Quando Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a orbitar a Terra em abril de 1961, ele levou séculos de sonhos e esperanças para o espaço com ele. Haviam se empenhado muito para imaginar a extensão além dos céus da Terra, com sua escala incompreensível e a promessa de uma nova fronteira para a exploração humana.
Mas quando Gagarin chegou em terra firme, tudo parecia diferente, notava-se que o que lhe afetou mais, não era a grande espetáculo do universo fora do nosso planeta, mas sim o ponto de vista da Terra. “Circundando a Terra na minha nave espacial, fiquei maravilhado com a beleza do nosso planeta”, observou ele após a sua histórica viagem.
Tomado por uma emoção própria, o depoimento de Gagarin sobre beleza da Terra foi atribuído à sua personalidade na época… Mas ao longo das décadas, como centenas de pessoas seguiram a sua façanha no espaço e retornarem para contar suas histórias, um padrão começou a emergir. Independentemente das diferenças de nacionalidade, sexo, ou visão de mundo, os astronautas geralmente relatam sentimentos de conscientização e profundo êxtase ao observar a Terra de um ponto tão distante. Este fenômeno tornou-se conhecido como efeito visão geral.
“A experiência real supera todas as expectativas e é algo que é difícil de colocar em palavras”, lembrou Anousheh Ansari que subiu ao espaço em uma nave russa, para uma estadia de nove dias a bordo da Estação Espacial Internacional, a primeira mulher turista a visitá-la.
“Nosso objetivo sempre foi à lua. Nos nem imaginávamos olhar para trás, para a Terra. Mas agora que olhamos isso possivelmente terá sido o motivo mais importante de termos ido”. Depoimento de um astronauta que estava abordo do Apollo 11.
Os seres humanos têm um hábito bem desagradável de apressar-se em grandes aventuras antes de pensar através dos resultados, ou chegar a um consenso inviável sobre os nossos objetivos em comum. Repetimos muitos dos mesmos erros através do tempo e em todos os lugares. Muitos que realizaram o voo espacial oferecem um poderoso antídoto para esses comportamentos autodestrutivos, porque durante nossa posição cósmica na orbita temos um olhar diferente e complexo, e por isso inspira grande respeito por nosso planeta e seus habitantes. Talvez seja o pontapé motivacional na bunda que a nossa espécie necessita para se salvar da extinção e embarcar em viagens fora do nosso planeta natal. Vários astronautas do programa Apollo sugeriram especificamente que os líderes mundiais devem viajar para a órbita ou a Lua para ter alguma perspectiva sobre os territórios que gerem.
Em termos gerais, os viajantes espaciais relatam sentimentos de transcendência, euforia, e unidade de conciliação com o planeta e seus habitantes. Muitos citam a riqueza fascinante de cores exuberantes da Terra, ou da evidente falta de fronteiras artificiais. As tempestades marítimas no horizonte sendo moldadas pelas sombras na medida em que o sol se põe. Assistir a terra parecer viva, ver as luzes das cidades, voar sobre tempestades de raios, ver lá de cima é espetacular, como um show de fogos de artificio vistos por cima. Estrelas cadentes passando abaixo da nave, das cortinas dançantes das auroras… É difícil de descrever todas as cores, a beleza, o movimento… Os astronautas podem sentir-se permanentemente mudados, decretando modificações ao longo da vida para os seus hábitos e perspectivas quando eles retornam para o planeta.
Às vezes, os astronautas se sentem tons de tristeza, ansiedade ou medo quando olham para a Terra, embora essas emoções amplifiquem a sensação geral que o nosso mundo é bonito, precioso, e digno de preservação.
Ao mesmo tempo, o efeito visão geral permanece abstrata e incompreensível para a grande maioria da população. Nossa experiência vivida diariamente como habitantes da superfície faz com que seja difícil para nós perceber o nosso planeta como um mundo finito com recursos limitados.
O foco das viagens espaciais sempre foi “às estrelas” e de repente nossos olhares se voltam para nos mesmos, como um agressor olhando sua vitima face a face, um espelho colocado em nossa frente, podemos dizer que chega a ser poético.
O termo e conceito foram cunhado em 1987 por Frank White, que os explorou em seu livro The Overview Effect — Space Exploration and Human Evolution.