Por Katherine Wu
Publicado na Smithsonian Magazine
A pobre Takabuti teve realmente um fim trágico. Uma jovem egípcia mumificada há cerca de 2.600 anos, morreu em um duro golpe de facadas em suas costas. Nesta semana, após meses de análise, uma equipe de egiptólogos concluiu que a infeliz mulher foi assassinada em um ataque violento que culminou em uma lâmina perfurando seu peito por trás, próximo do ombro esquerdo.
Como Laura Geggel relata à Live Science, as descobertas mórbidas representam um dos pregos finais no caixão metafórico de Takabuti. Provavelmente, ela era uma mulher casada e de alta classe da cidade de Tebas, onde conheceu seu fim prematuro por volta de 660 AEC, ou aproximadamente o desfecho da Vigésima Quinta Dinastia do Egito. Após passar os próximos milênios em relativo anonimato, seu caixão foi levado pela onda de comércio de múmias egípcias que se seguiu às Guerras Napoleônicas. Um irlandês rico chamado Thomas Greg levou os restos mortais de Takabuti para Belfast em 1834, fazendo dela a primeira múmia egípcia a desembarcar na Irlanda, de acordo com a BBC.
No ano seguinte, os analistas desembrulharam os restos para inspecionar o corpo e decifrar os hieróglifos que adornavam o caixão. Com base nessas informações, eles puderam avaliar o status e a idade de Takabuti: provavelmente, ela era dona de uma casa rica e morrera aos 20 ou 30 anos.
Por fim, Takabuti foi para o Museu de Ulster na Irlanda, onde ela foi colocada em uma exposição especialmente popular, de acordo com Catherine Morrison da BBC News. Mas sua causa da morte permanecia um mistério.
A mais recente análise, anunciada no 185º aniversário do desembrulho original de Takabuti, parece revelar a terrível verdade: uma série de tomografias identificou um padrão de marcas de feridas na parte superior das costas, onde uma faca foi profundamente forçada em sua carne. De pé com apenas um metro e meio de altura, Takabuti provavelmente morreu de forma rápida, afirma o cirurgião ortopédico da Universidade de Manchester, Robert Loynes, em um comunicado.
“É frequentemente relatado que ela parece bastante pacífica deitada em seu caixão”, explica Eileen Murphy, bioarqueóloga da Queen’s University Belfast, em um comunicado.
Outros bisbilhoteiros revelaram várias outras surpresas. Pesquisas realizadas há vários anos descobriram que Takabuti deliberadamente penteava e enrolava seus cabelos ruivos. Na morte, ela também era uma anomalia: enquanto a maioria dos cadáveres egípcios eram despojados de seus corações, pesados para avaliar a virtude de seus donos, o de Takabuti ainda estava em seu corpo.
Até o conteúdo de seu genoma pegou os pesquisadores desprevenidos. O DNA dela tinha mais semelhança com as populações europeias do que com os egípcios modernos e parecia fazer parte de uma linhagem extraordinariamente rara no Egito, de acordo com o comunicado. Takabuti também exibia um dente e uma vértebra extras, características que ocorrem em apenas 0,02 e 2%, respectivamente, dos seres humanos.
“Analisando os registros históricos sobre seus primeiros dias em Belfast, é evidente que ela causou um alvoroço midiático em 1835 – ela tinha um poema escrito sobre ela, uma pintura havia sido feita dela antes de seu ‘desenrolar’ e os relatos de seu desembrulho foram veiculados em jornais da Irlanda”, diz Murphy. “A pesquisa realizada há dez anos nos deu algumas ideias fascinantes, como seu cabelo ruivo deliberadamente enrolado e penteado. Isso deve ter sido uma parte muito importante de sua identidade, pois ela rejeitou o estilo típico da época de cabeça raspada. Olhando para todos esses fatos, começamos a ter uma ideia da jovem e não apenas da múmia”.