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Este estranho crocodilo com chifres pode representar um novo galho na árvore da vida

Traduzido por Julio Batista
Original de Clare Watson para o ScienceAlert

Um extinto crocodilo com chifres que outrora chamava a ilha de Madagascar de lar finalmente encontrou seu lugar na árvore da vida, de acordo com um novo estudo de dois crânios armazenados no Museu Americano de História Natural.

Com base no DNA antigo extraído dos espécimes do museu, os pesquisadores postularam que o crocodilo com chifres estava intimamente relacionado aos crocodilos “verdadeiros” modernos que vivem nos trópicos, mas fica em um galho adjacente da árvore genealógica dos crocodilos que se dividiu cerca de 25 milhões de anos atrás.

Isso reajusta o pensamento científico sobre as relações evolutivas dos crocodilos com chifres, que mais recentemente os classificaram como parentes de crocodilos-anões.

O estudo também sugere que o ancestral dos crocodilos modernos provavelmente se originou na África e colabora para resolver a controvérsia de longa data que gira em torno da história evolutiva do crocodilo com chifres.

Crânio de Voay robustus do sudoeste de Madagascar. (Créditos: M. Ellison/©AMNH)

Os bastante encorpados crocodilos com chifres, nomeados assim por conta de saliências ósseas incomuns no topo de suas cabeças e conhecidos hoje como Voay robustus, vagavam por Madagascar ao lado de outro crocodilo mais esguio, de acordo com relatos dos primeiros exploradores.

Mas enquanto o crocodilo-do-nilo (Crocodylus niloticus) ainda habita a ilha até hoje e é o maior e mais comum crocodiliano em toda a África, os crocodilos com chifres foram extintos depois que os humanos chegaram às costas de Madagascar, há cerca de 9.000 anos.

“Eles desapareceram um pouco antes de termos as ferramentas genômicas modernas disponíveis para dar sentido às relações entre os seres vivos”, disse a autora do estudo Evon Hekkala, ecologista comportamental que se tornou geneticista da conservação na Universidade Fordham em Nova York (EUA).

“E ainda assim, eles foram a chave para entender a história de todos os crocodilos vivos hoje.”

Compreensivelmente, crocodilos com chifres têm sido o foco de intenso estudo e debate entre os paleontólogos. Mas depois de 150 anos de investigações, os pesquisadores não conseguiram chegar a um acordo sobre onde colocar o crocodilo com chifres de Madagascar na árvore da vida.

No início, os crocodilos com chifres foram descritos como uma nova espécie de “crocodilo verdadeiro” ao lado do crocodilo-do-nilo. Mas então os cientistas pensaram que eles tinham mais em comum com os crocodilos-anões mais esguios e menores.

Um crânio de crocodilo extinto que teve seu DNA analisado para o estudo. (Créditos: M. Ellison/©AMNH)

Parte do problema é que os crocodilos são feras incomuns que se parecem muito com seus ancestrais fossilizados que viveram há cerca de 200 milhões de anos. Essas semelhanças físicas tornam difícil descobrir as relações entre os crocodilos modernos e seus ancestrais antigos.

“Estamos tentando analisar a fundo a grande diversidade que existe entre eles”, disse Hekkala, que parece ter um talento especial para resolver mistérios de crocodilianos usando DNA antigo.

Em 2011, como estudante de graduação, ela descobriu por análise genética que o crocodilo-do-nilo era na verdade duas espécies distintas, não uma – e as espécies diferiam por dois cromossomos inteiros.

Desta vez, Hekkala e seus colegas mapearam o DNA mitocondrial extraído dos dentes de dois espécimes de V. robustus e os compararam com alguns genomas de referência de crocodilo.

Os crocodilos com chifres, que datam de cerca de 1.300 a 1.400 anos, foram coletados em uma expedição ao sudoeste de Madagascar entre 1927 e 1930 e estão armazenados no Museu Americano de História Natural desde então.

O DNA mitocondrial, que é passado de mãe para filho, tende a permanecer o mesmo ao longo das gerações, o que o torna uma ferramenta útil para rastrear a evolução através da ancestralidade materna. Mas, como o DNA antigo se fragmenta com o tempo, sempre depende de quão bem o DNA de uma determinada amostra foi preservado.

As comparações genéticas aqui sugeriram que o crocodilo com chifres representa uma “linhagem irmã” dos crocodilos ‘verdadeiros’, colocando V. robustus ao lado do crocodilo moderno, como o crocodilo-de-água-salgada da Austrália, na árvore evolucionária.

Foi apenas com técnicas modernas de DNA e a configuração computacional correta que a equipe de pesquisa poderia “realmente isolar este DNA do fóssil e finalmente encontrar um lar para esta espécie”, explicou o autor do estudo e geneticista George Amato, do Instituto de Genômica Comparativa do Museu Americano de História Natural.

Portanto, pode-se dizer que este é o esperado retorno ao lar de V. robustus.

“Esta descoberta foi surpreendente e também muito informativa sobre como devemos pensar a origem dos crocodilos verdadeiros encontrados nos trópicos hoje”, acrescentou Amato.

“A localização desse indivíduo sugere que crocodilos verdadeiros se originaram na África e, de lá, alguns foram para a Ásia e outros para o Caribe e o Novo Mundo. Nós realmente precisávamos do DNA para obter a resposta correta para essa pergunta.”

A pesquisa foi publicada na Communications Biology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.