Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Pelo pouco que sabemos sobre eles, eles parecem tão diferentes. Criaturas que viveram no oceano meio bilhão de anos atrás – coisas sem cabeça e sem membros, aparentemente estranhas a nós em todos os aspectos.
Exceto que eles não eram, sugere uma nova pesquisa. Na verdade, a biota ediacarana – uma fauna de antigas formas de vida oceânicas que viveram na Terra entre 570 a 539 milhões de anos atrás – teria compartilhado uma série de semelhanças genéticas com metazoários modernos (animais multicelulares), incluindo humanos, dizem os cientistas.
Não que as semelhanças sejam estranhas ou algo assim.
“Nenhum deles tinha cabeça ou esqueleto”, explicou a paleobióloga Mary Droser, da Universidade da Califórnia, em Riverside.
“Muitos deles provavelmente pareciam tapetes de banheiro tridimensionais no fundo do mar, com discos redondos que se projetavam por cima”.
Droser tem uma espécie de especialidade em investigar organismos misteriosos do passado distante da Terra.
Um ano atrás, ela dirigiu um estudo que identificou um desses ediacaranos: Ikaria wariootia, uma bolha estranha e lenta do tamanho de um grão de arroz, que pode ter sido o ancestral mais antigo de todos os animais com corpos bilateralmente simétricos.
No entanto, nem todos os ediacaranos têm necessariamente laços tão estreitos com os animais hoje.
Existem mais de 40 espécies reconhecidas no período – incluindo a mais famosa, a ovoide Dickinsonia, e outra com o nome do presidente Obama – e determinar onde suas formas fossilizadas deveriam estar na árvore da vida nem sempre é fácil.
“Esses animais são tão estranhos e tão diferentes que é difícil atribuí-los às categorias modernas de organismos vivos apenas olhando para eles”, disse Droser. “E não é como se pudéssemos extrair seu DNA – porque não podemos”.
Sem serem capazes de analisar os dados genéticos dessas criaturas em primeira mão, os pesquisadores precisam se virar inferindo o que podem dos vestígios de fósseis que esses organismos deixaram para trás. Felizmente, essas marcas antigas podem revelar um pouco.
Em um novo estudo com a coautoria de Droser e liderado pelo paleontólogo Scott Evans do Museu Nacional de História Natural Smithsoniano, os pesquisadores analisaram quatro representantes da biota ediacarana: Dickinsonia, Ikaria, a lesma Kimberella e a hemisférica bolha Tribrachidium.
Com base nas observações dos fósseis e no que podemos deduzir sobre como essas criaturas podem ter movido seus corpos, sobrevivido e geralmente habitado o antigo fundo do mar, os pesquisadores propõem que os animais provavelmente continham uma forma rudimentar de sistema nervoso, sustentado e regulado pelos mesmos tipos de elementos reguladores genéticos ainda usados por animais vivos hoje, incluindo humanos.
“Esta análise demonstra que as vias genéticas para multicelularidade, polaridade axial, musculatura e sistema nervoso estavam provavelmente presentes em alguns desses animais primordiais”, escrevem os autores.
“Juntos, esses traços ajudam a restringir melhor a posição filogenética de vários táxons importantes dos ediacaranos e embasam nossas visões sobre a evolução dos primeiros metazoários”.
Especificamente, no novo estudo, a equipe descreve uma ampla gama de genes que podem ter influenciado a multicelularidade, imunidade, nervos, apoptose (morte celular programada), padronização axial (que diferencia os lados de um corpo, como frente ou atrás e esquerda ou direita), e mais.
Embora ainda haja muito a aprender sobre essas criaturas verdadeiramente antigas, a biologia que nos une ao longo de milhões de anos mostra que elas talvez não sejam tão estranhas quanto parecem.
“O fato de podermos dizer que esses genes estavam operando em algo que está extinto há meio bilhão de anos é fascinante para mim”, disse Evans.
As conclusões são relatadas na Proceedings da Royal Society B.