Tradução parcial do artigo Ancient Atomism da Stanford Encyclopedia of Philosophy.
Uma série de importantes teóricos da antiga filosofia natural grega considerou que o Universo é composto por “átomos físicos”, literalmente “indivisíveis”. Alguns desses pensadores são tratados de forma mais profunda em outras partes da Stanford Encyclopedia of Philosofy; fica a cargo do leitor procurar mais sobre nomes como Leucipo, Demócrito, Epicuro e Lucrécio. Estes filósofos desenvolveram uma filosofia natural sistemática e abrangente representando as origens de tudo, desde a interação dos corpos indivisíveis, como os átomos – que possuem apenas algumas características intrínsecas, como tamanho e forma – que se chocam um contra o outro, rebatem e percorrem um vazio infinito. Os atomistas com a Filosofia Natural evitaram as explicações teológicas e negaram a intervenção ou projeto divino; considerando cada composto de átomos produzido exclusivamente de interações materiais de corpos e as propriedades percebidas dos corpos macroscópicos como produzidas por essas mesmas interações atômicas. Os atomistas formularam pontos de vista sobre ética, teologia, filosofia política e epistemologia coerentes com esse sistema físico. Essa forma de materialismo consistente, que carregou algumas modificações de Epicuro, foi considerada por Aristóteles como uma forte concorrente à Filosofia Natural Teleológica.
Desde o começo, o adjetivo grego “átomo” significa “indivisível”. A história antiga do atomismo não se resume em apenas uma teoria sobre a natureza da matéria, mas também da ideia que existem partes indivisíveis em qualquer escala de magnitude – geometria, tempo, etc. Embora o termo “atomismo” seja comumente relacionado aos sistemas de filosofia natural mencionados acima, os estudiosos também identificaram compromissos com as “questões indivisíveis” em questões menos evidentes. Muitas vezes, essas questões são formuladas em resposta ao Paradoxo de Zenão sobre a divisibilidade infinita de magnitudes. Há relatos de outras vertentes, porém chegam a ser controversas e não mencionadas.
Atomismo e Teoria das Partículas na Ciência
Algumas figuras envolvidas com Ciências Naturais, especialmente a Medicina, são pensadas para tomar a consideração de que os corpos orgânicos são compostos por algum tipo de partícula. Os detalhes sobre esse ponto de vista são muitas vezes obscuros. Galen, em On the Natural Faculties, divide os pontos teóricos médicos em dois grupos, após a divisão dos Filósofos Naturais. De um lado temos os “teóricos do contínuo”, que alegam que toda matéria é infinitamente divisível, mas que toda matéria está sujeita a geração e corrupção, além de ser suscetível a alteração qualitativa. Por outro lado, há quem defenda que a matéria é composta por pequenas partículas, imutáveis e separadas por um espaço vazio, e explique que as mudanças qualitativas são presentes apenas em corpos compostos por arranjo de partículas. Na visão de Galen, a alteração qualitativa é necessária para produzir os “poderes” que a Natureza desprende: Galen credita o primeiro grupo.
As teorias de Heráclides do Ponto e Asclepíades de Bitínia são por vezes comparadas ao atomismo. Ambos – um aluno de Platão e um teórico médico – postularam a existência de corpúsculos, os quais foram chamados de anarmoi onkoi , ou seja, uma espécie de “massas”, mas o significado preciso é contestado. Erasístrato de Chio foi um dos grandes anatomistas do século III a.C., é outro daqueles que Galen sugere poder ter sido atomista, apesar de sua aceitação de design na natureza. Erasístrato tinha postulado que os tecidos do corpo são compostos por uma trança tripla de veia, artéria e nervo: Galen relata que mesmo o tecido do nervo é constituído por esta pequena trança. Ele afirma que os “Erasistrateans” estão divididos quanto ao tecido nervoso elemental ser uma massa contínua ou ser composto de pequenas partículas, como as dos atomistas.
Um dos escritores mais proeminentes sobre mecânica na Antiguidade, Hero de Alexandria, é frequentemente considerado atomista. Na introdução de Pneumatica, ele descreve a matéria como composta de partículas com espaços entre elas. No entanto, sua consideração de efeitos pneumáticos que envolvem a compressão parece depender da deformação de partículas elásticas que podem ser comprimidas artificialmente, mas podem retornar à sua forma original. Se assim for, a sua consideração nega um princípio fundamental do atomismo clássico, que os átomos não mudam em suas propriedades intrínsecas, como a forma.