4,1 bilhões). Teria sido muito complicado premiar os experimentais com o Nobel, segundo Ellis, que se juntou a outros teóricos do CERN para comemorar o anúncio do premio. “O trabalho pioneiro de Englert e Higgs mereciam esse prêmio”, diz.

“Estou extremamente feliz pelo reconhecimento deste prêmio extraordinário”,  diz Englert. Já Higgs, que é notoriamente modesto e sofreu um ataque de bronquite no mês passado, esteve indisponível para entrevistas. Os dois ganhadores se encontraram pela primeira vez no CERN.

O bóson de Higgs era a peça que estava faltando no quebra-cabeça do modelo padrão da física de partículas, que descreve todas as partículas e forças fundamentais conhecidas, exceto a gravidade. O próprio bóson de Higgs é a menor perturbação possível no campo de Higgs, que dá massa para partículas, incluindo elétrons, quarks, e os bósons W e Z que são as mediadoras da força nuclear fraca.

A ideia foi desenvolvida na década de 60, quando físicos tentando descrever as forças fundamentais estavam tendo que lutar com as “embaraçosas partículas sem massa que estavam flutuando em suas teorias”, como colocado por Ellis. Em 1964, seis físicos trabalharam de forma independente no modo como um campo poderia resolve o problema. Robert Brout (que faleceu em 2011) e Englert foram os primeiros a publicar, em agosto de 1964, seguidos três semanas depois por Higgs – o único autor, até então, a introduzir o pesado bóson de Higgs que a teoria implicava. Tom Kibble, Gerald Guralnik e Carl Hagen vieram em seguida. “Quase ninguém deu atenção”, diz Ellis, principalmente porque os físicos não tinham certeza de como fazer cálculos usando tais teorias. Foi apenas depois de 1971, quando Gerard ‘t Hooft resolveu o problema da matemática, que a citações dispararam e as buscas pelo Higgs começaram para valer.

Tantos teóricos estiveram envolvidos que Higgs se refere ao mecanismo como mecanismo de ABEGHHK’tH (Anderson-Brout-Englert-Guralnik-Hagen-Higgs-Kibble-‘t Hooft). Mas esta lista de nomes não é anda comparada a legião de experimentais que se juntaram na tentativa de rastrear o bóson, com aceleradores de partículas cada vez mais poderosos que produziram seus próprios prêmios Nobel com o passar dos anos.

“Isso foi algo realmente incrível que aconteceu na minha vida”, disse Higgs no auditório do CERN quando a partícula foi anunciada.

Alan Walker, um colega do Higgs de Edimburgo, disse: “Aquela dia foi para os experimentais. Eu acho que hoje é para os teóricos”.

Alberto Albuquerque

Alberto Albuquerque

Sou graduando em física pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Cursei 2 anos de Engenharia Mecânica pela mesma instituição. Sou cético, agnóstico e entusiasta em física.