A história e a evolução da vida na Terra é marcada não só pelo aparecimento de novas e fantásticas criaturas, mas também pelo desaparecimento de grupos inteiros através dos processos de extinção. É impossível falar da evolução da vida no nosso planeta sem falar em extinções, afinal a própria evolução é um dos fatores que pode levar a extinção. Durante um vasto período de tempo era inconcebível a ideia de que uma espécie poderia desaparecer completamente, era um período em que os estudos da natureza estavam baseados na premissa de que os organismos vivos haviam sido criados prontos e distribuídos pela Terra à mercê de seu criador (ou criadores). A discussão a respeito do desaparecimento de grupos inteiros teve início com a descoberta e o estudo dos fósseis, que possibilitou a compreensão de que toda uma espécie poderia deixar de existir. Ironicamente um passo importante nesse entendimento foi dado por Georges Cuvier, naturalista famoso pelos seus trabalhos de anatomia comparada e que rejeitava a teoria evolutiva. Cuvier analisando e comparando alguns fósseis de mamutes com animais viventes, notou que eles não pertenciam a nenhuma espécie atual, os exemplares fossilizados representavam uma espécie que não mais existia, sendo assim, foi necessário admitir que as espécies não eram estáticas, e que outrora viveram na Terra organismos que não mais existiam. Uma grande contribuição para a teoria de Darwin.
Quando se fala em extinção geralmente se pensa em eventos catastróficos de níveis globais. A queda do meteorito que extinguiu os dinossauros, exceção feita as aves, no fim do período Cretáceo, é o evento mais conhecido. É verdade que situações dessa magnitude ocorreram ao longo da história do planeta, porém essa não é a única forma que uma espécie ou grupos maiores podem ser levados a extinção. Uma mudança drástica no clima, alterações na salinidade e na temperatura da água, competição, patógenos, atividade vulcânica, entre outros, são alguns dos fatores que podem levar à aniquilação de uma espécie e, em eventos de grande escala, esses fatores ou boa parte deles estão envolvidos. Um dos tipos de extinção em menor escala, onde o processo evolutivo é o responsável, é chamado de Extinção Filética.
A extinção filética ou pseudoextinção é intrínseca ao processo evolutivo pois ocorre quando os descendentes de uma população se modificam o suficiente a ponto de serem considerados de espécies distintas, e essa mudança é acompanhada da extinção da população original. Esse tipo de extinção está intimamente ligado a especiação por anagênese, onde os indivíduos de uma população sofrem modificações ao longo das gerações, se diferenciando dos membros da população fundadora que vão sendo extintos, enquanto as novas modificações dão aos descendentes uma característica de uma nova espécie. Um paleontólogo que encontre fosseis de representantes da população fundadora irá classifica-los como uma espécie distinta da atual, porém com uma relação filogenética bem próxima. Esse conceito pode ser difícil de se entender pela dificuldade que se tem em classificar o que seria uma espécie. A espécie A (extinta) não originou a espécie A1 (vivente) de forma súbita. Todo o processo entre A e A1 foi lento e gradual, tendo produzido uma variedade de indivíduos ao longo das gerações. Seria mais semelhante a um gradiente de cores, como a escala de cores RGB onde você pode definir com exatidão onde é o vermelho e onde é o verde, mas existe um gradiente entre esses dois pontos onde se torna arbitrário definir quem é vermelho ou verde.
Outro tipo de extinção é aquele que ocorre a partir da interação entre grupos/populações de organismos, também chamada de “extinção de fundo” (background extinctions). Grupos de indivíduos bem adaptados ao seu ambiente podem sofrer graves consequências com a chegada de novos grupos de indivíduos em seu território. A disputa por espaço e/ou alimento pode levar uma espécie a sobrepujar a outra. A predação excessiva também pode levar a uma extinção desse tipo. Um exemplo clássico é a extinção dos Dodôs pelo ser humano. O Homo sapiens é um predador que tem a sua disposição diversos tipos de presas, porém o excesso na caça a uma espécie específica pode leva-la a extinção, e foi o que ocorreu nas Ilhas Mauricio. Ao desembarcarem nas ilhas, em 1505, os colonos se depararam com uma ave dócil e suculenta, que até então nunca tinha se deparado com essa espécie de primata, portanto não tinha medo de se aproximar. A facilidade em capturar os Dodôs fez deles uma presa fácil, e os humanos recém chegados não economizaram na caça, levando a espécie à extinção.
Um outro exemplo é a união que aconteceu entre a América do Norte e do Sul, quando o nível do oceano baixou permitindo a entrada na América do Sul de espécies vindas do Norte pelo Istmo do Panamá. A chegada de novas espécies além de levar a uma competição por alimento e território – herbívoros que migram de habitat em busca de comida podem também trazer em seu encalço seus predadores, e ambos passarão a competir com as espécies nativas – trazem consigo seus patógenos. Quando uma nova espécie recém chegada traz consigo seus micróbios, as espécies nativas que nunca tiveram contato com esses microrganismos e portanto não possuem resistência imunológicas a eles, se tornam vulneráveis. Esse processo também pode acarretar na extinção de várias espécies.
As grandes extinções ou extinções em larga escala, também chamadas de extinções em massa, são episódios na história da Terra onde grande parte das espécies existentes foram extintas e muitas outras entraram em declínio, em alguns períodos foi constatado que até 90% de todas as espécies vivas desapareceram. Situações desse tipo nunca estão relacionadas a um único evento, mas a um conjunto de fatores que combinados tornam-se devastadores para a vida na Terra.
Dentre esses fatores, um deles pode ser a própria dinâmica da Terra, onde o movimento das placas tectônicas pode, por exemplo, unir duas massas de terra, levando faunas e a floras antes separadas a se encontrarem e, sendo assim, podendo causar uma extinção de fundo como vimos anteriormente. Mas não é só isso, a colisão ou separação de placas tem grande influência no clima, alterando correntes de ar e correntes marítimas, assim como o nível do mar. O deslocamento das placas também é responsável pelo aumento da atividade vulcânica que pode liberar grandes quantidades de CO2 na atmosfera, aumentando o efeito estufa, além da liberação de outros gases tóxicos e da possível diminuição de O2 na atmosfera ou no mar. Uma grande variação no efeito estufa pode tanto esquentar demais a Terra como esfriar demais, ambos os casos podem trazer consequências aos organismos vivos, principalmente aos produtores primários, levando a uma reação em cadeia. E também existem as causas extraterrestres, como o impacto de meteoritos e a radiação cósmica.
Na extinção do Cretáceo citada no início do texto o que ocorreu foi um combinação de vários desses fatores. O impacto causado pela queda de um bólido na superfície da Terra teria levantado uma grande quantidade de poeira que bloquearia a entrada de raios solares, que por sua vez comprometeria a fotossíntese e levaria os produtores primários a morte causando uma reação em cadeia. O impacto também agitou a estrutura da Terra, aumentando a atividade vulcânica que lançou grandes quantidades de CO2 e outros gases na atmosfera, aumentando o efeito estufa, ocasionando a presença de chuvas ácidas devido ao enxofre e a reação do O2 com outros gases reduziria a camada de ozônio diminuindo a proteção contra a radiação. O envenenamento e a anoxia do ambiente marinho tornaria esse ambiente pouco propenso a sustentar boa parte da vida que ali se encontrava.
Com a morte dos produtores primários, os grandes dinossauros herbívoros morriam de fome, o que por sua vez também comprometeria a sobrevivência dos grandes animais carnívoros. Aqueles que sobreviveram foram os animais de pequeno porte como por exemplo, os mamíferos e as aves que se diversificaram e se prontificaram em conquistar os nichos disponíveis após a catástrofe. E essa é a participação das extinções na história e na evolução da vida na Terra, através do balanço entre o surgimento e desaparecimento de espécies, ela se encontra presente, seja em menor escala como consequência do próprio processo evolutivo que nunca cessa ou seja de forma catastrófica pela combinação de diversas alterações ambientais.
Referências:
Paleontologia: Conceitos e Métodos, vol. 1; 3ª edição. Ismar de Souza Carvalho. Editora Interciência
http://www.anuario.igeo.ufrj.br/anuario_2007_1/2007_1_123_134.pdf
http://www.ib.usp.br/evosite/evo101/VIIB1dMassExtinctions.shtml
http://park.org/Canada/Museum/extinction/tablecont.html
Publicado originalmente em: http://evolutionacademy.bio.br/blog/2014/10/22/tipos-de-extincoes/