Traduzido por Julio Batista
Original de Peter Dockrill para o ScienceAlert
Mapas geralmente existem com o propósito de mapear paisagens conhecidas. Em tempos de crise, porém, os mapas daquilo que é desconhecido podem ser um recurso igualmente vital.
Esse é o pensamento por trás de um novo esforço científico para mapear todos os lugares da Terra onde as espécies desconhecidas têm maior probabilidade de viver hoje.
No cenário da crise da biodiversidade mundial – na qual estamos perdendo espécies conhecidas e presumivelmente desconhecidas em um ritmo alarmante – essa cartografia especulativa pode experimentar nossa melhor e única chance de documentar, classificar e possivelmente salvar animais antes que eles sejam permanentemente entregues a extinção, alertam cientistas.
“Estimativas conservadoras sugerem que apenas 13 a 18 por cento de todas as espécies vivas são conhecidas neste momento, embora esse número possa ser tão baixo quanto 1,5 por cento”, explicam pesquisadores da Universidade Yale (EUA) em um novo estudo.
“Sem inclusão dessas pautas na tomada de decisões de conservação e em compromissos internacionais, essas espécies [não descobertas] e suas funções podem ficar para sempre perdidas na ignorância.”
Para resolver essa ‘deficiência de biodiversidade’, os ecologistas Mario Moura e Walter Jetz criaram um modelo extrapolando onde espécies desconhecidas de vertebrados terrestres podem existir hoje, com base em fatores biológicos, ambientais e sociológicos associados aos mais de 32.000 vertebrados terrestres conhecidos pelos biólogos.
“As chances de serem descobertas e descritas precocemente não são iguais entre as espécies”, disse Moura, que foi coautor do estudo enquanto trabalhava como pós-doutorando no laboratório de Jetz e agora é professor da Universidade Federal da Paraíba.
Em suma, é improvável que animais grandes com ampla distribuição geográfica tenham muitos parentes que ainda não conhecemos. Em contraste, pequenos animais que habitam fendas minúsculas ou inacessíveis na paisagem podem ser responsáveis por populações de vertebrados não descobertos que nunca foram categorizados na árvore da vida.
“Temos a tendência de descobrir primeiro o ‘óbvio’ e depois o ‘obscuro’”, disse Moura. “Precisamos de mais financiamento para que os taxonomistas encontrem as espécies ainda não descobertas.”
De acordo com o modelo dos pesquisadores – que a equipe reconhece ser impreciso, dada a natureza das estimativas – anfíbios e répteis são provavelmente os animais desconhecidos mais abundantes hoje entre os vertebrados terrestres.
Espera-se que o Brasil, Indonésia, Madagascar e Colômbia contenham as espécies de vertebrados mais desconhecidas, potencialmente representando um quarto de todas as descobertas futuras, com ambientes de florestas latifoliadas tropicais úmidas em geral responsáveis por cerca de metade das incógnitas.
Dito isso, só descobriremos qualquer uma dessas criaturas no futuro se acelerarmos nossa busca – e não apenas de vertebrados, mas também de espécies vegetais, marinhas e invertebradas, que são as próximas na lista dos pesquisadores.
Muitos pesquisadores dizem que a chamada 6ª extinção em massa já está sobre nós e não seremos capazes de ajudar esses animais se eles morrerem antes de nós os encontrarmos.
“Após séculos de esforços por exploradores da biodiversidade e taxonomistas, o catálogo da vida ainda tem muitas páginas em branco”, escrevem os autores.
“Estender a abordagem apresentada a outros táxons tem o potencial de apoiar iniciativas de pesquisa taxonômica que ajudam a acelerar a descoberta antes que as espécies se percam para sempre.”
As descobertas são relatadas na Nature Ecology & Evolution, e você pode acessar uma versão interativa do mapa das espécies não descobertas aqui.