Por Paul Pattom
Publicado na Universe Today
É provável que o nível humano de inteligência e tecnologia seja mais evoluído do que em outros mundos? Se sim, quais tipos de sistemas cognitivos e sensoriais os extraterrestres podem ter? Esse foi o tema da palestra “A Inteligência do SETI: Cognição e Comunicação na Inteligência Extraterrestre”, realizada em Porto Rico, dia 18 de maio de 2016. A conferência foi patrocinada pelo recentemente formado METI International (Messaging to ExtraTerrestrial Intelligence). Uma das principais metas do instituto é construir uma comunidade interdisciplinar de estudiosos preocupados em desenvolver mensagens interestelares que possam ser entendidas por mentes não-humanas.
Até agora, as únicas pistas que nós temos sobre a natureza da mente e da percepção extraterrestre são aquelas conseguidas por estudos cuidadosos sobre a evolução da mente e percepção aqui na Terra. A palestra incluiu nove palestrantes de universidades americanas e suecas, especializados em biologia, psicologia, linguística e ciência cognitiva. Ela teve sessões sobre a evolução da cognição e as possíveis capacidades comunicativas e cognitivas dos extraterrestres.
Doug Vakoch, um psicólogo fundador e presidente do METI International, diz que astrônomos e físicos se preocupam muito com tecnologias necessárias para detectar inteligência alienígena. Entretanto, encontrar e se comunicar com alienígenas pode requerer atenção para a evolução e possível natureza dessa inteligência. “A parte mais animadora dessa palestra”, Escreveu Vakoch, “é que os palestrantes estão dando orientações concretas sobre como aplicar conhecimentos da biologia e linguística básica para construir mensagens interestelares”. Neste primeiro artigo sobre a conferencia, focaremos se evolução de sociedades tecnológicas em outros planetas é comum ou rara.
Nós sabemos que a maioria das estrelas têm planetas, e que planetas rochosos parecidos ou maiores que a Terra ou Vênus são comuns. Nessa abundante possibilidade de mundos, é provável que existem dezenas de bilhões com condições viáveis para sustentar água em estado líquido em suas superfícies somente em nossa galáxia. Nós ainda não sabemos quão comum é a vida surgir nesses planetas. Mas supondo, como vários cientistas suspeitam, que a vida simples é abundante, quão provável é que civilizações alienígenas aparecerão; civilizações que pudessem se comunicar e trocar ideias, e que pudessem fazer sua presença conhecida por nos através de sinais emitidos no espaço? Essa foi a questão central explorada na conferência.
Ao abordar tais questões, cientistas tem dois principais conjuntos de pistas para se basearem. A primeira vem de um estudo sobre a enorme diversidade de comportamentos e sistemas nervosos e sensoriais dos animais que habitam a Terra; um campo que tem sido chamado de ecologia cognitiva. O segundo conjunto de pistas vem do princípio central da biologia moderna; a teoria da evolução. A teoria evolucionista pode prover explicações cientificas sobre como e porque vários sistemas cognitivos e sensoriais vieram a existir na Terra, e pode guiar nossas expectativas sobre o que pode existir em outro lugar.
Os fundamentos da sinalização eletroquímica que fazem o sistema nervoso possível têm raízes profundas raízes evolutivas. Até mesmo as plantas e bactérias tem sistemas de sinalização eletroquímicos que compartilham algumas funções básicas com aquelas no nosso cérebro. A palestrante Dra. Anna Dornhaus, da Universidade do Arizona, estuda como insetos sociáveis tomam decisões em conjunto Ela define a habilidade cognitiva como a habilidade de resolver problemas com o sistema nervoso, e as vezes através da cooperação social. Um animal é mais “inteligente” se suas habilidades de resolver problemas são mais generalizadas. Definida dessa forma, a inteligência é muito difundida entre os animais. Habilidades tradicionalmente acreditadas serem exclusivas de primatas, se mostraram agora extremamente comuns.
Por exemplo, habilidades cognitivas como o aprendizado social, geradas através de exemplos, uso de ferramentas, reconhecimento de sua própria espécie, fazer planos, e entender relações espaciais, tiveram sua existência comprovada em artrópodes (grupo de animal que consiste em insetos, aracnídeos, e crustáceos). A evidencia mostra o poder surpreendente de cérebros diminutos de insetos, e indica que nós sabemos muito pouco sobre a relação entre o tamanho dos cérebros a habilidade cognitiva.
Mas animais diferentes geralmente tem diferentes tipos de habilidades cognitivas, e se uma espécie é boa um tipo de habilidade, isso não significa que ela será boa em outras. Seres humanos são especiais, não somente porque nós temos algumas habilidades cognitivas que em outros animais são escassas, mas porque grande parte de nossas habilidades são mais desenvolvidas do que em outros animais.
Apesar que a Terra, como um planeta, tem existido por cerca de 4,6 bilhões de anos, animais complexos não apareceram em recordes de fósseis até 600 milhões de anos atrás, e a vida complexa não apareceu até 400 milhões de anos. Olhando ao reino animal por inteiro, três grupos de animais, seguindo diferentes caminhos evolutivos, tem evoluído sistemas nervosos e comportamentos especialmente complexos. Nós já mencionamos os artrópodes, e os comportamentos sofisticados mediados por seus pequenos, porem poderosos cérebros.
Moluscos, um grupo de animais que inclui lesmas e crustáceos, deram origem a um grupo de animais com cérebro, os cefalópodes, nesse grupo estão os polvos e as lulas. Os polvos têm o mais complexo sistema nervoso dentre os animais invertebrados. Como produto de um caminho evolutivo diferente, o cérebro sofisticado dos polvos tem uma estrutura completamente diferente dos animais com coluna vertebral.
O terceiro grupo com cérebros sofisticados são os vertebrados; os animais com coluna vertebral. Ele inclui peixes, anfíbios, repteis, pássaros, e mamíferos, incluindo os seres humanos. Apesar de todos os cérebros vertebrados terem uma semelhança de família, cérebros complexos evoluíram a partir de cérebros mais simples muitas vezes separadas ao longo de diferentes caminhos da evolução dos vertebrados, e cada um deles tem suas próprias características.
Ao longo do caminho, pássaros evoluíram um prosencéfalo sofisticado, e com isso, a capacidade flexível e criativa de criar e utilizar ferramentas, habilidade de classificar e organizar objetos, e até a capacidade rudimentar de entender números. Seguindo um diferente caminho, e baseado em diferentes estruturas do prosencéfalo, mamíferos também desenvolveram inteligência sofisticada. Três grupos de animais; elefantes, cetáceos (grupo de animal de inclui os golfinhos, botos e baleias), e primatas (macacos e símios, incluindo os seres humanos) desenvolveram os cérebros mais complexos da Terra.
Dadas as evidencias que a habilidades inteligentes de resolução de vários tipos de problemas se evoluiu várias vezes, ao longo que diversos caminhos evolutivos, uma quantidade fantástica de grupos de animais, com isso, pode-se suspeitar que Dornhaus acredita que as habilidades cognitivas dos humanos e civilizações são comuns do Universo. Na verdade, não. Ela acha que os humanos com suas exageradas habilidades cognitivas e de compreensão de língua para expressar tipos complexos e inovadores de informação são acasos incomuns da evolução, e podem, até onde sabemos, ser bem improváveis. Seu argumento que civilizações alienígenas são provavelmente não tão comuns assemelha-se a um indicado pelo eminente e influente biólogo evolucionista americano, Ernst Mayr em 1988 em seu livro Toward a New Philosophy of Biology.
Atualmente, há mais de 10 milhões de espécies de animais na Terra. Todas menos uma falharam em desenvolver o nível humano de inteligência. Isso faz com que as chances de desenvolver a inteligência humana são menores que 10 milhões. Ao longo dos últimos seiscentos milhões de anos desde que a vida complexa apareceu na Terra, existiram dezenas de milhões de espécies animais diferentes, cada uma existis indo cerca de 1-10 milhões de anos. Mas, até agora, apenas uma delas, Homo sapiens, produziram uma sociedade tecnológica. A linhagem humana divergiu-se de outras espécies de grandes símios há cerca de 8 milhões de ano, mas nós não vemos evidencias de inovações distintas da espécie humana até cerca de 50.000 anos atrás, o que é, talvez, outro indicativo de raridade.
Apesar da aparente improbabilidade da inteligência ao nível humano evoluir outra linhagem, a Terra, como um todo, tem uma vasta gama de linhagens evolutivas, no entanto, produziu uma civilização tecnológica. Mas isso ainda não nos diz muito. Para o presente, a Terra é o único planeta habitável que nós conhecemos. E, já que a Terra nos produziu, estamos trabalhando com uma amostra tendenciosa. Então nós não podemos ser completamente confiantes de que a presença de humanos na Terra implica a existência de civilizações parecidas em outros lugares.
Até onde sabemos, o conjunto peculiar de eventos que produziram os seres humanos pode ser tão tremendamente improvável que a civilização humana é única em cem bilhões de galáxias. Mas nós também não temos certeza se as civilizações alienígenas ]são totalmente improváveis também. Dornhaus admite abertamente que nem ela nem ninguém tem uma boa ideia de quão improvável inteligência humana pode ser, uma vez que a evolução da inteligência ainda é tão mal compreendida.
A maior parte pensamento evolucionário atual, seguindo os passos de Mayr e outros, sustenta que a civilização humana não era um produto inevitável de uma tendência evolutiva de longo prazo, mas sim a consequência peculiar de um conjunto particular e improvável de eventos evolutivos. Que tipo de eventos foram aqueles, e quão improvável eles foram? Dornhaus suporta uma teoria popular proposta pelo Dr. Geoffrey Miller, um psicólogo evolucionário que é um professor associado do Departamento de Psicologia da Universidade do Novo México e que também falou no seminário instituto METI.
Em nossa próxima edição vamos explorar teorias de Miller pouco mais detalhadas, e veja porque a abundância de civilizações extraterrestres pode depender ou não se alienígenas consideram cérebros sexy.