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Hora de sermos realistas sobre a homeopatia

Por Edzard Ernst

O National Health and Medical Research Council (Conselho de Pesquisas Médicas e da Saúde Nacional) da Austrália publicou recentemente o que deve ser a avaliação mais minuciosa da homeopatia em 200 longos anos de história dessa terapia. Foi avaliado um total de 57 revisões sistemáticas abrangendo 176 estudos clínicos individuais focados em 68 diferentes condições. Eles concluíram que, primeiro, não há evidências que a homeopatia é melhor que o placebo. E segundo que os pacientes podem causar danos a eles mesmos, se usarem homeopatia ao invés de terapias eficazes. Ainda em 2002, utilizando uma análise similar, mas menos abrangente, eu conclui que “a melhor evidência clínica da homeopatia disponível atualmente não gera recomendações positivas para o seu uso na prática clínica”. Mesmo assim homeopatas no mundo ficaram chocadas com essa notícia recente e agora estão batalhando para menosprezá-la ou silenciá-la.

A reação é tão surpreendente quanto ridícula. A conclusão de que remédios homeopáticos altamente diluídos são puro placebo já havia sido obtida pela total implausibilidade das teorias de Hahnemann de que o similar cura similar e que a diluição um remédio não o deixa mais fraco e sim mais forte. Oliver Wendell Holmes, por exemplo, escreveu em 1842 que homeopatia é uma “massa misturada de ingenuidade perversa, uma erudição de brilho superficial de crendice imbecil, e de má interpretação artistíca, que às vezes se mistura na prática… com imposição descarada e impiedosa.

Homeopatas, entretanto, contra-atacaram afirmando que nos últimos 200 anos a ciência ainda não conseguiu explicar como a homeopatia funciona, em outras palavras, que os homeopatas estão à frente do seu tempo. O fato, entretanto, é que cientistas sempre foram capazes de afirmar que não pode haver uma explicação para homeopatia que não seja contrária à ciência.

“A prova é o uso dos pacientes”, os homeopatas afirmam, “se os pacientes melhoram com a homeopatia, ela funciona independente do que a ciência nos diz!” Também já foi mostrado que esse argumento não se baseia em nada além de ilusões dos homeopatas. Pacientes melhoram pelo encontro com o terapeuta, do efeito-placebo e por outras razões não relacionadas com as bolinhas de açúcar prescritas por homeopatas. Para oferecer esses benefícios a seus pacientes, médicos não precisam de placebo. Administrar tratamentos realmente eficazes com compaixão beneficiará os pacientes tanto dos efeitos específicos quanto dos efeitos inespecíficos da terapia em questão. Isso quer dizer que usar placebo como a homeopatia é anti-ético e significa trair o paciente.

Dada a abundante evidência contra a homeopatia, parece que é o momento para agir. Não há mais razão para consumidores, pacientes, políticos, jornalistas, etc. acreditarem na homeopatia. Pretender que há espaço para um debate legítimo é apenas enganar o público. Também não há razão de ter homeopatia no serviço publico de saúde, pagar por hospitais homeopatas ou investir em mais pesquisas. Após pesquisar esse tema por mais duas décadas, estou convencido que o único lugar legítimo para a homeopatia é nos livros de história.

Felipe Nogueira

Felipe Nogueira

Doutor em ciências médicas pela Universidade do Estado do Rio Janeiro. Mestre em ciência da computação. Divulgador da ciência no seu blog, além de ter publicado nas revistas Skeptical Inquirer e Skeptic