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Jovens corvos podem ter habilidades cognitivas semelhante às dos grandes primatas adultos, segundo pesquisas

Por Mike McRae
Publicado na ScienceAlert

É seguro dizer que se houvesse uma Mensa para animais, os corvídeos com certeza fariam parte. Eles podem fazer planos como nós, fazer ferramentas como nós e podem até estar nos julgando conscientemente por tudo o que sabemos. Nós entendemos, eles são super inteligentes.

Só para esclarecer, agora há evidências de que o desenvolvimento cognitivo deles pode até ser um pouco mais rápido do que o nosso. Corvos comuns (Corvus corax) criados por humanos têm todas essas habilidades mentais com apenas quatro meses de idade, tudo sem assistir a um único episódio de O Mundo de Beakman.

Pesquisadores dos Institutos Max Planck de Ornitologia e Antropologia Evolutiva na Alemanha administraram oito corvos sob seus cuidados por meio de uma versão modificada da Bateria de Teste de Cognição de Primatas (PCTB, na sigla em inglês) a cada quatro meses desde que nasceram.

Esta série de testes não examina apenas as habilidades de ‘pensamento’ ligadas a relações espaciais, permanência de objetos, causalidade e uso de ferramentas – também lida com habilidades sociais, comunicação e teoria da mente.

Eles compararam os resultados das aves com os dados coletados anteriormente em primatas, incluindo resultados em chimpanzés (Pan troglodytes) e orangotangos (Pongo pygmaeus), bem como papagaios.

Eles descobriram que, com apenas quatro meses de idade, os corvos já tinham as habilidades sociais e outras habilidades cognitivas esperadas de um corvo adulto. Isso apesar de ter um cérebro que ainda não estava totalmente desenvolvido.

Como essas habilidades são comparáveis ​​às de um grande primata, isso significa que os corvos que mal conseguem voar já podem resolver problemas que fariam um orangotango coçar a cabeça.

Quando crianças humanas fazem os testes de PCTB, elas geralmente se igualam aos seus parentes primatas. Pelo menos no que diz respeito aos componentes sociais.

Mas nos 6 milhões de anos que separam humanos e chimpanzés em termos evolutivos, não ultrapassamos eles tanto no desenvolvimento de outras habilidades cognitivas, como memória espacial e capacidade de reconhecer quantidades relativas. Comparações entre bebês humanos e bebês chimpanzés mostram que somos bem parecidos no que diz respeito à nossa “maquinaria mental” geral nos anos de formação.

Isso significa que nossos ancestrais tiveram um impulso mental pelo desenvolvimento sociocultural logo depois que nos tornamos bípedes. Os primeiros humanos colocaram sua energia no crescimento rápido da neurologia necessária para se comunicar e compreender as intenções dos outros, em vez de treinarem os bebês para desenvolver habilidades de comparação de volumes ou de manipulação de ferramentas.

Dado que tais distinções aparecem em espécies tão estreitamente relacionadas como chimpanzés e Homo sapiens, como outros animais altamente inteligentes se comparam permanece uma questão aberta e intrigante.

Como ninguém havia reunido muitas informações sobre o desenvolvimento cognitivo dos corvídeos, esse campo de estudo implorava para ser estudado.

Quando a idade foi levada em consideração para cada conjunto de habilidades, não houve diferença real entre as aves que tinham quatro meses e aquelas que tinham 16 meses.

Cada uma, em média, teve melhor desempenho nos domínios quantitativos do teste e pior desempenho nos componentes espaciais. Para a surpresa dos pesquisadores, no entanto, a inteligência física e social dos corvos não era tão diferente entre as idades.

Talvez um teste projetado para primatas não seja suficientemente eficaz para detectar distinções sutis no comportamento das aves. Mas os testes realizados por outros pesquisadores em psitacídeos usando o PCTB não mostraram talento cognitivo semelhante ao dos corvos, o que é surpreendente, dadas as observações que parecem desafiar tal resultado.

Também pode ser possível que as diferenças apareçam antes de quatro meses ou depois de 16 meses, ou talvez uma amostra de oito corvos seja pequena demais para se chegar a quaisquer conclusões claras.

Com isso em mente, podemos simplesmente ter evidências de corvos priorizando suas habilidades sociais tanto quanto nós, desenvolvendo-as desde cedo com outras habilidades cognitivas.

Pondo de lado seu talento limitado para dar sentido aos espaços, as comparações entre as pontuações dos corvos e dos primatas eram notavelmente semelhantes. Habilidades sociais e cognitivas – mesmo entre as aves de quatro meses – eram comparáveis.

Talvez nada disso deva nos surpreender. Não apenas sabemos que os corvídeos são inteligentes, também sabemos que eles têm vidas sociais complexas, compartilhando estados emocionais e competindo por recursos.

“Uma vez que a vida social dos corvos e de outros corvídeos é altamente competitiva, todos os aspectos de suas habilidades cognitivas provavelmente foram moldados pela necessidade de competir com membros da mesma espécie em geral”, sugerem os pesquisadores em seu relatório.

Se der mais alguns milhões de anos de evolução, talvez nós, humanos, poderemos estar catando o lixo deles e não o contrário.

Esta pesquisa foi publicada na Nature.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.