Por vários editores
Publicado no Rare Historial Photos e no Space Answers
Orbitando acima da Terra em abril de 1967, o cosmonauta soviético Vladimir Komarov estava sentado na cápsula espacial soviética Soyuz 1, com a certeza de que morreria naquele dia. O combustível estava baixo, a construção da aeronave estava abaixo da média e, mal sabia ele, os paraquedas na embarcação de pouso estavam com defeito.
Vladimir Mikhaylovich Komarov nasceu em Moscou, em 16 de março de 1927. Ele treinou e se qualificou como engenheiro antes de ser selecionado para o primeiro grupo de cosmonautas em 1960. Apesar de ser registrado duas vezes como incapaz de voar quando fazia parte do programa espacial soviético, ele não desistiu. Finalmente, teve sua primeira viagem para o espaço a bordo da Voskhod 1, em 12 de outubro de 1964. Este foi o sétimo voo espacial tripulado soviético e a primeira espaçonave da história da humanidade a colocar mais de um tripulante em órbita; Komarov viajou com dois cosmonautas civis Konstantin Feoktistov e Boris Yegorov, todos os três substituindo a tripulação anterior supostamente porque a mãe do ex-piloto de comando era judia, o que era muito desaprovado pelos soviéticos.
Durante a comemoração do 50° aniversário de fundação da URSS, Leonid Brezhnev, então líder da União Soviética, decidiu organizar um encontro espacial espetacular entre duas naves espaciais soviéticas. O plano seria lançar dois veículos espaciais ao espaço para os mesmos executarem uma performance dramática, onde seria feito um acoplamento orbital que permitiria que os cosmonautas deslocassem-se entre as duas naves. A primeira cápsula a ser lançada seria a Soyuz 1, com Komarov dentro. No dia seguinte, um segundo veículo decolaria com mais dois cosmonautas; os dois veículos se encontrariam, acoplando-se um ao outro. Komarov iria se deslocar para outra nave, trocando de lugar com um colega e voltaria para casa na segunda nave. Brezhnev deixou bem claro que queria que isto acontecesse.
Komarov foi escolhido para comandar a Soyuz 1, em 1967, com Yuri Gagarin como seu cosmonauta de apoio. Ambos sabiam que a cápsula espacial não era segura para voar, mas todos do Programa Espacial estavam aterrorizados com a reação de Brezhenev diante de um possível adiamento e/ou cancelamento da missão. Komarov disse a seus amigos saber que provavelmente morreria. Ele decidiu seguir em frente com a missão de salvar Yuri, mas antes de partir, seu desejo final era que seu funeral tivesse um caixão aberto para que os engenheiros e a liderança soviética pudessem ver seus restos mortais.
Com a aproximação da data de lançamento, todos estavam cada vez mais pessimistas. Haviam graves problemas que tornavam a nave perigosa para voar. Os pré-voos de teste foram bem perturbadores, os técnicos que inspecionaram a Soyuz 1 tinham encontrados 203 problemas em sua estrutura. Uma atmosfera de mau presságio prevalecia no cosmódromo. Gagarin apresentou-se a todo vapor para o lançamento e tentou convencer a equipe a deixá-lo pilotar no lugar de Komarov, mas a tripulação (incluindo Komarov) se recusou a deixar isso acontecer. Komarov embarcou na nave, quase certo de que provavelmente morreria. Oito minutos depois estava em órbita pilotando uma das naves espaciais mais sofisticadas já lançadas até então.
A missão saiu da Terra sem problemas, mas quando a cápsula Soyuz 1 chegou no espaço, um dos painéis solares da Soyuz não se desdobrou, impossibilitando o funcionamento de alguns equipamentos de navegação. Outras falhas ocorreram nesse mesmo dia. A primeira tentativa de alterar a órbita da nave foi insatisfatória. A nave começou a girar em torno de seu próprio eixo, e girou ainda mais quando Komarov tentou corrigir o problema. O sistema de controle térmico estava danificado, a comunicação com o solo tornou-se irregular e a falta de energia elétrica impediu o funcionamento do sistema de orientação espacial. Vendo todos esses problemas, o controle da operação em terra decidiu cancelar o lançamento da Soyuz 2 e trazer Komarov de volta o mais rápido possível.
Komarov tentou sem sucesso orientar o módulo da Soyuz por cinco horas. A nave estava transmitindo informações de status não confiáveis e a comunicação acabou sendo perdida. Usando procedimentos que ele nunca havia praticado em treinamento, Komarov conseguiu alinhar a nave e disparar os retrofoguetes. Apesar dos seus esforços heroicos para salvar a missão, o pior estava por vir.
Ele conseguiu reentrar na atmosfera da Terra em sua 19° órbita, mas como a cabine estava descendo através da atmosfera, o paraquedas de desaceleração reserva acabou desprendendo-se de seu lugar, embora o paraquedas principal tenha permanecido em sua acomodação. Quando o paraquedas reserva saiu, emaranhou-se na pista de saída do paraquedas principal, impossibilitando seu acionamento. Komarov ficou desamparado dentro da cápsula e, nas primeiras horas de 24 de abril de 1967, a Soyuz 1 aterrissou perto da fronteira entre a Rússia e o Cazaquistão e matou instantaneamente seu solitário membro da tripulação. Quando as equipes de resgate da Força Aérea Soviética chegaram ao local tudo que encontraram foi mental flamejante. A borda do topo da nave foi a única coisa reconhecível no cenário de destruição.
Há muita controvérsia em torno dos momentos finais de Komarov. Alguns relatos dizem que ele permaneceu calmo e concentrado enquanto se comunicava com o controle do solo enquanto caía em direção à Terra. Outros, no entanto, sugerem um fim muito mais terrível, em que Komarov é ouvido gritando de raiva por seus superiores por tê-lo colocado em uma espaçonave que estava destinada a falhar desde o início. Na verdade, as transcrições de áudio de seus momentos finais sugerem que ele estava ao mesmo tempo angustiado e em pânico, pois ficou evidente que seu retorno à Terra seria fatal. O primeiro-ministro soviético Alexei Kosygin realizou uma vídeo-chamada para dizer que ele era um herói. A esposa de Komarov também estava na chamada. Kosygin chorava.
É provável que essa história, como tantas do programa espacial soviético, esteja sempre envolta em mistério. A morte de Komarov teve um efeito profundo em seus colegas cosmonautas, particularmente em Yuri, profundamente deprimido pelo fato de não ter conseguido convencer Brezhnev a cancelar o lançamento de Komarov. Gagarin morreu menos de 1 ano depois na queda de um avião de combate. Um memorial no local do acidente da Soyuz 1 fornece um legado duradouro para Vladimir Komarov, a primeira vítima humana da exploração espacial, mas cujos esforços nos permitiram continuar alcançando as estrelas.